O paciente e o fenômeno da demanda por cura imediata

O processo de tratamento, de qualquer doença, envolve múltiplas esferas, cujo caminho é orientado pelos médicos, mas deve ser seguido pelos pacientes

Karolina Grabowska/Pexels
(foto: Karolina Grabowska/Pexels)

Há algum tempo venho refletindo e discutindo com alguns colegas como a demanda por respostas imediatas dos pacientes vem crescendo. O contexto se repete com frequência: o paciente comparece ao pronto socorro/consultório ou ambulatório com uma queixa de dor com a expectativa de deixar o ambiente de atendimento 100% melhor. Mas, isso é possível?

Aprendi desde muito cedo com meu pai que, no sacerdócio da medicina, somos capazes de curar de vez em quando, aliviar o sofrimento às vezes, mas acalentar o doente sempre. É óbvio que meu desejo como médico seria curar as pessoas de maneira fácil, rápida e efetiva, prescrevendo algo que, ao mínimo contato com o trato gastrointestinal, traria exatamente a cura que o paciente procura. Mas infelizmente, e isso a prática da medicina é mestre em ensinar dia após dia, esse tipo de tratamento está associado mais ao charlatanismo e à magia.

A medicina de qualidade, mais arte que ciência por assim dizer, é feita com o toque, com a palavra e com os ouvidos. De verdade: o diagnóstico clínico em muitas situações supera muito qualquer exame complementar, de imagem ou laboratorial. "Mas você não vai pedir nenhum exame, doutor?", ouço as vezes. "Não, no seu caso específico, toda a conversa que tivemos e todo o tempo que eu te examinei me fornece muito mais informação para seu diagnóstico e tratamento do que qualquer laudo impresso", procuro responder.

Falo com certa frequência aos meus pacientes: medicina não é uma ciência exata e está muito mais próxima a área das humanas do que das biológicas. Não existe cura nem resposta mágica para a complexidade dos nossos problemas.

O processo de tratamento, de qualquer doença, envolve múltiplas esferas, cujo caminho é orientado por nós, médicos, mas deve ser seguido por vocês, pacientes. O que quero dizer com isso é que, em última instância, o maior responsável pela cura é o indivíduo que padece com alguma enfermidade. É ele quem decidirá se submeter a uma cirurgia ou não, tomar um remédio ou não, repousar ou não, ter paciência ou não.

PA-CI-ÊN-CIA, ela ainda existe? O processo de melhora da maioria das doenças é lento, leva dedicação, resiliência, força e resistência. Novamente: não tem mágica nessa história. Nesse caminho longo (e aqui entramos), conte com nós, médicos, para te ouvir, saber o que está indo bem, o que não está e corrigir algum desvio de percurso.