O câncer de colo uterino interfere na fertilidade?

Conheça os sintomas e tratamentos possíveis; mulheres sem filhos e com a doença precisam consultar um médico para melhor decisão

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(foto: vencerocancer.org.br)

Semana passada, falamos sobre prevenção de câncer de colo uterino. Vimos que existem duas formas de prevenção: primária e secundária. A primária é feita por meio da vacinação contra o HPV. A secundária é por meio do exame Papanicolaou. Tanto para lesões pré-cancerígenas quanto para lesões oncológicas, o diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para o sucesso no tratamento.


Os primeiros sintomas de câncer de colo uterino podem ser: sangramento vaginal anormal, spotting (sangramento vaginal entre as menstruações), corrimento vaginal, sangramento vaginal após relação sexual. Quadros de doença avançada podem causar dor pélvica, problemas para urinar e inchaço nas pernas.

O diagnóstico de câncer de colo uterino é realizado através do exame físico ginecológico. O colo uterino é avaliado através do espéculo vaginal, mesmo instrumento usado para realizar a coleta do exame de Papanicolaou. A realização do exame de Papanicolaou é rápida: são coletadas células do colo e canal uterino por meio de uma escova e espátula. Essas células são condicionadas em um líquido especial para preservá-las e encaminhadas para análise em laboratório.


Diante de um exame preventivo alterado, há necessidade de exames adicionais para definir se há uma lesão pré-cancerígena ou câncer. Em alguns casos, há necessidade de se repetir o exame preventivo. Em outros, há necessidade da coleta de biópsia (um pedaço do tecido) do colo do útero para análise através da colposcopia (exame do colo do útero com microscópio). Células pré-cancerígenas precisam ser retiradas por meio de cirurgia no colo do útero. O acompanhamento após a cirurgia precisa ser regular até a conclusão do tratamento.


Uma vez que se chega ao diagnóstico de câncer de colo de útero, o médico irá avaliar o tamanho da lesão cancerígena e sua extensão para outros órgãos. Essa análise pode ser feita através de uma série de testes, incluindo:


- Exame físico da pelve (quadril) da mulher: além do exame do canal vaginal com espéculo vaginal, são realizados toque vaginal e retal. No exame, o médico pode avaliar se há acometimento do útero, ovários e outros órgãos e estruturas próximas ao colo uterino.
- Cistoscopia: exame em que uretra e bexiga são analisadas por dentro, através de uma câmera;

Colonoscopia: exame em que o cólon (parte do intestino) é analisado por dentro, através de uma câmera.

 

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O objetivo desses exames é realizar o estadiamento do câncer de colo de útero. Isso significa descobrir o quanto o câncer espalhou no organismo e para onde. Existe uma classificação do estadiamento, de acordo com recomendações da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) que vai de I a IV. De forma prática, quanto menor o estadiamento, menos o câncer se espalhou.


Uma vez estabelecido o estadiamento, podemos definir qual o melhor tratamento está indicado. Algumas pacientes podem necessitar de um ou mais tipo de tratamentos que podem ser:


- Cirurgia: retirada cirúrgica do útero, colo do útero, porção superior da vagina, ligamentos uterinos, linfonodos da pelve; ovários podem ser retirados dependendo do tipo de câncer do colo do útero. A abordagem cirúrgica pode ser via laparotomia (com incisão abdominal), videolaparoscópica ou cirurgia robótica, dependendo da indicação e experiência da equipe de cirurgia;

- Quimioterapia;

- Radioterapia.


Mulheres grávidas que têm diagnóstico durante a gestação serão tratadas de acordo com o estadiamento e tempo de gravidez em que se encontrarem. Aquelas mulheres que nunca tiveram filhos e são diagnosticadas com câncer de colo uterino precisam conversar com seu médico sobre a possibilidade de manter a fertilidade.


Segundo a Dra. Laura Maia, médica ginecologista e infertileuta (especialista em reprodução assistida) da clínica Pró Criar Medicina Reprodutiva, as possibilidades de preservação da fertilidade variam de acordo com o estadiamento da doença e da presença de relacionamento estável. Mulheres solteiras devem ser orientadas sobre o congelamento de óvulos, já as mulheres em relacionamentos estáveis, podem optar pelo congelamento de óvulos e/ou embriões.


Em dezembro de 2019, a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva publicou recomendação sobre o congelamento de tecido ovariano como opção de preservação de fertilidade para mulheres em tratamento oncológico, que sejam pré-adolescentes ou que estejam em fase avançada da doença, sem tempo hábil para estimulação ovariana e coleta de óvulos. A transferência do embrião pode ser feita em uma mulher cedente do útero temporário, que deve ser parente até 4° grau de um dos parceiros – técnica chamada de útero de substituição, mas também conhecida como “útero solidário". Ambos os cenários – diagnóstico de câncer de colo de útero durante a gravidez e em mulheres sem filhos ou que já tenham prole definida – são dramáticos e requerem cuidado e apoio multidisciplinar.


Após tratamento inicial, o exame ginecológico deverá ser feito com mais frequência nos primeiros anos, afim de se ter a certeza de que todas as células cancerígenas foram retiradas. Mesmo que o colo do útero tenha sido retirado através de cirurgia, você pode precisar realizar esse rastreamento.


Pacientes com câncer de colo uterino avançado e sem condições de tratamento ou com tumor que não responda ao tratamento realizado podem realizar tratamento paliativo. O objetivo é dar conforto, em acolhimento multidisciplinar, para amenizar dor e sofrimento da paciente e seus familiares. Felizmente, com a instituição da vacina contra o HPV e adequado rastreamento, a tendência mundial é que esses casos sejam menos frequentes.

E você? Está com os exames e a vacina – se indicada – em dia?

Tem alguma dúvida? Escreva para mim: rogeriawerneck@gmail.com