Filho se chama pelo nome

Reconhecer o próprio nome nos primeiros meses de vida é importante para o desenvolvimento da linguagem e diagnóstico de problemas

por Valéria Mendes 25/04/2013 08:00

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Cláudia Ferreira de Almeida é mãe de Davi. Ela conta que o exame de audiometria foi uma descoberta sobre um tema a ser observado e que gerou seu interesse imediato e, por isso, resolveu participar da pesquisa (foto: Arquivo Pessoal)

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Como resistir à tentação de adocicar a voz, usar diminutivos e chamar um bebê de um apelido carinhoso? Toda criança merece e precisa se sentir amada, mas já no início da vida é importante que ela se perceba como um ser independente da mãe. O reconhecimento do próprio nome é um dos pilares do desenvolvimento da identidade nos primeiros meses de vida. Pais, mães, irmãos, família, profissionais da saúde, professores e cuidadores são peças fundamentais nesse processo. O nome escolhido ultrapassa a função de identificação e passa a ser uma peça-chave para auxiliar os pequenos, por exemplo, na evolução da linguagem, mas também para diagnosticar possíveis atrasos ou problemas mais sérios.

Uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) feita com 36 bebês de seis e sete meses comprova que por meio da resposta ao chamado do próprio nome é possível obter sinais importantes relacionados à acuidade auditiva, ao estágio do processo de aquisição da linguagem e à presença de transtornos do desenvolvimento como o autismo. “O teste de triagem de autismo faz essa pergunta entre 16 e 30 meses. No de fonoaudiologia, aos nove, mas muito antes disso já se consegue ter uma resposta do bebê”, explica a autora do estudo, a fonoaudióloga Aline Moreira Lucena. Mestre em ciências da saúde com ênfase na criança e do adolescente, ela conta que no piloto da pesquisa conseguiu obter resultados em crianças a partir de quatro meses. “Com essa idade eles reconhecem o som e já dão resposta para o chamado do nome”, afirma.

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"É um teste simples que o médico pode usar no consultório", explica a autora da pesquisa, a fonoaudióloga Aline Lucena (foto: Arquivo Pessoal)
Lucena ressalta que os bebês são mais atentos aos detalhes fonéticos - melodia, ritmo da fala, entonação - que os próprios adultos. “Mostro uma coisa que é nova para os testes de avaliação. Quero que os profissionais de saúde e familiares entendam a importância que se tem chamar o bebê pelo próprio nome, pois facilita a construção da linguagem, da audição e da resposta desse bebê para o ambiente como um todo”, explica. “É um teste simples que o médico pode usar no consultório. Ele chama pelo nome e avalia se a criança vai ter curiosidade em responder ao chamado”.

Responder ao próprio nome – desde que os pais o adotem – é um sinal de que o bebê está interessado pelo outro, que tem audição boa, que entende o som da palavra. “É um passo para a comunicação efetiva. Chamar pelo nome facilita o desenvolvimento da linguagem. Usar apelidos pode gerar um atraso”, afirma a especialista.

O simples ato pode provocar várias respostas dos pequenos: virar a cabeça em sentido à fonte sonora, permanecer atento à fonte sonora, interromper a ação, se acalmar, desviar o olhar em direção ao chamado e parar o choro.

A fonoaudióloga alerta que a partir do sétimo mês, se não há resposta ao estímulo, é importante os pais se atentarem para possíveis falhas no desenvolvimento da criança e buscar estratégias que facilitem a comunicação, além de procurar ajuda de profissionais especializados como fonoaudiólogo, otorrinolaringologista, pediatra, neurologista e psiquiatra infantil.

Desenvolvendo a linguagem
A criança aprende novas palavras a partir das que já conhece. Na prática, funciona assim: o bebê reconhece o som do próprio nome e a partir dessa informação, passa a diferenciá-lo de outras sonoridades. O interesse da criança aumenta em entender o que vem antes ou o que vem depois do que ele já conhece [no caso o próprio nome]. Isso por que a assimilação se dá pela distinção, ou seja, reconhecendo o seu nome, a criança começa a compreender e conhecer outros sons e outras palavras.

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A pesquisa feita com 36 bebês de seis e sete meses comprova que por meio da resposta ao chamado do próprio nome é possível obter sinais importantes relacionados à acuidade auditiva, ao estágio do processo de aquisição da linguagem e à presença de transtornos do desenvolvimento (foto: Arquivo Pessoal)
Assistente administrativo, Cláudia Ferreira de Almeida é mãe de Davi, que hoje está com um ano e um mês. Ela conta que o exame de audiometria – que a criança faz nos primeiros dias de vida – apesar de não ter dado nenhuma alteração, foi uma descoberta sobre um tema a ser observado e que gerou seu interesse imediato. Segundo ela, quando soube da pesquisa desenvolvida na UFMG, decidiu participar para ter a oportunidade de acompanhar esse aspecto do desenvolvimento do filho. “Percebi que ele não tinha problema nenhum e estava dentro dos parâmetros normais. Foi um alívio”, fala. Apesar de a pesquisa ter se encerrado, Cláudia diz que não perdeu a atenção para o tema e sempre consulta a cartilha “O desenvolvimento da linguagem da criança”, elaborada na UFMG.

A pequena Júlia, filha de Eliane Aparecida dos Santos, atualmente desempregada, também passou no “teste da orelhinha”, mas no de reconhecimento de próprio nome, não respondeu como o esperado. Investigada a causa, descobriu-se que a menina estava com acúmulo de cera no ouvido. Aline explica que, embora seja uma barreira contra a entrada de poeira, sujeira, insetos e microorganismos e pode prevenir - até mesmo - alguns casos de otite, a quantidade de cerúmen no ouvido de Júlia era grande e gerou uma perda auditiva - no caso temporária - que gera prejuízos na comunicação da criança. “A compreensão das palavras fica deficitária e em alguns casos a expressão oral também sofre consequências. Fora o desconforto e a dor”, esclarece Aline. A partir do diagnóstico foi iniciado o tratamento.

Arte: Soraia Piva
(foto: Arte: Soraia Piva)