Famoso guia Michelin retira o Le Suquet de sua lista de restaurantes três estrelas da França

Decisão foi a pedido do próprio dono, Sébastien Bras, que diz preferir a liberdade à notoriedade


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REMY GABALDA/AFP %u2013 21/9/17 (foto: REMY GABALDA/AFP %u2013 21/9/17)
Maior referência da gastronomia mundial, o Guia Michelin tomou uma decisão inédita. Na edição que será publicada na próxima segunda-feira (5), o estrelado restaurante Le Suquet, do chef francês Sébastien Bras, não estará presente. A novidade é que o guia optou por não incluí-lo a pedido do próprio chef. Bras manifestou seu desejo de não figurar na lista em setembro, justificando que a decisão foi tomada “em acordo com toda a família”, em decorrência da “tremenda pressão” associada.

Na ocasião, o guia respondeu que uma retirada não poderia ser automática, argumentando que o grupo tem “independência” no momento de atribuir as estrelas e que deveria prestar um serviço aos leitores. Agora, no entanto, voltou atrás. Claire Dorland-Clauzel, integrante do comitê executivo do grupo Michelin, declarou que “parecia complicado incluir no guia um restaurante que claramente indicou que não desejava figurar, que não queria fazer parte da grande família de estrelas do Michelin”.

O chef, que prometeu que o cliente não notará a diferença no restaurante, afirmou que sair da lista significa liberdade. “Vou me sentir livre, sem perguntar se minhas criações agradam ou não aos inspetores do Michelin. Talvez eu tenha menos notoriedade, mas assumo”, disse Sébastien Bras, que herdou o restaurante de seu pai.

O Le Suquet, na cidade de Laguiole, Centro-Sul da França, integra o clube seleto dos 27 estabelecimentos com três estrelas do país. “Retirar o Le Suquet da lista é uma decisão que não foi fácil, levamos tempo para refletir”, admitiu Claire Dorland-Clauzel, que não acredita que outros chefs sigam os passos de Bras. “Temos mais pessoas que desejam entrar no guia que o contrário. Muitos chefs afirmaram que ser incluído na lista é um reconhecimento, uma honra, um impulso enorme para o estabelecimento, para a notoriedade, para seu volume de negócios”, disse.

O chef disse que as visitas dos inspetores são uma fonte de estresse. “Somos inspecionados de duas a três vezes por ano. Não sabemos quando. Cada prato que sai pode ser inspecionado. Ou seja, a cada dia, um de nossos 500 pratos pode ser julgado”, explicou Bras. Em sua reflexão, o chef admitiu que como todos os profissionais da gastronomia ele se recorda do suicídio em 2003 do chef três estrelas Bernard Loiseau. “Mas não me sinto desta maneira”, garantiu.

Antes de Bras, vários chefs franceses renunciaram às suas três estrelas, como Alain Senderens, que em 2005 anunciou que não aguentava mais a agonia da perfeição, e Joël Robuchon, que em 1996, quando estava no auge, fechou as portas de seu estabelecimento alegando estresse. Atualmente, no entanto, é o chef com mais estrelas do mundo. Na Espanha, Ferran Adrià fechou seu restaurante três estrelas El Bulli em 2010, alegando que estava cansado de trabalhar 15 horas por dia e a necessidade de buscar outras fontes de inspiração.

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