Síndrome do coração partido e COVID-19

Doença acomete o músculo cardíaco (dilatação e falência), em decorrência do alto nível de estresse emocional vivenciado

Sally Kay/Pixabay
(foto: Sally Kay/Pixabay )

A síndrome do coração partido, ou síndrome de takotsubo, originalmente foi descrita por pesquisadores japoneses no início dos anos 1990. Takotsubo é um tipo de pote de pesca japonês, utilizado na captura de polvo, e deu nome a essa doença porque parte do coração das pessoas que sofrem desse problema fica visualmente parecida com o formato dessa armadilha.

Os sintomas têm como apresentação um quadro clínico com dor precordial, falta de ar, muito sugestivo de infarto agudo do miocárdio. Tem grande predileção por mulheres acima de 50 anos na pós-menopausa, não sendo raro também a sua presença em homens e jovens.

É uma doença que acomete o músculo cardíaco (dilatação e falência), em decorrência do alto nível de estresse emocional vivenciado, quando ocorre liberação de grandes quantidades de adrenalina na corrente sanguínea, causando uma lesão aguda no músculo cardíaco, e levando à sua falência, parcial e muitas das vezes graves, com morte.

Por isso, é conhecida também com o nome de cardiomiopatia induzida por estresse. A característica mais importante é que, quando se realiza o cateterismo cardíaco, as coronárias se mostram isentas de processos obstrutivos.

Um estudo de 2011, coordenado por pesquisadores da Universidade de Arkansas (EUA), identificou o problema em 21.748 pacientes, após vivenciarem catástrofes naturais.

Como a sua principal causa é o alto nível de estresse vivenciado, nesses tempos atuais de pandemia pelo COVID-19, a doença tem aumentado assustadoramente.

Em estudo recente realizado na Cleveland Clinic, centro de referência em cardiologia nos EUA, os casos de síndrome de takotsubo passaram de 1,5 % para 7,8% em pesquisa com 1.914 pacientes, nos meses que estamos vivenciando o terror dessa pandemia, que mais parece uma roleta russa.

As pessoas não estão apenas preocupadas com o fato de elas ou seus familiares adoecerem. Estão lidando com questões econômicas e emocionais, solidão e isolamento.

A Associação Americana de Psiquiatria realizou uma pesquisa, em março de 2020, e mostrou que 36% das pessoas que moram nos EUA acreditam que a COVID-19 teve um impacto grave em sua saúde mental, e 59% acreditavam que havia um impacto grave em seu dia a dia.

Importante nós, médicos, estarmos atentos a essa modalidade de exacerbação do estresse através dessa doença grave, que pode levar à morte, sendo relevante o diagnóstico precoce para um tratamento adequado.

Nunca é tarde para lembrar que, nesses tempos de pandemia, o tratamento dos quadros de transtornos generalizados de ansiedade, cada vez mais frequente, não deve ser postergado, estando o cardiologista habilitado a tratar ou encaminhar esses pacientes com transtornos mentais para colegas especialistas.

Exercício, meditação, contato próximo com familiares e amigos, mantendo distância física, também podem ajudar a aliviar a ansiedade.