Perspectivas para tratar diabetes em pessoas com alto risco cardiovascular

É importante que o cardiologista saiba manusear e ter experiência com as novas drogas que comprovadamente trazem benefícios aos pacientes cardiopatas

Myriams Fotos/Pixabay
(foto: Myriams Fotos/Pixabay)

As modificações no estilo de vida e a metformina permanecem como a primeira linha de tratamento do diabetes mellitus tipo 2 (DM2), segundo o consenso da ADA (American Diabetes Association) e da EASD (European Association for the Study of Diabetes). Essas duas sociedades atualizaram recentemente as diretrizes sobre o manejo da hiperglicemia em diabetes tipo 2 (DM2).

Um novo e importante critério foi acrescido, sobretudo nas condições de alto risco, como doença cardiovascular aterosclerótica, o que quer dizer doença aterosclerótica coronária, periférica, derrame cerebral, insuficiência cardíaca e doença renal crônica. Importante aqui ressaltar que 4 em cada 10 pacientes com DM2 apresentam doença cardiovascular.

Duas novas classes de medicamentos que demonstraram benefícios cardiovasculares e renais em estudos clínicos assumem destaque nessas novas recomendações. Os agonistas do receptor de peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) e os inibidores do cotransportador de sódio-glicose 2 (sodium-glicose cotransporter 2, iSGLT2).

Vamos primeiro declinar o estudo com os agonistas do receptor de GLP-1, que foi o estudo PIONEER 6, que avaliou a semaglutida, administrada por via oral em 3.183 pacientes com DM2 de alto risco cardiovascular, a maior parte com doença cardiovascular estabelecida ou doença renal crônica. No estudo, a semaglutida mostrou-se não inferior a placebo, com relação ao risco de eventos cardiovasculares maiores (morte cardiovascular, infarto do miocárdio ou derrame cerebral). Redução de risco de 21%.

Agora o estudo com os inibidores de SLGT2, que foi o estudo DECLARE-TIMI 58, que alocou 17.160 pacientes com DM2, a maioria sem doença cardiovascular pregressa. A droga DAPAGLIFOZINA demonstrou ser não-inferior a placebo em relação a MACE (morte cardiovascular, infarto do miocárdio, derrame cerebral). Houve uma redução de 27% da taxa de hospitalização por Insuficiência cardíaca com a dapaglifozina.

Ficamos então com duas situações, que teremos que avaliar. Se no paciente em questão predomina a preocupação com doença cardiovascular aterosclerótica, aí a preferência é para a semaglutida, que em breve será lançada no Brasil na sua forma oral - por ora temos a injetável, que é o Ozempic de uso semanal.

Na outra situação em que predomina a insuficiência cardíaca ou a doença renal crônica, o consenso já recomenda o uso preferencial de iSGLT2, principalmente quando temos insuficiência cardíaca com fração de ejeção abaixo de 45%, estudo que mostrou redução significativa de desfechos com a dapaglifozina (DAPA_HF).

Se o controle do peso corporal for prioritário no tratamento do DM2, recomenda-se, preferencialmente, AR GLP-1 ou iSGLT2. No caso de AR GLP-1, os medicamentos mais eficazes para reduzir o peso, em ordem decrescente, são a semaglutida, liraglutida e dulaglutida.

Para finalizar, é de extrema importância que o cardiologista saiba manusear e ter experiência com essas novas drogas que comprovadamente trazem benefícios aos pacientes cardiopatas.