A aproximação virtual como forma de acolher os pacientes

Nem só de coronavírus as pessoas sofrem. Por isso, manter-se em contato com os profissionais que te acompanham é fundamental para a saúde física e mental

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(foto: truthseeker08/Pixabay )

No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o estado de pandemia pelo novo coronavírus. Desde então, aqui no Brasil, nossa vida mudou radicalmente. A maioria das pessoas que não trabalham nos serviços essenciais está em casa, distanciada socialmente dos outros, organizando sua rotina nessa nova realidade. São muitos os desafios que se apresentam e, a cada semana, esses desafios “mudam de fase”. 

Nas primeiras semanas foi preciso entender com o que estávamos lidando, e a grande dúvida era: que doença é essa?

Em seguida, começamos a nos ocupar em aprender a como nos cuidar. Nesse momento, o foco das pessoas se voltou às medidas de higiene e de como fazer o isolamento social.

Depois, começamos a “trocar pneu com o carro andando” e focamos na organização da nova rotina imposta, uns começaram a aprender a cozinhar e outros descobriram ótimos deliverys, chegaram as aulas online das crianças, começaram a se multiplicar serviços virtuais, entretenimento através de lives no Youtube e Instagram e músicos se dedicaram às janelas.

Lá se foram 7 semanas e os desafios não param de mudar de lugar. 

Nesse momento, o que venho percebendo como médica é um aumento gradativo da ansiedade se apresentando de várias maneiras. Alguns começam a deixar de acreditar na realidade, burlam as regras e vão para as ruas com ou sem máscaras. Possivelmente não conseguem mais se conter e, dizer que não acreditam na doença é apenas o enredo escolhido para caminhar rumo à “liberdade”. 

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Outros se mantém em casa, a despeito da enorme ansiedade e vem pagando por isso. Tenho acolhido pessoas ao telefone queixando aumento repentino de dores antigas, dificuldades para dormir que pioraram ou que começaram recentemente, tonturas diversas, desânimo e falta de apetite, medos novos e antigos, e muita, muita alergias na pele. A pele não é nada mais, nada menos do que o limite entre nós e o mundo. Muitos estão no seu limite.

Além da ansiedade e demais dores da mente e da alma 


As doenças deixadas em segundo plano começam a exigir nossa atenção. Muita gente deixou para depois um exame, um procedimento cirúrgico, uma mudança de medicamento ou uma consulta de rotina. Com isso, as pressões vem subindo, a glicose também e as doenças pulmonares já começaram a aparecer, junto com a iminente queda da temperatura. 

Um colega de faculdade, amigo e cardiologista no interior de São Paulo, Dr. Andre Farinelli Lima Brito, começou a se dedicar às redes sociais recentemente. Ele foi movido por uma preocupação: as pessoas estão correndo risco de vida em casa por medo de procurar os hospitais. A partir dessa preocupação, ele fez pequenos vídeos, sendo um entitulado “Quando seu coração não pode esperar a pandemia da COVID-19 passar”. Nesse vídeo ele explica sobre as dores no peito e outras formas das doenças do coração se manifestarem e como se deve agir nessas circunstâncias. 

Outros profissionais estão também oferecendo cuidados a distância. Um grande número de psicólogos está atendendo seus pacientes através de teleconsulta, fisioterapeutas têm utilizado o chat do WhatsApp para orientar exercícios, e uma infinidade de posts vem sendo produzidos e divulgados nas redes socais com um objetivo comum: cuidar. 
 
A preocupação do Dr Andre é a preocupação de muitos profissionais de saúde hoje: cuidar de nossos pacientes adequadamente e no momento necessário, sem expô-los desnecessariamente. Como fazer isso?

A resposta para essa pergunta é aproximação. Isso mesmo, vou falar de proximidade em tempos de isolamento. Nós, profissionais da saúde, precisamos estar próximos ao nossos pacientes, precisamos ligar, mandar mensagem pelo WhatsApp, escrever cartilhas, gravar vídeos, atendê-los virtualmente. Precisamos acolher e demonstrar que ele tem com quem contar. Dessa maneira, saberemos quando um atendimento será necessário e também reduziremos a ansiedade e o medo que vem junto com a sensação de desamparo. 

E você, que me lê, aproxime-se de sua família, amigos e dos profissionais de quem você confia. Cuide-se e se deixe cuidar. Ligue, mande mensagem, procure ajuda e saiba que a sua saúde não pode esperar a pandemia passar. Abraço fraterno! 

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: julianacicluz@gmail.com