Coronavírus: Proteger moradias para idosos deve ser prioridade neste momento

Cerca de 300 mil pessoas moram em instituições especializadas na terceira idade, mas nem todas têm condições adequadas para proteger essa população frágil

André Gomes de Melo/Flickr
Lar das Anciãs, no Rio de Janeiro (foto: André Gomes de Melo/Flickr)

A população de idosos no Brasil hoje gira em torno de 30.000.000 de pessoas e uma parte desses idosos vive de forma compartilhada, nas chamadas instituições de longa permanência para idosos (ILPIs).

O número de idosos que residem nas ILPIs credenciadas pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é de, aproximadamente, 80.000, mas o número total de idosos que vivem nesse tipo de moradia, quando incluímos as públicas, filantrópicas e particulares, pode chegar a 300.000 pessoas. 

A COVID-19 é uma doença particularmente grave para a população idosa e essa gravidade é tão maior quanto maior é o grau de fragilidade desses idosos. O novo coronavírus tem também como uma de suas características marcantes o alto grau de transmissibilidade, e é esse um dos principais motivos para a adoção da estratégia de isolamento social.

Com o isolamento, reduzimos a transmissibilidade e, consequentemente, a velocidade de propagação da doença. Ao conseguirmos ter um número menor de doentes em um determinado período de tempo, teremos menos casos graves e menor demanda simultânea dos serviços de saúde e, assim, evitaremos o colapso desses serviços.

Nas ILPIs se reúnem um grande número de idosos frágeis, tanto do ponto de vista da saúde quanto do ponto de vista social. E a realidade de grande parte dessas moradias no Brasil, é a da escassez. Muitas moradias sobrevivem se reinventando diariamente e os desafios são diversos. Faltam dinheiro, recursos humanos treinados e políticas públicas que valorizem e priorizem essas instituições tão importantes para qualquer sociedade.

E, por fim, faltam ILPIs.

No Brasil, existem desde ILPIs particulares de alto luxo em grandes cidades até estruturas carentes e desprovidas de apoio, espalhadas pelos rincões mais distantes. Mas, um ponto comum une TODAS essas instituições brasileiras hoje: o medo

- Como proteger os idosos nessas ILPIs? 
- Como preparar e prover as equipes de funcionários com os recursos necessários?
- Como isolar os casos suspeitos dentro dessas instituições?
- Como cuidar das pessoas contaminadas com os recursos existentes?
- Para onde transferir os idosos doentes? Qual hospital irá recebê-lo?
- Como proteger a dignidade desses idosos? 
- Com que recurso financeiro contar?

Muitas dessas perguntas estão sendo respondidas por um grupo de pessoas de todo o Brasil ligadas à causa, que se uniram voluntariamente e construíram um documento que deverá ser usados para subsidiar a tomada de decisões e a alocação de recursos pelas esferas responsáveis. O documento em questão será divulgado nos próximos dias. 

Tendo como exemplo o que tem ocorrido na Itália, França, Espanha, Estados Unidos, temos que agir agora ou cada uma dessas ILPIs brasileiras poderá ser o cenário de uma devastação de vidas. É nossa responsabilidade lutar para não deixar acontecer a negligência e o abandono aos mais vulneráveis. Caso contrário, estará mais uma vez demonstrado o desrespeito ao direito fundamental à vida da pessoa idosa, no nosso país.

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: julianacicluz@gmail.com