Com que idade você se sente, nestes tempos em que o consumo é o que vale?

Há uma diferença entre idade verdadeira e idade "subjetiva". Pesquisa mostra que, em média, pessoas se sentem 8 anos mais jovem do que são

M. Maggs/Pixabay
(foto: M. Maggs/Pixabay )

Tenho o hábito de perguntar aos meus pacientes quantos anos eles têm e, em seguida, com quantos anos eles se sentem. Considero esse hábito importante pois assim sei se aquela pessoa à minha frente, que cronologicamente já passou das 80 primaveras, se sente com 80 ou 40 anos. 

Caso ela se sinta com 40 anos, não adianta, por exemplo, a família querer impedi-la de sair sozinha. Dentro dela habita uma pessoa de 40 que anda se estranhando com as limitações físicas e ainda tem que ouvir a família querendo controlar sua vida. Desgaste desnecessário.

Pergunto também porque sou curiosa. Nasci assim e assim estou. Por último, continuo perguntando porque me intrigou o fato de que a grande maioria das pessoas a quem fiz essa pergunta me respondeu se sentir com uma idade inferior a sua idade cronológica.

Essa idade sentida é chamada de "idade subjetiva". E este tema me levou a muito estudo e gerou dúvidas que eu busquei responder.

Por que nos sentimos mais jovens do que somos?

Todos nós nos sentimos assim?

É bom ou ruim se sentir mais jovem?

O pesquisador Yannick Stephan, da Universidade de Montpelleir, na França, analisou três grandes estudos, que incluíram no total 17 mil pessoas de meia idade e idosos e foram conduzidos ao longo de muitos anos. N pesquisa, Yannick descobriu que a grande maioria dos entrevistados se sentia, em média, oito anos mais jovem do que o registrado na certidão de nascimento.

Sentir-se mais jovem pode ser um mecanismo de autodefesa. Vivemos em uma sociedade e em um tempo que o que vale é o consumo, a rapidez e a beleza e, tudo isso remete à juventude. Sendo assim, nada como nos refugiarmos em idades passadas.

Existem algumas possíveis consequências de nos sentirmos mais jovens ou mais velhos do que realmente somos. Essa percepção pode gerar um comportamento diferente perante a vida, diz Brian Nosek, professor de psicologia da Universidade de Virgínia. 

As pessoas que se sentem mais jovens costumam cuidar melhor de sua saúde, praticar mais exercícios e serem mais flexíveis mentalmente e isso pode, de fato, interferir positivamente em sua vida e até fazê-la viver mais. Será?
Precisamos de mais pesquisas para confirmar isso.

Confesso que comigo a idade do calendário e a do coração quase se trombam. Também não há nenhum problema em se sentir mais jovem, mas, me preocupa o cuidado excessivo com a estética e o descuido com a psiquê e com a aceitação do passar do tempo.

Precisamos nos preparar para envelhecer bem sim! Primeiro por dentro e depois por fora. Uma boa forma de nos cuidarmos “por dentro” é, por exemplo, nos dedicarmos à leitura.

Um do filósofos que mais se dedicaram a nos ajudar a lidar melhor com a passagem do tempo foi Marco Túlio Cícero (106 – 43 a.C.) e sua obra Saber envelhecer enumera as vantagens da velhice. Essa obra começa assim:
 
"Senti tal prazer em escrever que esqueci dos inconvenientes dessa idade;
mais ainda, a velhice me pareceu doce e harmoniosa".

Boa leitura!
 
E se você tem dúvidas sobre envelhecimento saudável, mande pra mim: julianacicluz@gmail.com