Nossa genética é realmente imutável?

Conheça o conceito de epigenética e saiba como as interações do ambiente podem interferir na nossa saúde

Carolina Vieira 06/11/2020 06:00
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(foto: Pixabay)


Antes dado como não modificável, nossos genes sofrem modificações ao longo da vida que podem influenciar na expressão do nosso código genético e nos predispor a doenças crônico-degenerativas e neoplásicas. Para falar sobre este tema, convido Dr. Pedro Paulo
Alvarenga, mestre em medicina molecular.

"Nossos genes exercem um papel fundamental na nossa saúde, assim como nossa alimentação e comportamento. A forma com que somos expostos a estímulos externos faz com que tenhamos respostas moleculares distintas, definindo assim diversos efeitos no nosso organismo. Esse é o conceito de epigenética, a ciência que estuda como nossos genes – e a forma com que eles funcionam – se comportam frente a influências externas.

Nosso código genético, definido com heranças maternas e paternas, é responsável pela produção de todas as proteínas presentes no organismo, sejam proteínas do colágeno da pele, proteínas ligadas ao sistema imune, aos órgãos reprodutores, dentre outros.

Enquanto a genética explica quais proteínas são produzidas, as mudanças epigenéticas podem justificar quando essas proteínas são produzidas. De uma forma simples, é como se existisse um interruptor de 'sim' e 'não', o qual pode ser modificado durante a vida. Isso explica, em partes, o porque gêmeos idênticos (geneticamente) apresentam características e patologias distintas. Esse 'ligar' e 'desligar' da nossa célula sofre influência direta
da nossa alimentação e estilo de vida.

A primeira doença humana a ser ligada à epigenética foi o câncer. Pesquisadores descobriram que o tecido doente em pacientes com câncer colorretal tinham menos metilação do DNA em relação ao tecido saudável dos mesmos doentes, o que pode causar uma ativação anormal, alterando assim as células. Ademais, metilação no gene BRCA1 (conhecido por estar relacionado ao câncer de mama) resulta em uma menor expressão desse gene, favorecendo ao aumento no risco de aparecimento de câncer de
mama principalmente em mulheres.

Outras doenças crônicas como a obesidade também têm mecanismo epigenéticos na sua fisiopatologia: processos metabólicos como a inflamação, acúmulo de gorduras, regulação do apetite e controle de açúcares no sangue, são modificados principalmente pelo processo de metilação do DNA e modificação de histonas. Estilos alimentares não saudáveis como o consumo de alimentos processados, industrializados, e embutidos, são os grandes vilões para aqueles que querem perder peso.

Adotar hábitos alimentares ricos em alimentos frescos, frutas, verduras e especiarias, auxiliam nos processos benéficos da epigenética em nosso organismo.

Além disso, bom humor e boas vibrações fazem com que nosso código genético esteja sempre alinhado com plena saúde."

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: carolinavieiraoncologista@gmail.com