Medicina do Estilo de Vida: como ela pode auxiliar na prevenção ao câncer

Abordagem científica interdisciplinar prioriza uso terapêutico do estilo de vida e envolve apoio na mudança de hábitos do dia a dia

mohamed hassan/PxHere
(foto: mohamed hassan/PxHere)

É assunto recorrente aqui na coluna como hábitos de vida ruins podem impactar no surgimento de câncer. Aprofundando neste assunto, muito tem sido falado sobre a Medicina do Estilo de Vida

Mas afinal, o que seria esta especialidade? É uma abordagem científica interdisciplinar que prioriza o uso terapêutico do estilo de vida e envolve apoio na mudança de hábitos para consumir alimentos predominantemente integrais, manter atividade física, cuidar da qualidade do sono, saber estratégias para manejo do estresse, cultivar relacionamentos saudáveis, cessar uso do tabaco e drogas, prevenir abuso de álcool, além de outras modalidades não medicamentosas, para prevenir, tratar e, mais importante, reverter as doenças crônicas relacionadas ao estilo de vida.

Para falar um pouco a respeito, convido a Dra. Lívia Salomé, especialista em Clínica Médica e membro do American College of Lifestyle Medicine.

1- Qual a diferença entre Medicina do Estilo de Vida e Medicina Preventiva?
A Medicina Preventiva é uma área de atuação já conhecida e consagrada no Brasil, que visa a abordagem preventiva de doenças, sejam elas agudas ou crônicas, objetivando evitar a necessidade de intervenções terapêuticas. É importante instrumento em saúde pública, pois aborda políticas de prevenção de agravos à saúde. Já a Medicina do Estilo de Vida usa estratégias de mudança de hábitos não somente para prevenção, mas também para tratamento e possivelmente reversão de doenças crônicas. É uma prática baseada em sólidas evidências científicas para que famílias e indivíduos adotem e mantenham comportamentos visando melhorias efetivas na saúde e na qualidade de vida.

2- A Medicina do Estilo de Vida utiliza tratamentos alternativos?
Se considerarmos como tratamentos convencionais aqueles baseados em medicamentos e cirurgias e como alternativos todas as estratégias de mudança de comportamento relacionadas ao adoecimento, podemos dizer que sim. Todavia, a Medicina do Estilo de Vida utiliza-se somente de abordagens com evidências científicas estabelecidas, consideradas alternativas ou não. 

3- Esta é uma especialidade reconhecida? Quem pode exercê-la?
A Medicina do Estilo de Vida não é uma especialidade exclusivamente médica e suas práticas estão em processo de reconhecimento como área de atuação pelo Conselho Federal de Medicina. E uma área transdisciplinar podendo ser exercida por qualquer profissional que busque promoção de saúde ao paciente. 

4- Esta especialidade tem algo a ver com a homeopatia? Considerando que a homeopatia é um tratamento medicamentoso com objetivo primariamente curativo e que utiliza doses pequenas de fármacos, diria que a Medicina do Estilo de Vida não se assemelha a homeopatia, mas pode ser complementar a ela.

5- Em quais doenças há maior papel estabelecido para o estresse?
Na hipertensão arterial por exemplo. O estresse leva a descarga inadequada de adrenalina na corrente sanguínea e esta ocasiona um aumento na pressão arterial e nos batimentos cardíacos, condições que podem levar a AVC e infarto. Na obesidade também, haja vista que a ansiedade e o estresse podem desencadear descontrole alimentar, compulsões e transtornos alimentares.

6- Como um sono ruim pode ocasionar problemas de saúde? 
O sono é um importante mecanismo fisiológico que permite repouso e recuperação do sistema nervoso central e osteomuscular. A privação de sono, aguda ou crônica, pode levar a aumento do apetite e consequente ganho de peso, incremento no risco de diabetes, redução da imunidade levando a maior ocorrência de infecções, perda de concentração e memória, aumento do risco de acidentes domésticos, automobilísticos e de trabalho, piora do humor e de transtornos de ansiedade e depressão. 

7- Como a Medicina do Estilo de Vida pode impactar na redução do câncer?
Através da adoção de práticas simples baseada nos pilares da Medicina do Estilo de Vida, observamos redução dos principais fatores de risco modificáveis para desenvolvimento do câncer: o tabagismo, a obesidade e consumo de álcool.
 
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