Coronavírus: treino é treino, jogo é jogo; agora é tratar dos nossos pacientes

Em países subdesenvolvidos, saúde publica é considerado problema quando atinge de indigente a presidente...

Ed JONES / AFP
(foto: Ed JONES / AFP)

Esta é uma frase que utilizei durante vários anos para explicar o motivo pelo qual as infecções hospitalares se tornaram um problema de saúde pública após a morte do Presidente Tancredo Neves. Após a morte do presidente, sugiram verbas e um programa nacional de controle de infecções que estabeleceu uma nova era no controle dos riscos de infecciosos em hospitais brasileiros.

Bactérias e vírus são excelentes professores para gestores que subestimam o fluxo da vida e a teoria da evolução Darwiniana.


Na semana anterior, abordamos o impacto das doenças infecciosas na história da humanidade.

A pedagogia imposta por vírus e bactérias à humanidade confronta em algum momento a ignorância, prepotência, delírio e arrogância de gestores públicos e privados.

A natureza, através de seus embaixadores, iguala o desigual e expõe o imoral.

Os discursos tão presentes de investimento em saúde durante momentos de campanha eleitoral se desfazem como pó, à luz de epidemias, quando a fragilidade do sistema de saúde fica evidente.

Instituições certificadas por onerosos processos de acreditação, se veem de joelhos frente à auditoria implacável feita por vírus e bactérias, cujo olhar penetra na essência da hipocrisia de um mercado que extrai os recursos da assistência em nome de uma burocracia fantasiosa.

Mas os vírus e suas epidemias, ao atingirem presidentes e suas comitivas, mostram que muros não são a solução para a desigualdade imposta pelos mercados. Vírus não precisa de visto nem passaporte. Invade as mais brancas casas pela porta da frente e expõe seus habitantes às suas próprias bizarrices.

Fogo inimigo de falsos amigos. Os vírus desnudam a hipocrisia do poder e de serviçais colonizados de limitado alcance intelectual.


Arrogância não torna imortais os imorais.
 
Neste momento sou obrigado a inverter a minha frase da década de 80 do século anterior: epidemias são problema de saúde pública quando atingem de presidente a indigente...

Ironicamente, o agente de toda turbulência mundial vem de um corona, cujo nome faz alusão ao seu formato de coroa.

Mercados são voláteis, insensíveis e insaciáveis. E para que tanta ganância?!! Vírus não investem, mas invadem.

Aliás, a queda das bolsas mundo afora evidencia a fragilidade de um mundo liquido e imediatista.

Agora é hora de parar, ordena o vírus. Que caiam as bolsas, parem os aviões, neguem portos aos navios em alto mar, fechem as portas, prendam a respiração...cheguei chegando.
 
A tsunami viral iniciada na China chegou em praticamente todos os continentes em menos de 2 meses e agora bate à porta de nossas casas e tira o nosso sono.

Tivemos dois meses para nos preparar para o inevitável. Mas como reverter em dois meses o abandono de décadas?!! Não se constrói um Sistema de Saúde sólido e capaz de atender epidemias simultâneas (Dengue nosso de todo ano e Corona) com discurso.

Espera-se agora que hospitais públicos e privados, falidos e abandonados por quase meio século, gerenciados por políticos e empresários despreparados e temporários, respondam a uma epidemia de grandes proporções. A população pode ser enganada e iludida, mas o vírus não.


Oxalá o vírus acorde e abra os olhos de um povo para os absurdos cometidos com o seu sistema de saúde, particularmente com os profissionais de saúde, a linha de frente que enfrentará a epidemia. Com baixos salários, formação e reciclagens deficientes e assoberbados pela demanda normal, esses profissionais terão que atender pacientes portadores de uma doença de transmissão aérea  com a perspectiva de, no meio do caminho, faltarem máscaras e outros equipamentos de proteção individual.

Em situações semelhantes na China, 30% dos infectados foram profissionais de saúde e a transmissão hospitalar para outros pacientes chegou a 45%.

Certamente os hospitais são locais onde as pessoas, se possível, devem se afastar neste momento. Sabiamente, algumas instituições estão suspendendo visitas a pacientes internados. Prudência nestas horas é fundamental. Visitantes e acompanhantes infectados quebram as frágeis barreiras de precauções e isolamento de nossas instituições. Nestas horas, a tecnologia pode ajudar e muito. Usar a televisita pode confortar sem comprometer a segurança da assistência. Mais um aprendizado trazido pelo Covid-19.

Mas, para responder algumas das dezenas de perguntas que me fazem pelos mais diferentes meios, terminarei a coluna desta semana com as https://www.infectologia.org.br/admin/zcloud/125/2020/03/a592fb12637ba55814f12819914fe6ddbc27760f54c56e3c50f35c1507af5d6f.pdf" target="blank">recomendações feitas pela Sociedade Brasileira de Infectologia sobre muitas destas dúvidas.

 

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