Suplementação de vitaminas, onde nem tudo que reluz é ouro

Em tempos de muita comoção nesta pandemia, propagandas "de oportunidade" tentam criar necessidades falsas para o consumidor

Beverly Buckley/ Pixabay
Cápsulas de vitamina D (foto: Beverly Buckley/ Pixabay )

Tenho notado um aumento de veiculação de material publicitário de polivitamínicos, muitas vezes em horário nobre, no intervalo dos programas jornalísticos de grande audiência e alcance nacional.

Entremeados às notícias impactantes de mortes e números crescentes de acometidos pela COVID-19, são veiculados anúncios comerciais, por exemplo, de suplementos de vitamina D.

Várias vezes no curso dessa pandemia, notícias não validadas e não consolidadas cientificamente, passam a “viralizar” no Whatsapp. No instinto natural de defesa do ser humano e na ânsia das pessoas em quererem encontrar alguma alternativa para se proteger, o apelo por suplemento de vitaminas é muito forte.

Portanto, no meu modo de ver, nada mais inconveniente como essas “propagandas comerciais de oportunidade”.

O tema “Propaganda de Oportunidade” é um assunto muito comum e bem explorado por diversas cadeiras na graduação do Curso de Publicidade e Propaganda. O estilo de criação se aproveita de um fato marcante na sociedade, que gera repercussão e comoção geral e se aproveita do fato pontual para explorar e divulgar um anúncio publicitário específico relacionado com o acontecimento marcante daquele momento. 

Diante do cenário de completas incertezas e com a enxurrada de informações que surgem diariamente, tem sido difícil para as entidades médicas e científicas fazer alcançar a contrainformação à desinformação reinante. A cada semana uma nova onda de desinformação surge e causa grande interesse e comoção mas rapidamente os fatos são atropelados por outra onda ainda mais recente e a anterior perde força e interesse das pessoas.

No que diz respeito à vitamina D, foi divulgada em março/2020 pelo jornal italiano La Reppublica uma matéria sobre um estudo nada conclusivo e de qualidade questionável, realizado na Universidade de Turim, que levantou uma possível associação relacionando a hipovitaminose D ao COVID-19.

Uma vez que parte dos pacientes com o vírus apresentavam níveis baixos de 25-hidroxi-vitamina D (25OHD) e mesmo sem estabelecer uma relação de causa e efeito foi lançado a suposição de que a deficiência da vitamina D estaria na raiz do problema e que poderia estar envolvido no aumento da mortalidade dos pacientes idosos italianos. Deduzo que essa informação ajudou a disseminar o conceito de suplementar vitamina D mesmo sem existir evidência científica sólida para isso. Por ter forte apelo popular esse tipo de informação, foi diante disso que imagino ter surgido um aumento da veiculação de anúncios comerciais na TV em horário nobre para alavancar a venda de suplementos vitamina D. Sendo assim os publicitários aplicaram a famosa concepção de “progaganda de oportunidade”. 

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), através de seu Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral, em conjunto com a Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO), no dia 8 de abril 2020, divulgou uma nota oficial de repúdio à disseminação na comunidade leiga de um absurdo posicionamento da “Associação Brasileira de Harmonização Orofacial” (ABRAHOF), que estava circulando na mídia, sugerindo que a suplementação de megadoses de Vitamina D poderia ter efeitos na melhora da imunidade e na prevenção/terapia da COVID-19.

A nota alertava e concluía dizendo: “reforçando o compromisso da SBEM e da ABRASSO com a divulgação de informações corretas, relevantes e com respaldo científico, reprovamos de maneira veemente qualquer profissional ou associação que tente se aproveitar deste momento de crise para divulgar notícias ou posicionamentos distorcidos, desprovidos de respaldo científico e com possível impacto deletério para a saúde da população brasileira”.

Não sei se a nota teve o alcance efetivo, já que pode ter ficado diluída, no fluxo interminável de informações circulantes. Sendo assim, faço aqui então a divulgação da nota da SBEM sobre vitamina D, que pode ser lida aqui, para atingir um universo maior de pessoas. Em linhas gerais, a SBEM e ABRASSO não recomendam suplementação disseminada de uso de vitamina D a não ser nas situações que já eram indicadas antes da pandemia.

Uma vez dito isto e diante da pandemia atual, que impõe a necessidade de se manter em quarentena ambientes fechados, devemos alertar sobre a necessidade de tomar um bom banho de sol. Pode se obter os benefícios dos raios ultravioleta vindas do banho de sol na produção de vitamina D pela nossa pele. Bastam pelo menos 15 minutos e pode ser na janela, varanda, quintal ou onde mais se alcançar uma fresta por onde o sol esteja brilhando neste lindos dias de outono.
 
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