EUA: Estudo prevê mudanças de incidência e mortalidade por câncer até 2040

Incidência de melanoma, mortes por câncer de pâncreas e hepático aumentam, enquanto incidência de câncer de próstata e mortes por câncer de mama caem

Gordon Johnson/Pixabay
(foto: Gordon Johnson/Pixabay)

Se por um lado a pesquisa oncológica proporciona o desenvolvimento de tecnologias a favor da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento de ponta, elevando as taxas de sobrevida dos pacientes, por outro ajuda também a entender e a conhecer as tendências da doença em diferentes contextos e populações.

Um estudo desenvolvido nos Estados Unidos e publicado recentemente na revista Jama Network Open, por exemplo, mostra que haverá mudanças significativas nas taxas de incidência de diversos tumores e nas mortes por câncer naquele país, até 2040.

As estimativas levantadas pelos pesquisadores, liderados por Lola Rahib, apontam que as principais incidências e mortes por câncer nos Estados Unidos serão notavelmente diferentes no ano de 2040, em comparação com as classificações atuais.

Os dados projetados demonstram que provavelmente os cânceres mais comuns em 2040 serão: o de mama (364 mil casos), com o melanoma (219 mil casos) se tornando o segundo câncer mais comum; seguido de câncer de pulmão (208 mil casos); colorretal em quarto (147 mil casos); e o câncer de próstata caindo para o décimo quarto tipo de câncer mais comum (66 mil casos).

Atualmente, naquele país, os tumores mais incidentes são: mama (253.465); pulmão (227.875); próstata (209.512); colorretal (155 008) e melanoma (96 445), segundo dados do GLOBOCAN 2021.

Em relação à mortalidade, o câncer de pulmão (63 mil) foi estimado para continuar como a principal causa de óbito relacionada ao câncer em 2040. Câncer de pâncreas (46 mil) e câncer de fígado e ducto biliar intra-hepático (41 mil mortes) sobem para a segunda e a terceira causa mais comum de morte por câncer, respectivamente, ultrapassando o câncer colorretal (34 mil). Estima-se que o câncer de mama (30 mil) diminua para a quinta causa mais comum de morte por câncer.

Atualmente, o ranking de mortalidade por câncer nos EUA é composto por câncer de pulmão (138.225); colorretal (54.443); pâncreas (47.683), mama (42.617) e próstata (32.438), conforme dados do GLOBOCAN 2021.

Mas qual cenário e fatores poderiam explicar os números descobertos na projeção? Conforme os pesquisadores, a análise sugere associação entre os programas de rastreamento do câncer com o número de diagnósticos de câncer e o número de mortes nos anos futuros.

A influência das diretrizes de triagem pode ser rastreada até as mudanças, nas taxas de incidência e de mortalidade, ao longo do tempo, para os cânceres que representam ou representarão os mais diagnosticados e os que causam mais mortes.

De forma prática, o rastreamento para diagnóstico precoce é algo que nós oncologistas defendemos veementemente. Por isso, sempre destaco também a importância da prevenção personalizada.

Esse tipo de abordagem é o que permite darmos maior atenção a grupos de pessoas fora das faixas etárias listadas nos protocolos gerais, mas portadores de síndromes hereditárias, que têm chances maiores de desenvolver tumores ainda em idade jovem. Mais que isso, a prevenção personalizada permite a elaboração de estratégias de prevenção específicas, que, em muitos casos, podem até evitar o desenvolvimento de tumores.

Ainda sobre o estudo, as projeções fornecem informações para abordar os tipos de câncer para os quais a conscientização é aumentada, especificamente melanoma, câncer de pâncreas, câncer de fígado e ducto biliar intra-hepático e câncer colorretal, no grupo de 20 a 49 anos.

Com mais investimentos em pesquisas para triagem eficaz e, quando possível, eliminação de lesões pré-malignas, a carga futura do câncer na população dos Estados Unidos será alterada substancialmente.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

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