Sete maneiras de ajudar a proteger a saúde do seu intestino

Bons hábitos de vida e exames genéticos de rastreamento contribuem para a prevenção do câncer colorretal

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(foto: Pixabay)

No começo de março, chamei atenção sobre a tendência de órgãos de saúde internacionais orientarem a redução da idade para rastreamento do câncer colorretal. Agora, para fechar o Março Azul Marinho, que é dedicado à conscientização sobre esse tipo de tumor, vou compartilhar com você, leitor, algumas dicas para a prevenção da doença.

De acordo com o mapeamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), este tipo de carcinoma é recorrente em países desenvolvidos, onde ocorrem em 65% dos casos, sendo mais comum em homens do que em mulheres.

No Brasil, estimam-se, para cada ano do triênio de 2020-2022, 20.540 casos de câncer de cólon e reto em homens e 20.470 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 19,64 casos novos a cada 100 mil homens e 19,03 para cada 100 mil mulheres.

O câncer de intestino é um tumor de fácil prevenção e um dos mais eficientemente curáveis, desde que se faça um diagnóstico precoce. E isso pode ser feito com ações acessíveis na rotina diária.

Veja sete maneiras de ajudar a proteger a saúde do seu intestino

1) Faça o rastreamento para câncer colorretal

Os exames objetivam encontrar o câncer de cólon ou reto antes que os sinais e sintomas se desenvolvam, e diagnosticar o tumor mais cedo, quando os tratamentos têm maior probabilidade de sucesso.

Conforme expliquei no artigo anterior, a American Cancer Society recomenda testes a partir dos 45 anos para pessoas com risco médio. Alguns exames de rastreamento colorretal também podem localizar e remover crescimentos pré-cancerosos (pólipos) no cólon ou reto.

Os pólipos não são câncer, mas com o tempo o câncer pode começar nos pólipos. Removê-los diminui o risco de câncer. Converse com seu médico sobre quando você deve iniciar o rastreamento e quais exames podem ser adequados para você.

2) Coma muitos vegetais, frutas e grãos inteiros

Dietas que incluem muitos vegetais, frutas e grãos inteiros têm sido associadas a uma redução do risco de câncer retal ou de cólon. Além disso, é recomendável comer menos carne vermelha (bovina, suína ou cordeiro) e carnes processadas (salames, salsichas, linguiças, presuntos, carnes enlatadas, molhos à base de carne, etc), que foram associadas a um risco aumentado de câncer colorretal.

3) Faça exercícios regularmente


Se você não é fisicamente ativo, pode ter uma chance maior de desenvolver câncer colorretal. Ser mais ativo pode ajudar a reduzir o risco. Busque ajuda de um profissional da área de educação física para planejar uma rotina de atividades físicas própria para você.

4) Assuma o controle de seu peso

Estar acima do peso ou ser obeso aumenta o risco de contrair e morrer de câncer retal ou de cólon. Uma alimentação mais saudável e o aumento da atividade física podem ajudá-lo a controlar o peso.

Pesquisas mostram que os hábitos relacionados à dieta, peso e exercícios, estão fortemente ligados ao risco de câncer colorretal. Mudar alguns desses hábitos de vida pode ser difícil. Mas, fazer as mudanças também pode diminuir o risco de muitos outros tipos de câncer, bem como de outras doenças graves, como doenças cardíacas e diabetes.

5) Não fume

Os fumantes de longo prazo têm maior probabilidade de desenvolver e morrer de câncer retal ou de cólon do que os não fumantes.

6) Evite o álcool


O consumo de bebidas alcoólicas tem sido associado a um maior risco de câncer colorretal. As atualizações científicas mostram que é melhor não beber álcool. Mas, se você fizer isso, a American Cancer Society não recomenda mais do que dois drinques por dia para homens e uma bebida por dia para mulheres.

7) Atente-se ao histórico de câncer na família


Se houver casos de câncer colorretal em familiares próximos, especialmente se diagnosticados em idade abaixo dos 50 anos, procure um oncogeneticista. Até 25% dos casos de câncer colorretal possuem componentes genéticos hereditários.

As síndromes de câncer colorretal hereditário se subdividem em polipose, que compreende a polipose adenomatosa familiar (PAF), a polipose familiar juvenil e a síndrome de Peutz-Jegher; e não polipose, representado pelo câncer colorretal hereditário não polipose (HNPCC) ou síndrome de Lynch.

Estas doenças hoje são detectadas com eficácia através da análise genética da saliva ou sangue. Uma vez identificada a mutação ou mutações predisponentes, um aconselhamento especializado é oferecido. As condutas preventivas variam entre colonoscopias anuais, uso de medicamentos preventivos, como a aspirina, e até a remoção preventiva do intestino grosso.

Incidência de câncer colorretal aumenta entre os mais jovens


Um estudo divulgado recentemente pela American Cancer Society revela que, de cada dez pacientes diagnosticados com a doença, três têm menos de 55 anos. Diante disso, especialistas vêm recomendando a antecipação dos exames de detecção dos tumores e a atenção aos hábitos de vida.

Os pesquisadores analisaram 490.305 casos diagnosticados em pacientes com mais de 20 anos nos Estados Unidos, entre 1974 e 2013. Em geral, a incidência está em declínio desde a metade da década de 1980, graças a novas técnicas de detecção.

Mas, entre adultos de 20 a 39 anos, a taxa de incidência de câncer de intestino vem crescendo entre 1% e 2,4% anualmente desde a década de 1980. E na faixa etária dos 40 aos 54 anos, a variação anual tem sido entre 0,5% e 1,3%, desde meados da década de 1990.

O aumento nas taxas de incidência de câncer no reto é ainda mais evidente, com variação média anual de 3,2%, entre 1974 e 2013, para adultos na faixa etária entre 20 e 29 anos. Entre 40 e 54 anos, o crescimento foi de 2% ao ano, desde a década de 1990. Em 2013, 29% dos casos diagnosticados da doença foram em pacientes com menos de 55 anos, contra percentual de 15%, registrado em 1990.

Para finalizar, reforço que todos os cuidados de prevenção citados acima são fundamentais para a redução da incidência e mortalidade por câncer colorretal, visto que a obesidade, a alimentação pouco saudável, o estilo de vida sedentário e a predisposição genética são algumas das hipóteses para o crescimento da incidência desse tipo de tumor entre adultos jovens e de meia-idade. Então, em parte, a redução dessa tendência depende de cada um de nós.

*André Murad é oncologista, pós-doutor em genética, professor da UFMG e pesquisador. É diretor-executivo na clínica integrada Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e diretor Científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos, e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

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