Circuito gastronômico de favelas estreia 2ª edição neste final de semana

Com 28 pratos, evento vai percorrer nove comunidades de BH Frango, costelinha, língua e bolo estão entre atrações

por Márcia Maria Cruz 01/06/2018 08:49

Júlia Lanari/Divulgação
A Flor de jiló integra o variado cardápio da programação, que será aberta neste fim de semana, começando pela Barragem Santa Lúcia. (foto: Júlia Lanari/Divulgação)

A caravana do Circuito gastronômico de favelas começa a circular no domingo (03/06) e percorre nove comunidades até 29 de julho. Itinerante, nesta segunda edição o evento traz 30 cozinheiros das comunidades, sendo três delas estreantes: Santa Tereza, Barreiro e Pedreira Prado Lopes. Em cada um dos lugares, o público poderá saborear pratos criados para o evento. A festa de encerramento será nos dias 11 e 12 de agosto na Rua Sapucaí, no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte.

A primeira parada será no Aglomerado Santa Lúcia, na Região Centro-sul, e os cozinheiros convidados são Maria da Consolação, a Lia, Wanusa, Dona Amélia, Felipe Mafaldo, Dona Valdete, Maria Raquel, Dona Ita, Dona Dulce, José Márcio Duarte e Dona Luci. “Vamos estrear na Barragem Santa Lúcia, lugar muito especial. Lá tudo fluiu maravilhosamente bem na edição do ano passado: os artistas se sentiram contemplados e a comunidade é muito organizada. Adorei fazer lá”, afirma a idealizadora do Circuito gastronômico de favelas, Danusa Carvalho.

Dali a parada seguinte virá na Pedreira Prado Lopes. As panelas também chegarão ao Alto Vera Cruz, Aglomerado da Serra, Morro das Pedras, Jardim Teresópolis, Acaba Mundo, Santa Tereza e Barreiro. Os eventos são comandados pelos músicos Flávio Renegado e Manu Dias, que abrem roda democrática para receber artistas das comunidades. O músico garante a quem for comida boa e samba de primeira.

Os pratos vão custar entre R$ 10 e R$ 15. Nem todos estarão integralmente na programação. Haverá de língua a frango, de creme de dobradinha a pastel, como o Trem de Minas, de torresmo de barriga a quibe vegano, de bolo de pote a torta.

“Vamos começar em grande estilo o circuito deste ano. Fico muito feliz em ver como o projeto foi muito bem recebido na primeira edição. Voltamos maiores e maduros, entendendo melhor o diálogo com as comunidades”, afirma Flávio. Grande qualidade do projeto, para ele, é a contribuição para o empoderamento e autoestima das comunidades. “A crise existe para quem se acomoda. Lutamos e incentivamos esse sentimento de empreendedor. A ideia é trazer para a mão do povo o que é de direito. Desde o momento dos quilombos, nosso povo se encontra para comer, beber e festejar juntos”, completa.

Neste ano, a festa de encerramento ocorrerá em dois dias e não apenas em um como no ano passado. Também muda da Praça da Estação para a Rua Sapucaí. A curadoria manteve 16 cozinheiros que participaram da primeira edição e abriu espaço para 14 novos. “É o melhor projeto da minha vida. E olha que já rodei com produção. É muito bacana potencializar o outro através do que você gosta de fazer. O projeto colabora com a geração de renda e com as relações que estabelecemos. Há muito afeto envolvido”, afirma Danusa.

A visibilidade dada aos indicados abre portas, permitindo que sejam convidados para outros eventos e ampliem a atuação no ramo da gastronomia. Danusa conta que os cozinheiros do circuito foram convidados para participar da Semana da Gastronomia Mineira, de 1º de junho a 1º de julho em Belo Horizonte. “O projeto gera outros negócios e tipos de prestação de serviço”, pontua Danusa.

 

Júlia Lanari/Divulgação
O pastel Trem de Minas, de Diones da Silva, é uma das atrações. (foto: Júlia Lanari/Divulgação)
 

 

Alguns dos eventos do circuito serão em dias de jogos da Seleção Brasileira na Copa do Mundo na Rússia. Para garantir a participação, a organização prepara telões de led para que as partidas possam ser acompanhadas. Um deles será instalado no Alto Vera Cruz, no dia 17 de junho, estreia do Brasil diante da Suíça, e o outro na Vila Acaba Mundo, no dia 15 de julho, data da final. “Apesar de todos os problemas que o país enfrenta, continuamos sendo brasileiros. Só conseguimos transformar aquilo que amamos”, afirma Flávio Renegado.

LIBERDADE DE CRIAÇÃO Diferentemente de outros festivais, no Circuito gastronômico de favelas a organização não indica ingrediente obrigatório para preparar a receita. Se não há exigência nesse ponto, sobra criatividade para buscar sabores na criação dos pratos. Muitas das receitas nascem da experiência e dos saberes desses profissionais. O cardápio vai de língua recheada a bolinho de feijoada. Tudo sempre com o toque da culinária mineira. Não faltam itens considerados ‘de casa’, como quiabo, ora-pro-nóbis, frango e porco.

Aos 49 anos, Maria da Consolação, a Lia, começou a prestar atenção nesses ingredientes por uma necessidade. “Cozinho desde nova. Minha família era muito pobre. Hoje, me considero rica. Aqui em casa não tinha muita coisa. Ia até o quintal para pegar folha de batata-doce, brotinho de chuchu e preparava para os meus irmãos, que eram muitos. A família sempre gostou”, recorda-se. Para esta edição do Circuito gastronômico de favelas, Lia apresenta o prato língua recheada com arroz do campo e chips de batata-doce.

 

Júlia Lanari/Divulgação
O rapper Flávio Renegado e Manu Dias vão comandar a cena musical, recebendo artistas locais. (foto: Júlia Lanari/Divulgação)
 


Para deixar o arroz bem colorido e convidativo ao olhar, ela acrescenta talos de brócolis, couve, alho-poró e ervilha. Na edição do ano passado, ela participou dos eventos no Aglomerado Santa Lúcia, Morro das Pedras e da final na Praça da Estação. “No Aglomerado Santa Lúcia, preparei 85 porções. Não confiava muito, mas às 14h do domingo já tinha vendido tudo”, diz. Para ela, além de poder cozinhar, uma de suas paixões, o circuito contribui para a geração de renda.

O cozinheiro José Márcio Duarte Araújo também não abre mão dos produtos naturais. Ele apresenta sua versão da costelinha defumada, que leva ora-pro-nóbis e angu. O prato faz sucesso há nove anos no restaurante No Fundo do Bar, localizado no Alto Vera Cruz. “Trabalho com produto vindo direto da roça, da região de Ponte Nova. São produtos naturais e com tradição. É diferente, muito mais saboroso”, afirma ele, que estará nos eventos no Alto Vera Cruz e no Morro das Pedras.

ABERTURA
Aglomerado Santa Lúcia. Domingo (3/6), das 12h às 18h. Avenida Arthur Bernardes, em frente ao nº 3.912, Barragem Santa Lúcia

Cardápio de domingo

Maria da Consolação (Barragem Santa Lúcia)  Língua recheada com arroz do campo e chips de batata-doce
Wanusa (Barragem Santa Lúcia) – Pé no rabo
Dona Amélia (Barragem Santa Lúcia)
Frango com pó de quiabo
Felipe Mafaldo (Pedreira Prado Lopes)
Ajeum d’Xangô
Dona Valdete (Morro das Pedras)
Macarrão Maravilha
Maria Raquel (Morro das Pedras)
Flor de jiló
Dona Ita (Morro das Pedras)
Bolinho de feijoada
Dona Dulce (Aglomerado da Serra) Hambúrguer artesanal
Cris e Márcio (Alto Vera Cruz)
Costelinha com ora-pro-nóbis e angu
Dona Luci (Aglomerado da Serra)
Bolo no pote


AGENDA

10/6: Pedreira Prado Lopes
17/6: Alto Vera Cruz
24/6: Aglomerado da Serra
1/7: Morro das Pedras
8/7: Jardim Teresópolis
15/7: Acaba Mundo
22/7: Santa Tereza
29/7: Barreiro

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