Inventora da coxinha de catupiry, a Doce D'ocê está de volta

Quitute feito de frango ou camarão nascido em BH virou sucesso nacional e inspirou outras receitas

por Mariana Peixoto 17/11/2017 08:00



Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press
Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Deixemos de lado, pelo menos por ora, discussões ideológicas (ou meras implicâncias) para falar da coxinha. Sim, coxinha no feminino, que agrada a qualquer paladar, seja ele conservador ou progressista. E uma coxinha com DNA belo-horizontino, vale dizer.

Vinte anos depois de fechar as portas, a Doce D’ocê está de volta. Desde 25 de outubro, uma pequena loja no Bairro Vila da Serra vende os quitutes criados, no início da década de 1970, por Thereza Christina Pinto Coelho Martins de Oliveira.

Quem já passou dos 30 deve se lembrar das delícias da lanchonete e casa de chá que, no auge, teve três lojas em BH e outra em Ouro Preto. Tartellete de morango, tortas de brigadeiro e de nozes, bombons de uva e de coco e as estrelas: as coxinhas de frango e de camarão, ambas com Catupiry (o original, considerado o primeiro requeijão cremoso do Brasil, nascido há mais de um século em Lambari, Sul de Minas). Foi dona Thereza a criadora da coxinha de Catupiry, que disputa com o pão de queijo o posto de mais popular entre os salgados mineiros que fazem sucesso no país.

Pois todas essas delícias (e outras mais) estão de volta ao cardápio, tal qual as originais. A nova Doce D’ocê é obra do casal Adriana Lima e André Wolff, sócios de dona Thereza na marca. Eles esperam, a médio prazo, criar outras lojas, além de franquias.

A repercussão do retorno da famosa coxinha surpreendeu. Na primeira semana, o casal teve que fechar a loja mais cedo por causa da demanda – 400 unidades diárias dos dois principais sabores. “Não consigo produzir mais, pois nada aqui é congelado, é tudo artesanal”, comenta Adriana.

Atualmente, a produção está a cargo de 12 pessoas, que aprenderam tudo com a própria dona Thereza. Uma dica: nesses primeiros tempos, o melhor horário para ir até lá é por volta das 13h, 14h. A partir das 16h, a loja de 44 metros quadrados fica quase impraticável.

Aos 78 anos, com uma vivacidade que chama a atenção, dona Thereza costuma passar na parte da tarde na loja. A decoração, em branco e vermelho, é uma volta ao passado. Os corações, marca da Doce D’ocê, estão nos guardanapos e jogos americanos.

CRISTALEIRA

Cobrindo toda a parede está a fotografia da loja da Avenida Afonso Pena, no Bairro Funcionários (a primeira, inaugurada em 1973). A cristaleira revela pratos, xícaras e jarras de porcelana com a marca da lanchonete. Tudo faz parte do acervo de dona Thereza, que guarda em casa os bules de prata que serviam chás na antiga Doce D’ocê. Até os vasos de flores que decoram a entrada são os mesmos de décadas atrás.

Desde maio Adriana e André trabalham no projeto. Aprenderam cada detalhe com a própria dona Thereza. O peito de frango da coxinha é desfiado a mão; a moldagem dos salgados também é totalmente manual. Não há como mexer um cisco na receita. Para a torta de nozes, por exemplo, é usado quase um quilo do fruto.

No início da década de 1970, dona Thereza, funcionária do Tribunal de Justiça, já fazia bombons e salgados “para fora”. Quando a demanda cresceu demais, ela descobriu uma pequena loja na Avenida Afonso Pena. O nome foi inspirado na rua em que ela morava, Rio Doce, no São Lucas.

Certo dia, seu irmão, o embaixador Pedro Motta Pinto Coelho, então estudante do Instituto Rio Branco, veio a BH conhecer a loja. Comentou que como o dinheiro era curto, ele só almoçava salgadinhos. No Rio de Janeiro, eram pequenos. “Por que você não inventa um salgado que substitua uma refeição?”, sugeriu.

Fã de requeijão derretido, herança do passado na fazenda, dona Thereza descobriu, numa mercearia em frente ao Corpo de Bombeiros, duas caixinhas de Catupiry, do qual nunca havia ouvido falar. “Comprei as duas, que estavam meio velhas, tanto que tive que tirar a casca do requeijão”, relembra.

Foi assim que, pela primeira vez, ela fez a coxinha de frango com Catupiry. A saída foi tão rápida que dona Thereza fez o marido, Levindo Martins de Oliveira, sair pelas mercearias de BH para procurar mais caixinhas do tal requeijão. E não parou mais. Seis meses depoi, criou a de camarão VG.

FIDELIDADE
Adriana e André seguem os preceitos de dona Thereza. Por ora, estão servindo o cardápio de inauguração, que deve crescer nos próximos meses. São 14 opções de salgados (a coxinha de frango com Catupiry custa R$ 10,50; a de camarão com Catupiry, R$ 18,50), quatro de tartelletes (de R$ 12 a R$ 16), seis de tortas (de R$ 12,50 a R$ 18, o pedaço) e 12 de bombons e docinhos (de R$ 4,50 a R$ 10,50).

À medida que treinar a nova equipe, o casal poderá estender o horário de funcionamento da loja. O importante, no primeiro momento, é a aprovação dos clientes. Para os nostálgicos, é tiro e queda. A memória gustativa surge logo na primeira mordida.

DOCE D’OCÊ
Rua Orozimbo Nonato, 214, loja 4, Shopping Portal de Nova Lima, Vila da Serra, (31) 3262-2132. De segunda a sexta-feira, das 12h às 19h; sábado, das 12h às 17h.


Para todos os paladares

De chef


A coxinha faz parte do cardápio de Felipe Rameh há alguns anos, como opção de entrada. À frente do Restaurante Alma Chef desde 2014, ele levou para o espaço, em Lourdes, a coxinha de rabada, uma adaptação da iguaria feita com frango. “Coxinha agrada todo mundo, e a minha tem a massa mais delicada. Queria dar uma abrasileirada maior nela, pensando numa carne mais gelatinosa. A princípio, pensei na costela, mas depois cheguei à rabada, que tem caldo bastante melado e sabor intenso.” A porção com oito unidades custa R$ 35.

>> ALMA CHEF
Rua Curitiba, 2.081, Lourdes, (31) 2551-5950. De terça a quinta-feira, das 19h à 0h; sexta-feira, das 19h à 0h; sábado, das 12h às 17h e das 19h à 0h; e domingo, das 12h às 17h.

De peso
A ideia era apenas comemorar, no mês de junho, os 40 anos da Big-Tê, lanchonete nascida no Bairro Santa Cruz, Região Nordeste, com a versão de meio quilo da coxinha de catupiry. O sucesso foi tanto que ela ficou quatro meses no cardápio. “Tive que parar, porque não estava conseguindo atender os serviços de festa”, comenta Alison Monteiro, que comanda o espaço.

Depois de comprar um freezer e contratar mais funcionários, a Big-Tê vai retornar com o supersalgado: em 24 de novembro, a coxinha de 500g (R$ 12,50 cada) volta definitivamente para o cardápio. O cliente pode comê-la com as mãos (são oferecidas luvas) ou com talher. “O desafio é grande. Tem gente que divide, tem quem coma sozinho e tem que ainda leve metade para casa”, diz Monteiro.

>> LANCHES BIG-TÊ
Rua Paulo Timóteo Nascimento, 946, (31) 3318-6060, Bairro Santa Cruz, e Rua Vicente Risola, 725, (31) 3658-5836, Bairro Santa Inês. De segunda-feira a sábado, das 8h às 21h.


De jaca
A coxinha contemporânea é bem democrática. Vegetarianos e veganos têm opção do salgado produzido com um ingrediente impensável há algum tempo: a jaca. “Não verdade, não é a jaca madura, mas a verde, cuja textura imita a do frango”, explica Fabiano Osório, da lanchonete O Vegano.
O salgado, um dos carros-chefes da casa, é oferecido em dois formatos: lanche, com 120g (R$ 6 a unidade), e festa, com 15g (bandeja com 20 unidades, R$ 20). A coxinha de jaca é tão vendida quanto o sanduíche de pão com linguiça – vegetal, é claro.

>> O VEGANO
Rua Santa Rita Durão, 985, Savassi, (31) 3261-6524. De segunda a sexta-feira, das 11h às 19h30; sábado e feriado, das 11h às 14h30.

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