COVID -19 e Trombose: Existe um risco aumentado?

Relação entre pandemia e doença é complexa e pouco compreendida; sabe-se que em pacientes graves ocorre processo inflamatório sistêmico e uma %u201Ctempestade%u201D de citocinas, desencadeando fenômenos trombóticos

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(foto: Pixabay)

A perda do jornalista e apresentador Rodrigo Rodrigues, vítima de uma trombose cerebral devido ao COVID-19, deixou todos chocados e tristes. Ele era uma figura carismática e encantava pelo seu bom-humor e alegria. Jovem e com um futuro ainda grande pela frente, foi mais uma das milhares de vítimas desse terrível vírus.

Vou escrever um pouco então sobre a minha área, a Angiologia. O COVID-19 aumenta o risco de trombose?

A relação entre COVID-19 e trombose é complexa e ainda pouco compreendida. Sabe-se que em pacientes graves ocorre um processo inflamatório sistêmico e uma “tempestade” de citocinas, que são substâncias responsáveis pela inflamação, desencadeando e ativando a cascata de coagulação e por conseguinte os fenômenos trombóticos.

Alguns pacientes com coronavírus apresentam baixas taxas de oxigênio no sangue porém não tem falta de ar. Isso ocorre porque os pulmões estão funcionando normalmente, porém o vírus causa trombose nos pequenos vasos dos alvéolos pulmonares, dificultando a oxigenação do sangue.

Essa descoberta foi possível graças à identificação de altos níveis de dímero-D nos pacientes graves com COVID-19. A substância é produto da degradação da fibrina e sua dosagem laboratorial pode indicar processos como trombose venosa, embolia pulmonar ou sépsis em atividade.

Uma das maiores preocupações dessa ligação entre COVID-19 e trombose diz respeito à associação entre níveis elevados de dímero-D e aumento de mortalidade.

A primeira médica a constatar um caso de trombose associado ao coronavírus foi uma brasileira, a pneumologista Elnara Márcia Negri. Ao atender sua primeira paciente grave com a doença, a Dra Elnara observou, além dos problemas respiratórios, que os dedos do pé da paciente estavam arroxeados (cianose), com falta de circulação. À medida que a circulação do pé piorava, havia também uma queda da oxigenação no sangue, ou seja, havia uma relação entre a complicação respiratória e a presença da trombose na circulação. A paciente foi tratada com heparina, um medicamento anti-coagulante. Em pouco tempo, a respiração da paciente melhorou e os dedos dos pés voltaram à circulação normal.

A médica publicou então um estudo com 27 pacientes na revista Science, mostrando redução do tempo de intubação e da mortalidade em pacientes graves com complicações trombóticas tratados com heparina.

Deve-se ressaltar que esses quadros de trombose são observados em pacientes graves, que estão internados em CTI. Não há indicação para uso de anti-coagulantes de forma discriminada em pacientes com coronavírus, pois esses medicamentos tem efeitos colaterais graves. Somente o médico assistente pode prescrever esse medicamento.

Como em toda doença e principalmente nessa nova e tão desconhecida doença, é sempre importante procurar o auxílio de médicos qualificados e bem preparados. Há em torno dessa doença um embate político muito intenso e não sobram “fake news” sobre o assunto. O melhor a se fazer é buscar um tratamento baseado na Ciência e nos trabalhos científicos de instituições sérias. Do contrário, corre-se o risco de se tomar uma conduta errada e até prejudicial para a evolução do caso.
 
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