Causas preveníveis do câncer de mama

Rastreamento para diagnóstico precoce é primordial para aumentar as chances de cura da doença

Marijana1/Pixabay
(foto: Marijana1/Pixabay )

É comum ouvirmos algumas pessoas dizerem que certa pessoa "era saudável e mesmo assim teve câncer de mama" como forma de justificar os próprios hábitos e comportamentos não saudáveis. Contudo, precisamos combater fortemente essa ideia. O câncer é uma doença complexa e, embora seu mecanismo básico seja a proliferação desequilibrada das células, as causas para o desencadeamento desses processos são inúmeras, algumas não controláveis, mas boa parte controlável.

Assim, quando falamos em prevenção de câncer de mama, é preciso pensar de forma integrada. E, para ajudar aquelas mulheres que querem se cuidar mais, vou destacar aqui os principais fatores conhecidos possíveis de serem alterados ou modificados para evitar o desenvolvimento do câncer de mama.

Idade do primeiro filho e número de filhos

Diante das mudanças culturais, pode não ser razoável que se recomende às mulheres que tenham filhos em idade mais jovem como forma de prevenir o câncer de mama. Mas a literatura demonstra que mulheres que têm o primeiro filho cedo apresentam menor risco de desenvolver tumores nas mamas quando comparadas com aquelas que só dão à luz após os 30 anos de idade.

Em síntese, quanto mais jovem a mulher se tornar mãe, menor o risco de desenvolvimento da doença. Por outro lado, mulheres com mais de 40 anos que nunca tiveram filhos são as que apresentam maior risco, cerca de 30% maior do que as mulheres com o primeiro filho em idade jovem. Estima-se que cada filho reduza em 7% o risco de câncer de mama.

Amamentação

Os dados da literatura mostram um possível papel que a amamentação prolongada e efetiva tem na proteção contra doenças como câncer de mama, ovário e endométrio, osteoporose e doenças cardiovasculares, como o infarto.

Esse efeito protetor ocorreria devido à renovação de células que poderiam gerar lesões no material genético, bem como pela redução das taxas de determinados hormônios que favorecem o desenvolvimento do câncer de mama, dentro de um período específico na idade da mulher (a chamada janela de risco).

Os benefícios parecem ser maiores se a gestação for antes dos 30 anos de idade, com maior período de aleitamento e com uma prole maior. No entanto, existem vários outros fatores que levam ao câncer e isso não ocorre de uma maneira isolada. Somente o fato de amamentar, isoladamente, não determina prevenção.

Pílulas anticoncepcionais

Apesar de os estudos não serem unânimes, admite-se que haja um pequeno aumento no risco de câncer de mama devido ao uso de anticoncepcionais por tempo prolongado, que desaparece após alguns anos da sua suspensão. Entretanto, é importante destacar que os benefícios dos contraceptivos e uma possível proteção para alguns tumores como câncer de ovário parecem ser mais relevantes.

Terapia de reposição hormonal


A reposição hormonal é uma terapia destinada a minimizar os efeitos da redução hormonal causada pelo processo do climatério e da menopausa. Seu uso pode aliviar os sintomas desses processos naturais.

No entanto, há efeitos indesejados importantes, especialmente para as mulheres que já passaram pelo tratamento do câncer de mama. Uma das contraindicações formais da TH é naquelas pacientes que já passaram pelo tratamento desse tipo de câncer. Além disso, o uso prolongado dessas medicações implica num aumento do risco do câncer de mama e deve ser sempre considerado riscos e benefícios no contexto do risco individual de cada paciente.

A indicação desse tipo de terapia deve ser feita com muita cautela e sempre por um profissional capacitado. Mulheres com casos de câncer de mama na família, em especial nos parentes de primeiro grau e em idade jovem, com perfil para serem portadoras de predisposição hereditária, necessitam de um julgamento mais criterioso antes de iniciarmos a terapia hormonal com segurança.

Obesidade


Quanto maior o tecido gorduroso, maior o risco de câncer de mama. Este risco é ainda maior em mulheres após a menopausa. As pesquisas buscam ainda explicar de forma mais direta como a obesidade influencia no processo de carcinogênese, sendo possível estabelecer, até então, três fatores principais: o fator de crescimento semelhante à insulina 1 (insulina IGF-1), os hormônios sexuais e as adipocinas, conforme aponta um artigo de revisão da literatura produzida entre 2000 a 2020 e publicada nas bases de dados SCIELO, LILACS e PUBMED. A obesidade seria responsável por alterar esses fatores, provocando a desregulação das funções endócrinas e parácrinas que ocorrem no tecido adiposo e promovendo mudanças metabólicas, associadas ao aumento do risco para o câncer de mama.

Consumo de álcool

Quanto maior o consumo de álcool, maior o risco de desenvolvimento do câncer de mama. O consumo dessa substância pode ainda potencializar os riscos da terapia de reposição hormonal e parece representar um dos mais importantes fatores de risco atuais evitáveis dessa doença. Esse risco é dose dependente, ou seja, quanto maior a ingesta alcoólica e por tempo mais prolongado, maior o risco de desenvolver câncer de mama.

Sedentarismo

A literatura demonstra que a prática de atividade física diminui o risco de câncer de mama, independentemente do seu efeito na redução de peso. Mulheres que praticam exercícios mais intensos, como até 10 horas semanais de caminhada ou 3 horas semanais de corrida, chegam a ter até 40% menos chance de desenvolver câncer de mama.

Controlar esses fatores ou modificar esses fatores é fundamental para reduzir as chances de desenvolver o câncer de mama, principalmente, quando as mulheres estão expostas a fatores não modificáveis como a presença de mutações hereditárias.

Somado a isso, o rastreamento para diagnóstico precoce será primordial para aumentar as chances de cura do câncer de mama. Cuidem-se!