Julho Verde: a formação do cirurgião de cabeça e pescoço

São pelo menos 11 anos para se formar um especialista capacitado a fazer diagnóstico, estadiar e tratar cirurgicamente o paciente com câncer de cabeça e pescoço

Carolina Vieira 30/07/2021 06:00
Gerd Altmann/Pixabay
(foto: Gerd Altmann/Pixabay)

Dando continuidade à conscientização do câncer de cabeça e pescoço, trago mais uma vez à nossa coluna o doutor Gustavo Meyer, cirurgião e professor

1 - Gustavo, como ocorre a formação de uma cirurgião de cabeça e pescoço e quais os principais desafios acadêmicos?

A cirurgia de cabeça e pescoço é uma especialidade médica. Para se tornar especialista, o médico graduado deve cursar inicialmente uma residência como pré-requisito, que pode ser no programa de cirurgia geral ou de otorrinolaringologia. Uma vez concluído esse passo, o médico pode se candidatar à residência de cirurgia de cabeça e pescoço, que dura no mínimo mais dois anos. Incluindo a graduação, são pelo menos 11 anos para se formar um especialista capacitado a fazer diagnóstico, estadiar e tratar cirurgicamente o paciente com câncer de cabeça e pescoço.

2 - Tem ocorrido nos últimos anos uma mudança nas características dos pacientes acometidos pelo câncer de cabeça e pescoço, atingindo pessoas mais jovens e que nunca fumaram. Você poderia explicar o motivo desta mudança?

Essa mudança se deve ao aparecimento crescente do câncer de orofaringe (garganta), sobretudo nas amígdalas, relacionado ao vírus HPV (papilomavírus humano), o mesmo que também está relacionado ao câncer de colo de útero. Essa doença pode aparecer em pessoas jovens que nunca fumaram.

3 - Há fatores hereditários associados a esse tipo de câncer? Como podemos preveni-lo?

Não há fatores genéticos conhecidos que predispõem a esse tipo de câncer. A melhor forma de prevenir é vacinar todas as crianças em idade anterior ao início da vida sexualmente ativa. Além disso, é amplamente conhecido o fato de que quanto maior o número de parceiros sexuais ao longo da vida, sobretudo sem proteção, maior o risco de desenvolvimento desse tipo de câncer. Por isso, deve ser incentivada a prática do sexo seguro.

4 - Quais os sintomas iniciais deveriam motivar o paciente a procurar ajuda especializada?

São sintomas iniciais de câncer de cabeça e pescoço (nem sempre aparecem em conjunto):

- Câncer de pele na face ou couro cabeludo, câncer nos lábios: lesão pigmentada ou não, de aparecimento recente, com crescimento progressivo, que pode apresentar ulceração

- Câncer de boca: ferida na boca que se parece com afta, indolor nos primeiros meses, que não cicatriza.

- Câncer na garganta: Dor para deglutição, dor no ouvido, mau-hálito, rouquidão persistente, tosse com sangramento

Todo câncer de cabeça e pescoço pode apresentar também o sintoma de caroço no pescoço (linfadenomegalia cervical), o que pode se tratar de doença mais avançada, com metástase nos gânglios linfáticos do pescoço.

Na presença desses sintomas, é adequado buscar avaliação especializada. O diagnóstico incorreto ou o manejo inicial da doença feito de modo inadequado podem piorar muito as chances de cura desses tipos de câncer.