Desafios no tratamento do câncer de pâncreas

O saber sobre a quimioterapia para tratar a doença avançou. Novas medicações e combinações foram desenvolvidas, mais efetivas e com menos efeitos colaterais

Carolina Vieira 16/07/2021 06:00

Anna Tarazevich/Pexels
(foto: Anna Tarazevich/Pexels)

O tratamento do câncer de pâncreas é complexo e desafiador. Envolve um suporte nutricional adequado, cuidados precoces para controle dos sintomas e aumento da qualidade de vida dos pacientes. Toda essa assistência deve ser prestada tão logo o diagnóstico seja estabelecido, de forma integrada por diferentes profissionais da saúde, tendo em vista que cada um pode colaborar de alguma forma. Para dar continuidade nesta conversa, convido mais uma vez o doutor Paulo Henrique Diniz, oncologista do Grupo Oncoclínicas.

"Quando a doença não é muito extensa, sem invasão de outros órgãos ou grande envolvimento de vasos sanguíneos importantes no abdome, a cirurgia é uma boa estratégia. No entanto, o procedimento é, muitas vezes, prolongado e exige uma delicada fase de recuperação. Além disso, mesmo quando operado, o paciente vai precisar de quimioterapia. Dessa forma, as condições operatórias do paciente devem ser cuidadosamente avaliadas.

Por outro lado, naqueles em que a cirurgia não é uma possibilidade, seja pelas condições do próprio paciente ou pelo estágio avançado do câncer, o tratamento farmacológico emerge como uma das principais estratégias. Há casos em que não é possível remover o tumor, mas ainda assim é necessário algum procedimento cirúrgico, como, por exemplo, para drenar a bile ou desobstruir o intestino.

Nos últimos anos, o conhecimento em relação à quimioterapia no câncer de pâncreas avançou consideravelmente. Novas medicações e combinações de quimioterápicos foram desenvolvidas, mais efetivas e com menos efeitos colaterais. A forma de aplicação também tem mudado bastante. Podemos destacar a realização da quimioterapia antes da cirurgia, que tem representado um marco no manejo desses pacientes. Além de os efeitos clínicos parecerem ser melhores, antecipar a quimioterapia para o pré operatório pode promover melhor tolerância pelos pacientes, e evitar cirurgia naqueles casos em que o procedimento não iria modificar a história natural da doença. Como exemplo, quando o paciente está muito desnutrido ou na presença de características que sinalizem que o tumor tem muito risco de recorrência, em curto espaço de tempo.

Outra área do tratamento do câncer de pâncreas que está em constante progresso é o desenvolvimento de drogas "inteligentes", que atuam mais diretamente em genes ou outras moléculas defeituosas, expressas pelas células tumorais. Há muitas pesquisas nesse campo, e ainda é esperado mais estudos nos próximos anos. Certamente, é uma área muito promissora e o arsenal terapêutico irá aumentar.

Enfim, são muitos desafios no enfrentamento do câncer de pâncreas. Cabe-nos enfrentar a doença nas suas múltiplas dimensões: reduzir os fatores de risco que podem ser evitados, estar vigilante às manifestações que a doença pode apresentar - embora não muito frequente nos casos iniciais -, buscar apoio de diferentes profissionais de saúde da área da oncologia (médicos, nutricionais, psicólogos, enfermeiras...), estimular e valorizar a pesquisa científica e usar, de forma judiciosa e criteriosa, o conhecimento adequado, sempre numa visão integral e centrada no paciente e sua família."

 

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