Parto humanizado: que tal parar de demonizar a cesareana?

A hora é de discutir mudanças na assistência obstétrica, com critérios éticos e científicos, melhora dos resultados perinatais e menor mortalidade materno-infantil

Reprodução/Rede Globo/Amor de mãe
Cena da novela Amor de mãe (Rede Globo) (foto: Reprodução/Rede Globo/Amor de mãe)

A cena da novela é a seguinte: subitamente a gestante demonstra uma dor intensa, gemente, cai ao chão e, de um momento para o outro, inicia-se a corrida para alcançar o atendimento médico porque ela está em trabalho de parto e presume-se que o bebê nascerá rapidamente. A mídia televisiva alimenta o imaginário popular mostrando situações que nem sempre são realidade.

Estamos vendo recentemente a discussão sobre o parto humanizado. Longe das posições extremadas quanto ao parto sem qualquer intervenção, longe de polemizar com o termo “violência obstétrica”, o momento é de discutir as mudanças na assistência obstétrica dentro da medicina, baseada em evidências que vêm demonstrando que podemos prestar assistência menos intervencionista e dentro de critérios éticos e científicos, com melhora dos resultados perinatais e menor mortalidade materno-infantil.

De fato, chegamos no Brasil a um patamar inaceitável de cesareanas nas redes pública e privada que distoam do restante dos serviços internacionais.

Há um movimento consciente e responsável para diminuição desses índices e que passam pela educação daqueles diretamente envolvidos no atendimento obstétrico de qualidade preservando o respeito que deve ser dado à autonomia da mulher nesse contexto.

Estudos científicos realizados na Inglaterra, Holanda e Estados Unidos demonstram que os
partos domiciliares têm resultados perinatais piores do que aqueles realizados dentro do ambiente hospitalar. Note-se, isso em países que têm uma logística organizada para o transporte aos hospitais e que possuem equipes treinadas para a assistência ao trabalho de parto e parto domiciliar!

Em respeito aos direitos da mulher, escolher o que é melhor para si, ela deverá ser informada sobre os riscos e benefícios baseados nas evidências científicas para auxiliá-la na tomada de decisão.

Mesmo partos de baixo risco ou de risco habitual podem se transformar, em questão de minutos, em partos de alto risco e algumas ações rápidas poderão ser necessárias para preservar as vidas da mãe e do bebê, até mesmo após o parto.

Partos domiciliares estão relacionados ao risco duas vezes maior de morte neonatal e risco três vezes maior de complicações como convulsões e danos neurológicos neonatais.

Atualmente, as maternidades contam com salas de parto equipadas para favorecer o parto humanizado, companhado por familiares e profissionais correlatos ao ambiente obstétrico como doulas, enfermeiras obstétricas, obstetra, pediatra e anestesista.

Algumas condutas anteriormente não questionadas como jejum, depilação, lavagens intestinais, posição do parto, episiotomia (corte no períneo) rotineira e ligadura imediata do cordão umbilical passaram a ser reavaliadas.

Novos métodos como bolas para relaxamento, imersão na água, contato pele a pele mãe e feto foram introduzidos. Porém, ainda há indicação para uso de forceps, episiotomia, medicamentos e manobras obstétricas reservadas para situações onde há dificuldades no período expulsivo e riscos de sofrimento fetal. Tudo dentro do maior rigor científico e realizados por obstetra.

Vamos deixar de demonizar a cesareana porque ela apresenta indicações médicas objetivas e,
quando indicada com base científica, sempre pensando no melhor resultado para a mãe e para o feto.


Conversar com o seu obstetra sobre o parto é o melhor caminho.

Que tal associarmos ao termo “parto humanizado” também “modelo moderno de assistência ao
nascimento
” ou “assistência ao nascimento baseada em evidências e no respeito“?

Fica a sugestão.

 

Tem dúvidas sobre parto? Fale comigo: marcoszagury@hotmail.com