Sonambulismo: o preconceito, o estigma e os mitos da doença

Cuidados simples evitam o risco de acidentes, que podem machucar o próprio sonâmbulo ou terceiros

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(foto: Pixabay)

Como faço frequentemente, dei um giro pelo sítio eletrônico dos nossos principais jornais e uma notícia dramática me chamou atenção em um deles.

Uma menina de 9 anos caiu do nono andar de um edifício, durante a madrugada enquanto dormia na casa dos tios. Por uma dessas obras do destino, sua queda foi amortecida pelo telhado de um apartamento nos andares mais abaixo evitando a morte dela.

Passei a acompanhar o desenrolar dos fatos e lí uma declaração dos pais de que a menina apresenta sonambulismo.

Já pude perceber em minha prática médica que algumas doenças são cercadas por um certo estigma, preconceito e mitos, sendo o sonambulismo uma delas.

Nosso sono é dividido por diferentes fases que se alternam ao longo da noite. Temos duas grandes fases: o sono REM dos movimentos oculares rápidos e o sono NÃO REM que se subdivide em fases N1, N2 (sono superficial) e N3 (sono profundo).

O sonambulismo ocorre durante o sono NÃO REM e juntamente com o terror noturno e o despertar confusional pertence ao grupo das parasonias do sono NÃO REM.

Aparece com muito mais frequência na infância e em grande número de vezes desaparece ao longo dos anos mas pode também surgir na vida adulta (mais raro). Possui uma certa tendência genética e familiar.

O sono normal se caracteriza por uma perda dos movimentos e do tônus muscular e no sonambulismo o que ocorre é que a pessoa desperta sem sair do sono e desta maneira adquire a capacidade de se movimentar mesmo estando dormindo.

A pessoa apresenta movimentos dormindo na cama mas pode se levantar e caminhar e é aí que reside o perigo pois é como se estivesse encenando seus sonhos e corre o risco de se machucar e também a terceiros, podendo abrir portas e janelas.

Algumas medidas podem ser tomadas para evitar acidentes como trancar as janelas, usar sistemas de alarme avisando que saiu do quarto e procurar dormir no andar térreo.

Se acordado, o sonâmbulo na maioria das vezes estará confuso podendo ou não se lembrar do sonho. Costuma acontecer no primeiro terço da noite e então despertares programados podem evitar um episódio de sonambulismo.

Diferentemente de outros distúrbios do movimento durante o sono, o sonambulismo não está associado ao desenvolvimento de doenças neurológicas degenerativas.

Exceto pelo risco de acidentes e lesões, trata-se de uma doença benigna e que na maioria dos casos desparece com o tempo.

Eu sou o Dr.Silvio Musman, médico especialista em pneumologia, medicina do sono e medicina do exercício.