Fazer o bem, faz bem. Conheça pessoas que transformam a vida dos outros ao praticar a bondade

Há pessoas que sozinhas tomam a atitude de estender a mão a quem precisa, sem esperar por doações ou qualquer apoio. A satisfação de cuidar do próximo é o prêmio de uma vida com sentido

por Lilian Monteiro 24/12/2017 14:15

Jair Amaral/EM
"Não adianta fazer para aparecer, mas por amor. Coloco-me no lugar do outro, de como seria triste se fosse um dos meus, de não ter uma mão estendida" (Maria Perpétua de Moura Pereira, de 77 anos, dona de casa ) (foto: Jair Amaral/EM)
 

 Histórias que emocionam. Pessoas que inspiram. O Bem Viver de hoje, véspera de Natal, é sobre quem se dispõe a ajudar os outros, independentemente da data. Material ou emocionalmente, há quem se dedique a olhar e dar uma mãozinha para quem precisa. E não se enxerga especial por isso. Na realidade, acredita que é o que todo ser humano deveria fazer pelo outro, por aquele que necessita de apoio. Não pensem que é fácil, há demandas, dispor de tempo, de atenção, de carinho, de cuidado, de dinheiro, de pertences em função de quem não se conhece, nunca viu, e ter de lidar com miséria e mazelas da vida. Deixar de lado o egoísmo, parar de olhar para o próprio umbigo, esquecer o cansaço da labuta diária para se ater e estar disponível aos necessitados. Os que agem assim garantem receber a conquista real da felicidade.


A satisfação de cuidar do próximo da melhor maneira possível é o prêmio de uma vida com sentido, compartilhada. Ajudar as pessoas é uma arte. Pode ser um instinto natural, como pode ser despertado. Fazer a diferença na vida de alguém, mesmo que por um momento, traz sensações, emoções e uma satisfação difícil de transcrever em palavras. É imensurável. E para sentir é preciso tomar atitude, participar, se doar. E doar ao outro é questão de querer. E o significado é a evolução do ser humano. Assumir o papel de contribuir para uma sociedade melhor. Mas ainda que não consiga alcançar esse sonho e torná-la menos injusta e desigual, ao menos é a garantia de fazê-la mais humana. O que já é um grande passo. Sem falar que ajudar o outro faz bem à saúde, alimenta a esperança e mantém o bem-estar mental.

A dona de casa Maria Perpétua de Moura Pereira, de 77 anos, ao lado marido, João Pereira Neto, de 81, juntos há 55 anos, aprenderam com seus pais e repassaram aos filhos o valor de compartilhar com quem precisa. Há mais de 20 anos, eles distribuem café da manhã e almoço para moradores de rua que batem à porta do casal. E nunca tiveram ajuda. “Começou com um pedindo ajuda por causa da fome, um conta para o outro e assim seguimos, ainda mais que as dificuldades só aumentam. E de quatro anos pra cá está pior, só aumentam os pedidos. Muita gente dormindo na rua, nos sinais, dá muito dó e tristeza. Pensar que temos uma cama quente, casa, comida na hora, enquanto muitos não têm para onde ir, nem o que comer”, constata Perpétua.

O café da manhã, Perpétua começa a servir às 7h, e o almoço, entrega o marmitex entre as 13h e as 15h. Só não oferece jantar porque a família só faz um lanche e, como quem precisa não tem muita hora, não há como atendê-los às 22h, 23h... “Preciso dar atenção à família e cuidar do meu filho especial. Entrego o café quentinho com pão com manteiga e uma fatia de queijo e o cardápio do almoço é o mesmo do nosso. Recebem o marmitex e uma colher de plástico. É descartável porque podem levar. Se sobra mais comida, porque não veio o esperado num dia, guardo na geladeira, nada estraga e, às vezes, faço mexido. Eles adoram.”

Sobre nunca ter tido ajuda, Perpétua não se importa. “Sabe que a comida só aumenta? É coisa de Deus, não falta. Sou simples,  e tudo o que faço é com amor. Não adianta fazer para aparecer, mas por amor. Coloco-me no lugar do outro, de como seria triste se fosse um dos meus, de não ter uma mão estendida. Muitos criticam, dizem que são malandros e vagabundos. Não são. Lembrem-se de que cair é fácil, mas levantar é muito difícil.”

Além de alimentar quem tem fome, Perpétua revela que conversa com muitos deles: “Digo que Deus vai abençoá-los, que virá um tempo melhor, para terem paciência, que os amo e alguns até me chamam de mãe. Recebem o marmitex e saem felizes. No Dia das Mães, fui surpreendida. Dois deles me entregaram um buquê de flores, compraram com a venda de latinhas. Até chorei e coloquei no cemitério para minha filha que morreu. Era o presente que ela me daria, porque adoro flores. É uma maneira de eles me agradecerem. Fico feliz”. Os únicos pedidos de Perpétua é que eles não apareçam com droga, para não brigarem na porta da casa dela, e que tenham respeito por todos. Eles obedecem.

E nesses anos todos, Perpétua conta que “Deus tem me abençoado. Meu filho estava desempregado e conseguiu trabalho no que ele queria. Não é extraordinário? Precisamos fazer o bem sem olhar a quem. E sem querer nada em troca. Não precisa, porque Deus não nos deixará faltar. A única coisa que peço nesta vida é saúde e paz. O resto a gente faz”.

ALMA Sentir-se bem em fazer o bem. As pessoas que se dedicam ao outro têm características nobres e elevadas. O médico psicanalista Geraldo Caldeira explica que são seres altruístas e magnânimos, com comportamento grandioso. Ele lembra que o filósofo grego Aristóteles, um dos pensadores com maior influência na cultura ocidental, disse que é possível ter “a felicidade sozinho, mas é fundamental compartilhá-la. Para tal, é preciso ser ético, amigo, altruísta, generoso...”

Para muitos, uma felicidade só é possível para os filósofos, no entanto, qualquer pessoa pode alcançá-la. Mas como enfatiza o psicanalista, “falo de estado de felicidade, que é bem diferente de ser feliz. Há quem nasça com esses valores, mas é possível desenvolvê-los, o que exige treinamento, meditação, reflexão”. Para ajudar o outro sem desprendimento, Geraldo Caldeira destaca que é necessário um estado de alma, de espírito e, mais uma vez, com o desenvolvimento da magnanimidade e do altruísmo. E você? De que lado está? Do que faz ou do que deseja aprender? Aja, faça a diferença na vida de quem precisa. Nunca é tarde para começar.