O bem como essência: os desafios para viver em um mundo melhor

Aprender não só com as palavras, mas com a atitude. A importância de os pais serem exemplos para os filhos e despertar neles o prazer em ajudar o próximo e multiplicar a solidariedade

por Lilian Monteiro 24/12/2017 14:34

Jair Amaral/EM
Jadil Gomes da Costa, de 76 anos, com o filho Alexandre, que se espelha nas ações do pai para ajudar os necessitados (foto: Jair Amaral/EM)
 

 

“Ajudar é melhor que ser ajudado. Não tem nada melhor do que ver um sorriso, a felicidade estampada em quem precisa. Desde criança procuro enxergar o outro e essa é uma corrente que precisa crescer. Só de olhar para o próximo com carinho, uma palavra amiga, um conselho, faz toda a diferença. Muitos estão carentes não de dinheiro, mas de uma palavra. Sinto-me feliz e posso renovar esse compromisso todo dia, o que ajuda a espantar a tristeza e superar os obstáculos.” Esse depoimento é de Jadil Gomes da Costa, de 76 anos, comerciante, que passou o cuidado com os necessitados para os filhos, André e Alexandre. “Não os ensinei, mas eles viram o exemplo e os admiro de coração por se preocuparem com o próximo. Sinto-me orgulhoso e que Deus os ajudem a prosseguir ajudando quem precisa.” E a família Gomes da Costa ainda conta com a matriarca Maria José, que reforça esse mutirão diário que é materializado de todas as formas, seja com a doação de uma cesta básica, roupas, uma boa conversa. As crianças chamam Jadil de avô e tomam a bênção. Ele conta que muitos falam seu nome primeiro antes de papai e mamãe, e os jovens dizem que por ele aceitam ser corrigidos. E ele não se nega a dar puxão de orelha se for preciso.

André, de 46, administrador, revela que herdou da família o espírito de querer ajudar, principalmente do pai. “Se eu for 10% do que ele representa, já me sinto realizado. Meu primeiro despertar foi a família, a minha base, a verdade absoluta, já que ela é o nosso primeiro compromisso com Deus. Portanto, a influência veio do meu pai, que, mesmo não sendo abastado, sempre ajudou todos e se mostra rico em saúde e união. Aliás, não é preciso ser rico para ajudar, basta ter consciência e saber que o pouco faz muita diferença.” Para André, Jadil tem a capacidade do perdão, de ajudar o próximo e o coração do tamanho do mundo.

Olhar para a necessidade do outro faz parte da vida de André. “Acredito que a essência do ser humano é o bem. Basta acionar a chave para desencadear o processo. Todos temos a semente, basta um catalisador para germiná-la. O meu processo foi passo a passo, desde dar lugar ao idoso para assentar, ajudar alguém a atravessar a rua e assim por diante. É natural na minha vida. E como disse o papa Francisco, ‘dê um sorriso para um estranho na rua, pode ser o único gesto de amor que essa pessoa terá durante o dia’. Pode valer mais que um pedaço de pão.”

André conta que gosta de valorizar o esforço de quem precisa. Ela fala de quem vende mercadorias no sinal e tem visão diferente de quem pede dinheiro, “porque pedir não é fácil. Há quem condene dar dinheiro, mas acredito que se o coração tocar, faça a sua parte. Separe seu ato do que a pessoa irá fazer, seja comprar pão, cachaça ou droga. Não julgue. Como dizem, só sabe a dor quem passa por ela. E lembre-se, pessoas mal-intencionadas, más, estão em todo lugar. Se uma faz mau uso da doação, não deixe de ajudar tantas outras”.

PAZ Para André, quem não quer ser ajudado é o que mais precisa. “Por isso, é preciso ter paciência, o que também é um ato de caridade. A pessoa vai se abrir no momento certo. Não nos cabe escolher a hora e, impelidos, simplesmente desistir de fazer o bem.” O administrador lembra que “doar é um gesto de amor e temos de amar não da maneira que queremos, mas da forma que a outra pessoa precisa. Sei que, mesmo não estando bem, afinal todos temos problemas e dias difíceis, ajudar o outro acaba sendo uma válvula. E o bem retorna para você, em dobro”.

André destaca que é possível praticar o bem sozinho, mas também é importante ter um vínculo, seja com uma ONG, instituição ou grupos que pensam da mesma maneira. “Primeiro, porque juntos somos mais, já que há motivação, ampliação e coordenação das ações. O que pode ser feito não só por meio de uma entidade ou ONG, mas da família, amigos e vizinhos. E, em segundo lugar, temos de ter um vínculo com Deus, com o Pai maior, com o Deus de cada um, o que nos exclui os ateus.”

Há três meses, André passou a fazer parte da ONG Amigos de Minas, que promove a inclusão social, a segurança alimentar e assistência às famílias que vivem em situação de pobreza (critério de atuação é o menor Índice de Desenvolvimento Humano/IDH, e aprendi que “o bem é contagiante. Coloquei na minha rede social que precisava de uma cama para uma família assistida e em 15 minutos recebemos três. Estávamos com crianças do Norte de Minas precisando de consultas e uma médica se dispôs ao encaminhamento. É fácil fazer essa corrente!”.

E qual é o ganho de André? “Paz interior. Ajudar o outro me traz equilíbrio, conforto e felicidade. Mais do que praticar, devemos promover o bem. Uma pessoa que amo muito me disse uma frase de um artigo, que achei perfeita: ‘Não é que o mal venceu, ele só tem uma equipe de marketing melhor’.”

 

Desafios globais

Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu os “8 Objetivos do Milênio” no tocante ao voluntariado. Definiu as áreas de trabalho a serem estimuladas. O prazo para o seu alcance era 2015, mas em setembro daquele ano, percebendo que os indicadores econômicos, sociais e ambientais eram pessimistas quanto ao futuro das próximas gerações, a entidade propôs que os 193 países-membros assinassem a Agenda 2030, um plano global composto por 17 objetivos e 169 metas para que esses países alcancem o desenvolvimento sustentável em todos os âmbitos até 2030. São eles:

1 – Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares
2 – Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável
3 – Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
4 – Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos
5 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas
6 – Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos
7 – Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
8 – Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos
9 – Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação
10 – Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles

11 – Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis
12 – Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis
13 – Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos. Reconhecendo que a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) é o fórum internacional intergovernamental primário para negociar a resposta global à mudança do clima.
14 – Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável
15 – Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade
16 – Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à Justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis
17 – Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável