Inspire-se em bons exemplos e pratique a bondade daqui pra frente

Casal idealiza projeto Caçadores de Bons Exemplos sem vínculo religioso ou político, vende tudo e viaja pelo Brasil em busca de quem faz a diferença na vida de outros

por Lilian Monteiro 24/12/2017 14:37

 

Arquivo Pessoal
Há sete anos, Iara e Eduardo Xavier colocaram o pé na estrada para descobrir pessoas que contribuem de alguma forma para construir um país melhor (foto: Arquivo Pessoal)

Vou-lhes apresentar um casal que emociona, inspira e nos faz acreditar numa vida melhor. Iara, de 35 anos, e Eduardo Xavier, de 49, nunca participaram de projetos sociais. Apenas tinham a certeza de que precisavam fazer alguma coisa. Sem saber o quê, interpretaram aquela frase de Gandhi – “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Ou seja, pare de falar de problemas e vá em busca de soluções. Ou, ainda, tire o bumbum da cadeira e coloque a mão na massa. Ou, se preferir, pare de ser telespectador e seja personagem da transformação. Sem planejar, em 1º de janeiro de 2011, ele colocaram o pé na estrada e nascia assim o projeto Caçadores de Bons Exemplos, uma viagem em busca de pessoas que fazem a diferença na comunidade em que vivem, executando algum projeto social e contribuindo para um Brasil melhor.

Eles já percorreram mais de 405.807 quilômetros e catalogaram cerca de 1.530 bons exemplos por todos os estados brasileiros. Colecionaram histórias emocionantes e ideias inspiradoras que deram como fruto um livro, que agora está sendo relançado com atualizações e novo projeto gráfico. Vale destacar que a criação desse movimento, que revelou uma corrente do bem, foi sem qualquer patrocínio e nenhum vínculo religioso ou político. Iara e Eduardo venderam tudo o que tinham e saíram pelo Brasil. Aliás, eles continuam, sempre movidos pelo desejo de descobrir uma sociedade mais humana e ativa na construção de um mundo melhor para se viver. O livro é uma forma de sensibilizar, sem falar que essa ação de divulgar o bem mobiliza pelas redes sociais mais de 150 mil pessoas.

Os dois são mineiros. Iara, de Divinópolis, e Eduardo, de Juiz de Fora. Sobre a vida na estrada, Iara conta que, quando quer voltar para casa, fecha os olhos e em um segundo entra em sua morada. Sua profissão, explica, é tentar fazer o bem, dar sentido à sua vida e fazer sentido em outras vidas. Gosta de pão de queijo, come as palavras, ama dar abraço de coração com coração, e é apaixonada pelo Brasil e pelos brasileiros. Sonhadora, determinada e de fé incondicional. Já Eduardo embarcou em um sonho da mulher que também se tornou seu. Para ele, sua casa é na estrada e a vida é se tornar uma pessoa melhor a cada dia. Ele foi administrador, gestor de pessoas e hoje é voluntário buscando o bem. Realista, focado e crente na possibilidade de mudança do ser humano, ele conta que nunca pensou em dormir em uma barraca e não ter casa própria. Eles afirmam que nunca foram aventureiros, nem não são loucos, simplesmente fazem parte do movimento Caçadores de Bons Exemplos.

Tudo parece lindo, mas há desafios e obstáculos. Cansados de notícias ruins, o casal saiu em busca de boas novas. Desde 2011, o cenário no Brasil foi se deteriorando com crise. Eles reconhecem que os recursos financeiros são limitados, mas o amor é um sentimento ilimitado. “Nunca haverá crise para quem quer ajudar a mudar o mundo.” Ao se deparar com tantos bons exemplos, Iara e Eduardo se tornaram outras pessoas. “Tudo mudou! São sete anos de vivências transformadoras. As pessoas que saíram de Divinópolis em 2011 não são as mesmas pessoas que estão hoje na estrada em busca de bons exemplos. Queremos provar que existem muito mais ações positivas no mundo e que as pessoas têm de conhecê-las e também buscá-las para se inspirar. E todo o retorno que temos nos motiva ainda mais a continuar. Não é fácil, mas foi uma escolha que fizemos e somos felizes. Queremos sensibilizar e motivar as pessoas a agir, já que a mudança está em nossas mãos.”

VIVER COM SIGNIFICADO A proposta de Iara e Eduardo é que cada um se pergunte quem é um bom exemplo perto de casa, no bairro ou na cidade. Eles garantem que, mesmo com as dificuldades, o otimismo nunca foi abalado. “Acreditamos incondicionalmente no ser humano, apenas precisamos encontrar a melhor versão de nós mesmos. Todos nascemos bons, precisamos canalizar melhor essa energia. As dificuldades são inúmeras, financeiras, emocionais, psicológicas. Nós somos seres humanos e a todo momento temos medo pela falta de dinheiro, segurança... Porém, essas dificuldades e o medo nos são essenciais, senão pularíamos de uma montanha achando que somos ‘super-homem’. E tudo é enfrentado ‘juntos’, um apoiando o outro. Acreditamos que o pré-ocupar o tempo não gera resultado. Resolvemos viver e conviver no presente. Você pode dormir hoje e amanhã não acordar. Portanto, viva o hoje. Isso não significa ser inconsequente, mas viver com significado.”

Então, para ajudar, basta querer. Para Iara e Eduardo, “o principal é a coragem. Se analisarmos a origem da palavra em latim, podemos interpretar como agir com o coração.” E a fé que têm é respalda pelas atitudes do brasileiro, mesmo vivendo realidades tão desiguais e absurdas. “O brasileiro é muito solidário. E pessoas de todas as classes econômicas ajudam. Já encontramos uma senhora que ganha menos de um salário mínimo por mês e atende 68 crianças em contraturno escolar. Como também conhecemos o dono de uma das maiores heranças do mundo, que decidiu ficar no Brasil e fazer a transformação aqui.”

Iara e Eduardo enfatizam que caridade e solidariedade são dois atos importantes no mundo. “Encontramos muitas pessoas que não têm nenhum vínculo com ONGs, entidades, religião, grupos. A grande maioria faz o trabalho pontual de distribuição de alimentos, roupas e brinquedos, que tem grande valor e envolve o ato de caridade. Porém, as ONGs são extremamente importantes por fazer um trabalho de longo prazo, que permeia o ato da solidariedade por meio da transformação social.”

Quanto ao livro, Iara explica que, na atual situação do Brasil, em que a população está desacreditada no ser humano, eles acharam importante relançá-lo com uma capa da bandeira do país escrito “Se você também cansou de ouvir notícias ruins, retire da caixa um Brasil que vale a pena”. Dentro da caixa está o livro Caçadores de bons exemplos – Em busca de brasileiros que fazem a diferença. “O Brasil está cheio de problemas, mas temos muitas pessoas indo em busca das soluções. Vamos valorizar o lado luminoso do país.”



Inspire-se

Iara e Eduardo registraram e conheceram mais de 1.500 projetos e ações sociais. Escolher um é tarefa das mais difíceis, mas eles citam três exemplos para que todos se inspirem:

1 – Em Minas Gerais, tem o projeto do “Tião Tocha”, do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), onde foram criadas mais de 1.500 tecnologias sociais de como educar uma criança com baixo custo. A história dele é linda. Um dia ele cansou de ser professor e se tornou um educador. Ele prova que esse é o caminho de nossa educação. Para conhecer, acesse www.cpcd.org.br.

2 – No Rio de Janeiro, há o projeto “Vera Cordeiro” do Saúde Criança, onde ele empodera famílias não somente com o tratamento da saúde tradicional, e sim juntando uma equipe multidisciplinar para acolhimento e transformação social. O que nos prova que existe a verdadeira medicina. Conheça: www.saudecrianca.org.br.

3 – Em São Paulo, tem o Dr. Otoboni. Advogado paulista, Mário Ottoboni idealizou e ajudou a criar o método Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), que cuida de detentos de uma maneira digna e reestruturadora. Para ele, “ninguém é irrecuperável”. Nesse método, os próprios presos/detentos cuidam de si, fazem a própria comida, têm aula de artes, marcenaria etc. O lema é “Matando o criminoso e salvando o homem!”. O custo de uma Apac é 1/3 do valor de presídios normais pelo Brasil. O que nos prova que é possível a ressocialização, que o sistema presidiário tem solução. Descubra: www.apacitauna.com.br.