Chá deve ser saboreado como vinho

Especialista em nutrição clínica destaca a importância de introduzir o chá no dia a dia, mas alerta sobre o consumo aleatório e o risco de intoxicar o organismo

por Lilian Monteiro 29/06/2014 08:02

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Ah! Bon/Divulgacão
Tradicional chá indiano à base de gengibre, cravo, canela e cardamomo (foto: Ah! Bon/Divulgacão)
Cuidado com a saúde e com o corpo. O chá é a bebida ideal para o inverno, aquece o corpo e diminui o risco de engordar, já que é bem menos calórico que os caldos, por exemplo, tão consumidos nesta época de baixas temperaturas, e alimenta. A nutricionista Juliana Nakabayashi, especialista em nutrição clínica e consultora em reeducação alimentar, exalta o seu consumo. “O chá é estimulado no inverno porque aquece e acolhe. A sensação de querer comer mais no frio é real porque o corpo precisa manter a temperatura. Mas não tem de ser um bolo com calda de chocolate, melhor escolher uma sopa de legumes. É fictícia a ideia de comer muito, já que o organismo precisa de bem pouco. Por isso, o chá é ótima opção para manter o corpo aquecido e diminuir a falsa sensação de fome. Ela é falsa porque a questão, na verdade, é a temperatura.” Esse é o primeiro argumento para você criar o hábito de tomar chá. “O corpo precisa de mais calorias nesse período, mas não é preciso chegar acima do peso no verão”.

Juliana, que também é diretora e sócia do Alimentação e Bem Estar (www.alimentacaoebemestar.com), lembra que o mineiro não é “nada de chá”, mas que as nutricionistas procuram gerar essa consciência por serem muitos os benefícios., “principalmente os de ervas frescas, da horta e orgânicos. Ou ainda os de ervas secas (desidratadas) de lojas de produtos naturais”. Para ela, os chás de caixinhas (sachês) e os de garrafas, industrializados, “têm menos benefícios”.

Com tudo que tem a favor, Juliana lembra que o consumo de chá não pode ser indiscriminado. Todos podem beber? Não é bem assim. “O excesso de chá verde pode causar taquicardia, porque tem cafeína, e quem faz uso de anticoagulantes deve evitar, já que contém a vitamina K e ela favorece a coagulação do sangue. A recomendação geral é usar de duas a quatro xícaras por dia, devendo ser consumido até as 16h, já que pode prejudicar o sono, aumentar a irritabilidade e a ansiedade noturna por causa da cafeína”.

A nutricionista enfatiza que alguns chás são perigosos, já que “podem intoxicar o organismo, principalmente o fígado, que terá de metabolizar e eliminar essas substâncias, o que vai sobrecarregá-lo. O que pode ocorrer também com os rins, no processo diurético”. Por isso, ela alerta que a bebida “não dever ser usada de forma aleatória, sem indicação de um profissional, porque também pode causar dano à saúde. Principalmente os chás feitos de plantas pouco conhecidas. Agora, nos de ervas cultivadas em horta, como hortelã, capim-cidreira, erva-doce e alecrim, os riscos praticamente não existem, até mesmo porque existem muitos estudos sobre eles”.

VENENO
Portanto, é preciso saber que nem mesmo o chazinho é inofensivo. “Muitas vezes, as pessoas só pensam na alimentação saudável, mas não têm consciência de que todo alimento pode ter contraindicação. Já dizia o médico e físico suíço Paracelso, que viveu no século 15, que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose.” Ela destaca ainda o cuidado que é preciso ter com chás badalados por celebridades e que viram destaque na mídia, principalmente atingindo o público focado no emagrecimento. Uma hora é o chá verde que está na moda, depois o branco, o vermelho, o preto... “De forma geral, os efeitos dos chás são benéficos e terapêuticos. No entanto, é preciso saber a dosagem correta para fazer bem à saúde.”

Jair Amaral/EM/D.A Press
Juliana Nakabayashi, nutricionista (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Há chás menos agressivos ao organismo e que, em determinados momentos, podem até, com orientação médica, substituir alguma medicação. Por exemplo, o alecrim é conhecido como omeprazol natural, é digestivo e restaura o pH do estômago. Ao conversar com seu médico, talvez seja possível trocar o remédio pelo chá. O de jasmim é muito usado no Oriente como digestivo, consumido depois das refeições e é bom para a ansiedade. Mas Juliana deixa bem claro que seja qual for o chá é “importante ter orientação de um profissional”.

Juliana Nakabayashi reconhece que o brasileiro tem dificuldade de beber chá, principalmente por causa do paladar. O estranhamento faz muitos repetirem a ideia de “água choca, sem graça”. Para ela, é um pecado adoçar o chá. “O verdadeiro é sem açúcar. Nada de adoçante. Pode até pôr um pouco de mel, açúcar orgânico, o mascavo. Se não conseguir, podem-se usar outros artifícios, como uma rodela de laranja, gotas de limão, de baunilha, uma pitada de canela, até conseguir beber só a erva com água.” Mas a nutricionista exalta a bebida “milenar” e reforça o quanto é saudável aprender a apreciá-la. “Não é exagerar, mas saborear. Beber chá como o vinho. Em quantidade moderada, uma xícara por vez. No começo há dificuldade, mas aos poucos você vai querer incorporá-lo. Quem toma chá, além de ingerir mais líquido dorme melhor, o intestino funciona bem, alivia a TPM e muito mais. Ele não é medicamento, mas ajuda. Por isso, procure incorporar os chás no seu dia a dia. Novos hábitos podem ser adquiridos e nunca é tarde para começar.”

Soraia Piva / EM / DA Press
(foto: Soraia Piva / EM / DA Press)
Andrea Dario Frias - Doutora em nutrição e coordenadora do Centro de Pesquisa Sanavita
Aliados da saúde durante o ano todo

“No inverno, a necessidade de repor água é menor que no verão, por isso muitas pessoas reduzem o consumo de sucos, frutas e saladas, que não aquecem o organismo conforme a necessidade, e passam a dar preferência a alimentos mais quentes, calóricos e com digestão mais lenta, que proporcionam sensação de saciedade por mais tempo. Por isso, é natural o desejo incontrolável por pães, bolos e massas quentinhos, fondues, chocolate quente, cappuccinos, vinhos, entre outras delícias altamente calóricas. Os chás são aliados da saúde em qualquer época do ano. Mas no inverno, quando tendemos a ingerir mais calorias, eles são uma ótima alternativa. De baixa caloria, os chás com Camellia sinensis e hibiscus ajudam no controle do peso por ter substâncias com ação termogênica. Além disso, são ricos em antioxidantes que beneficiam a saúde geral, inclusive o sistema imunológico, que pode ficar mais frágil nesse período de temperaturas baixas. Mas é importante lembrar que as atividades físicas não devem ser suspensas por conta do frio.”