Luiz Eduardo Soares reflete sobre os desafios do sistema educacional diante do avanço da tecnologia

Autor de livro com histórias que tentam evitar a evasão escolar em zonas de conflito no Rio, o antropólogo também fala sobre os reflexos sociais do processo de migração no século 20

por Sandra Kiefer 17/11/2017 11:27

“Essas histórias foram escritas para que não mais se repitam.” Ao autografar um exemplar de Vidas presentes, o mais recente de seus 17 livros publicados, Luiz Eduardo Soares deixa clara a importância de ter sido convidado a selecionar e redigir 15 relatos comoventes. Graças à iniciativa da Associação Cidade Escola Aprendiz, encampada pela capital fluminense, 17 mil articuladores subiram morros e vasculharam periferias do Rio de Janeiro à cata de cada uma das 23,7 mil crianças evadidas da escola, conseguindo reconduzir 94% delas para a sala de aula.

Considerado um dos maiores pensadores dos impasses e contradições do Brasil contemporâneo, o antropólogo, cientista político e escritor, neste trabalho, vai além do tema do qual é um dos maiores especialistas do país: segurança pública. Soares foi secretário nacional de Segurança e coordenador dessa área no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Suas experiências resultaram na realização de obras-primas como Meu casaco de general, finalista do Prêmio Jabuti, e Elite da tropa, adaptado para o cinema, com Wagner Moura no papel do capitão Nascimento no longa Tropa de elite.

Durante a conversa descontraída, o escritor, de 63 anos, deixou escapar que tem um neto aficionado por eletrônicos e que “detesta” o modelo tradicional de ensino adotado na maioria das escolas no país. “Vejo a experiência pessoal do meu neto adolescente detestando a escola perante um mundo fascinante para ele, que é interessado em robótica e capaz de fazer jogos para brincar no celular, mas que acaba sendo obrigado a estudar alguns temas que, de fato, parecem ser de outro tempo.”

Dizendo-se à vontade para falar sobre os desafios da educação no século 21, visto que há mais de 40 anos dá aulas basicamente expositivas, Luiz Eduardo Soares admite não ter a chave da solução para o problema: “Mas as pessoas mais interessantes que conheço dessa área estão se questionando a respeito do espaço da sala de aula, do discurso unilateral, do lugar da retórica, da unidirecionalidade do ensino num ambiente cultural marcado pelas redes sociais e internet”. Embora se considere otimista, o professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), instituição que enfrenta uma de suas mais graves crises com a falta de pagamento de funcionários, não deixa de demonstrar “desconsolo” pela atual situação do Rio.

Como legado, o antropólogo revela ter um livro inédito sobre o Brasil e seu duplo, no qual aborda a história brasileira das últimas cinco décadas: “É uma resposta à idade. Quando fiz 60 anos, perguntei-me que contribuição deixaria ao país, a meu neto, que poderia ajudar na compreensão de onde vivemos”. Entre as mudanças que acompanhou, Luiz Eduardo Soares destaca a explosão das igrejas pentecostais no país e a radical inversão de valores das populações do campo, migrando para as áreas urbanas.

“Vivemos um fenômeno nos últimos 50 anos, dos anos 1920 até a metade do último século, na década de 1970. Éramos 35% urbanos e nos tornamos 35% rurais, ou seja, 65% urbanos. Não houve caso similar no mundo de mudança tão drástica em tão pouco tempo e de forma tão sofisticada. Isso tem consequências até hoje. Então, vendo de Marte, o Brasil se deslocou como as placas tectônicas”. E completa: “Nesse sentido, podemos dizer que o país é muito menos violento do que poderia ser”. A seguir, as ideias de Luiz Eduardo Soares proferidas durante o projeto Sempre um Papo, em BH, onde ele lançou Vidas presentes, e em entrevista ao Pensar.

VIDAS PRESENTES

ESCOLA APRENDIZ

O livro Vidas presentes resulta de uma pesquisa da qual não participei e por isso me sinto muito à vontade para elogiar. Teve origem na Associação Cidade Escola Aprendiz para, em parceria com a municipalidade do Rio, identificar crianças fora da escola. Durante três anos foi feito o levantamento para identificar 23,7 mil crianças fora da escola, das quais 22,3 mil puderam ser reconduzidas. Foi um belo trabalho, com resultado gratificante, embora seja pequeno diante do desafio de entender o porquê de esses alunos terem evadido e de entender qual será a escola para a qual irão retornar. Será que essas razões foram alteradas ou o ciclo vai continuar se reproduzindo?

PESQUISA-MODELO
A pesquisa segue modelo usado nos Estados Unidos, o qual sempre tive vontade de aplicar no Brasil, em que o projeto é colocado à prova e, se tiver bons resultados, avaliados por instâncias independentes, poderá ser então apropriado pelo poder local e se converter em política pública. Em geral, os projetos são feitos por entidades independentes e, muitas vezes, se perdem ou não têm continuidade. Este é o primeiro no Brasil a adotar essa estratégia, em comum acordo com a municipalidade do Rio, na gestão do secretário municipal de Educação César Benjamin, empenhado em dar continuidade à tarefa de identificar as crianças fora da escola.

A METODOLOGIA
Há toda uma metodologia desenvolvida para encontrar as crianças que evadiram da escola. Você não pode imaginar o quão isso pode ser difícil. Além das informações prestadas pelas escolas e coordenadorias locais, muitas vezes é preciso ir a campo e fazer a busca ativa do ex-aluno, sem maiores referências de nome ou endereços. No Rio, para se ter acesso a territórios mais vulneráveis, era preciso pedir permissão às milícias locais. As mais de 70 articuladoras do projeto, em sua maioria mulheres, foram notáveis pela sensibilidade, coragem e competência para descobrir formas de negociar com os poderes locais, apresentando o projeto e conseguindo passe livre, digamos assim, para conseguir circular nas comunidades.

EVASÃO ESCOLAR

Há um esforço grande do Rio de Janeiro, que concentra o maior número de escolas públicas municipais no Brasil, mas, ao mesmo tempo, é onde os professores enfrentam situações dantescas para dar aula, como se jogar no chão embaixo de tiroteios, vivendo em tensão permanente. Segundo dados do Exército e da Secretaria de Segurança Pública do Rio, há mais de 850 favelas sob o controle de grupos armados. Se combinarmos o coquetel explosivo com o desemprego, a evasão escolar e problemas familiares, em casos como incesto, violação e violência contra crianças e mulheres, como vamos esperar um futuro? Inclusive, acho curioso o discurso liberal puro que supõe a igualdade de oportunidades e da meritocracia, supondo que todos partam de igual patamar. É impossível sustentar isso com nossa realidade, que condena tanta gente a mais do que o desemprego, ao sofrimento e ao desamparo.

MOBILIZAÇÃO SOCIAL
A sociedade não está parada, há uma grande mobilização dos professores, dos coletivos urbanos, todo mundo se perguntando o que fazer e tentando encontrar uma saída ao ceticismo, ao imobilismo. Há também os que se entregam. Tenho sentido, no Rio, que as pessoas não se filiam a partidos, mas que se reúnem em suas casas para pensar na situação brasileira. É uma mudança importante, assim como a consciência da educação como lugar-chave.


CAUSAS DA EVASÃO

Não adianta apenas trazer a criança de volta para a escola. É preciso pensar no que levou essa criança a deixar a sala de aula. Há um nomadismo na população das classes vulneráveis muito maior do que se for comparado ao das famílias de classe média, exigindo que a mulher, sozinha na criação dos filhos, saia de casa em busca de melhores condições de habitação e de acesso a trabalho. A condução também é cara, então é preciso morar perto do trabalho. Outra razão é a própria violência, em que se foge de casa para encontrar outro território um pouco mais razoável para morar.

HISTÓRIAS REAIS
O trabalho foi realizado, teve sucesso e gerou relatório sociológico de qualidade, mas poucos vão lê-lo por se tratar de peças acadêmicas, acessíveis apenas a especialistas e a outros profissionais diretamente envolvidos. Daí é que fui convidado a participar. Para além dos números, estatísticas e análises, era preciso contar algumas histórias reais para que o público tivesse a dimensão humana do trabalho desenvolvido. Escolhi 15 histórias, entre as mais reveladoras. Escrevi essas histórias para que elas não mais se repitam.


EXEMPLO REVELADOR
Um exemplo tocante e revelador é o de uma criança expulsa da escola por ser violenta e agressiva, e que jogava cadeiras e mesas e atacava professores, conforme descrição oferecida pela escola, encapsulando o menino em um diagnóstico negativo. Foi difícil localizar o menino, que vivia nos confins de uma comunidade muito pobre. Enfim, a articuladora chega até o local. Olhando em volta, vê um menino de 5 anos no chão, chorando de fome e, no outro canto, o garoto evadido da escola com os olhos baixos, comendo farinha e água em um receptáculo bem modesto. Tentando criar um laço, ela chama o menino pelo nome e pergunta o porquê de ele não ter gostado da escola, sugerindo que é possível encontrar outro colégio e dizendo que poderá ir lá com ele para ver se ele vai ou não gostar. Como o menino não levanta o olhar, a mãe o repreende severamente: “Olha para a tia, ela está falando com você”. Aí, ele atira a vasilha na qual comia e parte para cima da mãe. Depois de atacar a mãe, dirige-se à articuladora, que, num movimento absolutamente instintivo, abre os braços e o abraça fortemente. Ele começa a chorar e, a partir dali, a armadura se desfaz.

MUDANÇAS NA EDUCAÇÃO
Ainda que tenha sido professor por uma vida inteira, mais de 40 anos, é diferente quando se está na universidade pensando a docência e o modo de compartilhar conhecimento e pesquisas do que em propriamente transmitir conhecimentos. Na escola, você tem que criar condições para que essas crianças sejam conquistadas, para que seu imaginário seja seduzido e, para isso, é preciso oferecer linguagens de comunicação capazes de suscitar esse desejo. A escola é ainda do século 19 e já estamos no século 21.

NOVA SALA DE AULA
As pessoas mais interessantes que conheço da área de educação estão se questionando a respeito do espaço da sala de aula, do discurso unilateral, do lugar da retórica, da unidirecionalidade do ensino num ambiente cultural marcado pelas redes sociais e internet. Também não adianta permitir equipamentos eletrônicos em sala de aula para terem o mesmo objeto de uso, reiterando o velho teatro do professor. Digo isso à vontade porque sou o professor mais tradicional do mundo, que deu aulas expositivas a vida inteira, mas sei que esse tempo passou e que eu teria de me reciclar para encontrar outras modalidades de ensinar.


Brasil histórico

OTIMISMO
(Bertolt) Brecht tem uma peça que, no final, tem uma frase magnífica. O protagonista, que é também o narrador, se dirige à plateia e diz: “Como vocês viram, não tem saída. Mas tem de ter”. Aí a peça termina. Não é possível encerrar uma reflexão qualquer sobre um país, cidade ou sociedade que nos leve ao imobilismo e que nos leve a desistir da nossa responsabilidade como cidadão. Ainda que a razão recomende, não me parece eticamente aceitável, porque sempre há possibilidade razoável, ainda que improvável, de se construírem saídas. Nossa expectativa é parte da construção do futuro e, se nos colocamos em uma perspectiva mais positiva, tenderemos a contribuir para que de fato ela se realize, ainda que não inteiramente.

EVOLUÇÃO
Os avanços são impressionantes no Brasil do século 20, mesmo com todos os problemas e terríveis desigualdades. No passado recente, o país importava até tijolos e manteiga e termina o século como a sétima, a oitava economia do mundo. Há dois fatores ainda pendentes: a questão ambiental e a falta de infraestrutura. Entretanto, se colocarmos em uma perspectiva histórica, podemos acreditar que o país tenha condições e energias para superar os desafios impostos ao longo do século 21. Para isso, precisamos contribuir com passos concretos.

A GRANDE MUDANÇA
Em relação à religião, o Brasil viveu no século 20, aí estou trazendo um pouco do Brasil e seu duplo, se nós nos colocarmos em outro planeta e nos perguntarmos o que ocorreu de realmente importante no país. Para divisar esse fenômeno lá de outro planeta tem de ser algo de grande magnitude e em larga escala. Nós vivemos um fenômeno em relação ao período de 50 anos, desde os anos 1920 até a metade do último século, na década de 1970 éramos 35% urbanos e nos tornamos 35% rurais, ou seja, 65% urbanos. Essa mudança ocorreu em um cenário onde existiam de 85 milhões a 90 milhões de habitantes. Não houve caso similar no mundo de uma mudança tão drástica em tão pouco tempo e de forma tão sofisticada, e isso tem consequências até hoje. Então, vendo de Marte, o Brasil se deslocou como as placas tectônicas, com aquela vibração e dispêndio de energia sem controle, maior do que se poderia imaginar. Nesse sentido, podemos dizer que o Brasil é muito menos violento do que poderia ser.

MIGRAÇÃO PARA AS CIDADES
O deslocamento da população do campo para as cidades ocorreu celeremente durante um período ditatorial, quando não havia canais de expressão e instrumentos de divulgação, além de ter se dado de maneira muito selvagem, porque não foi fruto da atração do novo mercado de trabalho. É claro que há casos e casos, há uma heterogeneidade grande, mas as pesquisas demonstram que o pulso para a migração foram as condições difíceis no campo. Foi uma expulsão do campo, por assim dizer, pois os níveis de exploração do trabalho se agudizaram muito e a manutenção da família estava se tornando inviável com as mudanças que se davam no campo, com a presença de muita violência por parte dos proprietários de grandes latifúndios e com o agravamento da seca e dos problemas ambientais, que impulsionaram o processo. As cidades incharam de forma desordenada.

PERDA DE RAÍZES
Quando uma pessoa é extraída do campo e perde suas raízes não é o mesmo sujeito que apenas se desloca no cenário, não significa apenas um desafio cognitivo. Seria fácil se as questões fossem “onde vou passar a trabalhar”, “qual vai ser o novo método de trabalho”, “os novos valores da cidade”, “como funciona a vizinhança” são perguntas intelectuais para as quais se podem oferecer respostas intelectuais, mas não é assim que se dá. Esse é um processo emocional e profundo, em que os valores estão sendo desestabilizados. Ocorreu uma metamorfose do sujeito, que tem de se reinventar a si mesmo, enquanto parte da nova ambiência da cidade.

EXPLOSÃO EVANGÉLICA

Outro grande fenômeno é a revolução cultural. Pela primeira vez na história, há uma mudança na distribuição das adesões ao universo evangélico com a sua heterogeneidade, que estão crescendo de forma inversamente proporcional ao universo católico. Já existe uma divisão das partes próxima a 50%, com uma curva de ascensão muito pronunciada a partir do início dos anos 1990. É curioso observar que algumas das religiões evangélicas pentecostais adotam a chamada teologia da prosperidade como virtude. Isso significa que, pela primeira vez no Brasil, há um apelo religioso inspirado pelo que Weber chamava de o ascetismo intramundano, quer dizer, uma religião voltada para o aqui e agora, para sua vida real concreta. A religião católica remete à salvação anímica pós-morte etc., as religiões tradicionais dialogam com a transcendência e se circunscrevem às realizações mundanas. A teologia da prosperidade diz que você pode sim ser feliz agora, pode subir na vida, ter melhores empregos e de que ter um carro não é pecado, não é feio desejar ascender social e economicamente, isso é factível e a comunidade unida pode te ajudar. Nos últimos 20 anos, a sociedade brasileira contou com a maior redução de desigualdades da história, ainda que insuficiente, mas muito pronunciada, com acesso a uma renda que permite o consumo, como antes não se dava, além da saída de 30 milhões de pessoas da miséria. Esse processo coincide com o trânsito da teologia da prosperidade, conferindo sociologicamente a estrutura de plausibilidade que torna o credo verossímil, por que esse foi o período de crescimento do emprego, de melhora da renda, ou seja, houve uma espécie de comunhão entre a aposta no aqui e agora pela força da comunidade e as condições materiais, que de fato evoluíram neste período.

SOLUÇÕES PARA O RIO
No caso do Rio de Janeiro, as lideranças sociais e os atores políticos com alguma credibilidade, desde que não estejam envolvidos com corrupção, ou seja, os que sobraram, deveriam reunir os cacos e propor um esforço de salvação do estado em uma grande coalizão suprapartidária, em que a política ficasse em segundo plano. Claro que tudo isso é político, mas eu digo que seria necessário que a velha política, com a sua disputa de poder, fosse suspensa. Será que isso é possível? Talvez a gravidade da situação esteja levando a isso. Você veja que o governador Pezão só não caiu porque não há quem se disponha a substituí-lo. Não há nenhuma vontade política forte, nenhuma vaidade ou ambição que disponha um protagonista político a substituir hoje o governador. Todos se recolhem. Quem é que pode herdar a falência, a ruína do Rio?

MALDIÇÃO DO PETRÓLEO

Estou chovendo no molhado, mas o nível de corrupção a que se chegou nos governos anteriores no Rio de Janeiro é inacreditável. Em 2007, o preço do barril de petróleo estava em torno de US$ 110, por aí. Em 2015, chegou a US$ 30 ou até abaixo disso, US$ 27, manteve-se nesse patamar por um período e agora tornou a subir para algo em torno de US$ 50. No entanto, todos os cálculos de planejamento feitos para o futuro levaram em consideração os US$ 110. Só isso já é de uma irresponsabilidade, de uma inconsequência e, eu diria, de uma demonstração das piores intenções porque a história do mundo nos conta o que ocorreu, por exemplo, na Holanda, com a maldição do petróleo. Os países que acreditam inteiramente nesta fonte orgânica de riqueza acabam se surpreendendo porque não se preparam para as oscilações de preço do barril, que dependem das políticas internacionais.


O AUTOR

>> Nascido em Nova Friburgo (RJ), Luiz Eduardo Soares se formou em literatura na PUC Rio, fez mestrado em antropologia, doutorado em ciência política e pós-doutorado em filosofia política. Foi coordenador de Segurança e Cidadania do Rio de Janeiro até março de 2000, sendo desligado do cargo depois de denunciar a existência de uma “banda podre” na polícia carioca. Em 2003, foi secretário nacional de Segurança Pública. Especialista em violência, escreveu os livros Meu casaco de general e Elite da tropa – este último, de 2006, inspirou o longa Tropa de elite, dirigido por José Padilha, que conquistou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, em 2008. Entre seus livros está o romance Experimento de Avelar, premiado pela Associação de Críticos Brasileiros (1996). Soares é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordena o curso a distância de gestão e políticas em segurança pública na Universidade Estácio de Sá.

No intenso agora

Luiz Eduardo Soares comenta o recém-estreado documentário de João Moreira Salles, um ensaio filmado sobre os movimentos sociais à esquerda do final dos anos 1960, justapostos a imagens captadas pela mãe do diretor em Pequim, durante a Revolução Chinesa.

“O filme de João Moreira Salles é precioso não só como documento histórico, como pela comovida reflexão que propõe: assim como as festas não podem ser compreendidas, em todas as suas dimensões, por quem não participa (vá explicar a um não torcedor o que é a emoção de comemorar um gol no estádio lotado), vários episódios sociais e políticos de grande envergadura histórica tampouco podem ser avaliados exclusivamente sob a ótica da eficácia, da capacidade de cumprir ou não seus objetivos. As manifestações libertárias de 1968 constituíram experiências únicas e inesquecíveis, que marcaram a vida dos que mergulharam nas mobilizações. Os participantes tiveram o privilégio de vislumbrar, pela janela que se abriu e fechou num piscar de olhos, um outro mundo, fraterno e apaixonante, que se revelou possível e real naquele instante intenso.”

 

VIDAS PRESENTES
De Luiz Eduardo Soares e Francisco Maringelli (gravuras)
Projeto Aluno Presente
124 páginas
Informações: www.cidadeescolaaprendiz.org.br