Netflix flerta com Bollywood na violenta Jogos sagrados

Novo seriado mira potencial do enorme público indiano

por Mariana Peixoto 13/07/2018 08:00
Netflix/divulgação
Netflix/divulgação (foto: Netflix/divulgação)
Com população de 1,3 bilhão de pessoas, a Índia é um território importantíssimo para a Netflix. Em 2016, a gigante mundial do streaming aportou em território indiano. Passados dois anos e meio, está longe da liderança – a Hotstar, plataforma digital daquele país, lançada em 2015, é a líder do segundo maior mercado do mundo.

No ar há uma semana, Jogos sagrados (Sacred games) é a primeira produção indiana da Netflix. Chega amparada por uma história agora conhecida do mundo. A série, com oito episódios, é uma adaptação do romance homônimo do escritor indiano-americano Vikram Chandra – no Brasil, o calhamaço de quase 1 mil páginas foi lançado, há 10 anos, pela Companhia das Letras.

A trama, um thriller policial ambicioso, tenta expor a realidade social da Índia. Mumbai, a maior cidade do país, é o cenário. O crime organizado, a política local e a espionagem indiana são os universos pelos quais os personagens transitam.

Sartaj Singh (Saif Ali Khan, astro de Bollywood) é um policial raro. Por causa de sua honestidade (e também por ser da minoria religiosa sikh), vive à sombra dos colegas. Numa noite qualquer, recebe o telefonema de um homem prestes a cometer suicídio. Ele é Ganesh Gaitonde (Nawazuddin Siddiqui), o poderoso gângster que muitos acreditaram estar morto há décadas.

Antes de se matar, Gaitonde revela a Singh que algo vai acontecer em Mumbai dali a 25 dias – e ninguém sobreviverá. A partir daí, a narrativa se desenrola em dois tempos. No momento atual, assistimos à busca do policial pela verdade, enquanto, sob a narração em off de Gaitonde, acompanhamos sua escalada, em flashbacks, rumo ao topo do crime. Ao final, as duas narrativas acabam se encontrando.

Jogos sagrados, desde já, vem sendo chamado de “Narcos da Índia”. Não vamos a tanto. Sim, a série tem também gângsteres, sexo, violência explícita, muita corrupção policial. Há algum humor – graças a personagens pra lá de caricatos – e muita cor local (da diversidade de religiões indianas ao cenário da produção dos filmes de Bollywood).

Mas, sem referências sobre a vida e as crenças indianas, o espectador pode se perder. Mais: a trama de Jogos sagrados é bastante complexa, cheia de idas e vindas. Na metade final dos episódios, parece haver uma corrida para que a história se resolva, o que faz com que situações complicadas sejam resolvidas a toque de caixa.

E há a questão estética. A série utiliza edição rápida, muita música e planos fechados, como a maior parte das produções do gênero. No entanto, há detalhes que chegam a incomodar, como o excessivo uso do chroma key (algo recorrente na produção bollywoodiana). Ver o herói e sua companheira de investigação, uma agente secreta da RAW (a versão local da CIA), numa motocicleta que parece não sair do lugar, chega a ser risível. Assim como alguns momentos de extrema violência, com sangue falso jorrando aos borbotões.

Jogos sagrados termina abruptamente, deixando o caminho aberto para a segunda temporada. O anúncio deve vir em breve, pois com mercado tão grande a ser explorado, a hora é de investir.

• JOGOS SAGRADOS
• Os oito episódios da primeira temporada estão disponíveis na Netflix

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