Genitália ambígua: saiba por que ela ocorre e como se pode tratar

A despeito do instigante debate sobre , existem as alterações verdadeiras de diferenciação sexual que, apesar da ocorrência rara nos consultórios, representam desafios diagnósticos para os médicos

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(foto: PxHere)

De assunto restrito aos tabus até discussões calorosas, temos vivido nos dias atuais debate acerca de gênero e diferenciação sexual. Tal discussão tem ganhado força pelas reivindicações dos grupos que não se enquadram na simples definição das características sexuais geneticamente determinadas. 
 
Sexo pode ser definido como a dimensão biológica enquanto gênero pode ser definido como a dimensão social, de como a pessoa se percebe. Siglas ou palavras como LGBTTT, heterossexual, homossexual, transexual, não binário, pansexual, assexual,  dentre outros, são parte do neovocabulário que ganha cada vez mais espaço nesse cenário. 

A despeito desse instigante e necessário debate social, existem as alterações verdadeiras de diferenciação sexual que, apesar da ocorrência rara nos consultórios, representam desafios diagnósticos para os médicos e mobilizam definições éticas e práticas sobre ambiguidade genital ou alterações das gônadas (ovários e testículos). 

O papel sexual é fortemente influenciado pelo sexo ao nascimento, cujas interações sociais são baseadas na aparência dos genitais e dos caracteres sexuais secundários (pelos, mamas, dentre outros). 

Em embriões humanos, as gônadas começam o desenvolvimento por volta da 5ª semana de gestação ditadas pelo sexo genético. Em seguida, as gônadas se diferenciam determinando o ambiente hormonal do embrião e conformação dos órgãos sexuais internos e genitália externa.

Defeitos em quaisquer dessas fases podem levar à ambiguidade sexual. Exposição do embrião feminino (geneticamente XX) a hormônios androgênicos masculinizantes como as observadas na hiperplasia congênita da glândula suprarrenal pode levar a um grau variável de ambiguidade genital como a hipertrofia do clitóris. Se não tratadas, os pelos pubianos poderão aparecer com 2 a 4 anos de idade, seguidos de pelos axilares, corporais e barba.

Ao contrário, na exposição do embrião masculino (geneticamente XY) a baixos níveis de hormônios androgênicos, a genitália masculina terá desenvolvimento incompleto ou, se na baixa acentuada dos hormônios masculinos, o mesmo apresentará aparência de genitália externa feminina.  
 
O tratamento cirúrgico das alterações anatômicas deve, quando possível, ser realizado nos primeiros anos de vida para evitar que a criança tenha problemas psicológicos relacionados com a genitália externa anormal. Crianças geneticamente masculinas mas com características sexuais secundárias femininas devem ter os testículos extraídos por volta da puberdade para evitar a formação de tumores malignos.
 
Quando os ovários estão ausentes e as pacientes são criadas como mulheres, é necessário o tratamento hormonal na puberdade e depois com hormônios femininos (os estrogênios). A fertilidade futura de mulheres masculinizadas, como no caso da hiperplasia congênita da glândula suprarrenal descrito acima, não estará comprometida pois possuem ovários e útero e poderão engravidar. A grande maioria dos pacientes com genitália ambígua serão estéreis e a preocupação é que eles possam ser adultos psicologicamente normais. 
 
Boa semana a todos!
 
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