Abortamento de repetição: 'Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar'. Será mesmo?

Compreender o motivo da perda pode ajudar a lidar com os sentimentos de culpa frequentemente envolvidos no processo e buscar a solução

Daniel Reche/Pixabay
(foto: Daniel Reche/Pixabay)

Hoje falaremos sobre o abortamento de repetição, um problema que aflige casais que sonham ter filhos e sentem a angústia da perda por várias vezes.

Na investigação da perda gestacional de repetição antes de 20 semanas de gestação, a compreensão do motivo da perda pode ajudar a lidar com os sentimentos de culpa frequentemente envolvidos no processo.

Formalmente indica-se o início da investigação após três abortamentos consecutivos mas pode-se iniciar a investigação após duas perdas, principalmente levando-se em conta a idade e do desejo do casal. Casais com apenas um abortamento não necessitam de uma avaliação formal.

Naturalmente, cerca de 15% das gestações clinicamente reconhecidas evoluem para perda espontânea e aproximadamente 80% de abortos espontâneos ocorrem nas primeiras 12 semanas de gravidez.

Após o primeiro aborto espontâneo, há um aumento muito discreto do risco natural de novo abortamento. Após dois abortamentos, o risco se eleva para aproximadamente 25%, e após o terceiro abortamento esse risco é de aproximadamente 33%.

A idade materna é um fator importante no aumento do risco: uma gravidez aos 40 anos tem o dobro do risco de abortamento que uma gravidez aos 20 anos. 

As anormalidades genéticas do casal e malformações uterinas maternas são as principais causas de abortamentos. O relaxamento e dilatação precoces do colo uterino no início do segundo trimestre de gravidez, a chamada incompetência cervical, está fortemente associada a perdas repetidas e, felizmente, por volta de 14 semanas pode-se realizar a cerclagem que é um procedimento cirúrgico no qual se dá um ponto no colo do útero para evitar que ele dilate, sendo retirado com 37 semanas de gestação com excelentes resultados.

Fatores imunológicos e trombofilias hereditárias parecem ter forte associação com perda gestacional de repetição e não existe nenhuma evidência de que infecção possa estar relacionada. Infelizmente algumas vezes não é possível identificar a causa das perdas gestacionais. Doenças maternas devem estar compensadas antes de engravidar. 

Enfim, a abordagem do casal com abortamentos de repetição envolve acompanhamento multidisciplinar com Obstetra, Geneticista, Patologista e Clínico Geral, que identificarão a causa da perda gestacional em um número significativo das vezes. E isso faz muita diferença, não é mesmo? Boa sorte!
 
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