Por que precisamos de hospitais amigos dos idosos?

Estrutura de muitos hospitais é 'hostil' para os mais velhos, tanto na estrutura de segurança e conforto quanto no relacionamento com o paciente

Pikist
(foto: Pikist)

Muitos leitores acharão estranho o tema desse texto. É possível que nunca tenham parado para pensar a esse respeito, nunca tenham acompanhado um idoso durante uma internação, ou até considerem normais as consequências de uma hospitalização para os mais velhos. Outros, tenho certeza, se identificarão muito com o que direi aqui. Independentemente do nosso conhecimento anterior sobre o assunto, esteja certo - precisamos mudar a forma de cuidar dos idosos nos hospitais.

As pessoas com mais de 60 anos representam 14% da população brasileira hoje, mas quando entramos em um hospital, o que vemos é que aproximadamente uma em cada quatro pessoas internadas têm mais de 60 anos. Esses dados que apresento aqui, foram obtidos através do sistema DRG, e são resultado da análise de mais de 3 milhões de internações em 2019. 

Apesar dos maiores de 60 anos representarem 23% das internações hospitalares, essa população morre 10 vezes mais que os adultos durante uma internação e permanece no hospital muito mais tempo. Enquanto um adulto fica em média 3,4 dias internado, uma pessoa com mais de 60 anos fica 5,4 e os maiores de 80 ficam, em média, 7,2 dias. 

Quando analisamos o que acontece durante a internação, fica claro também que os mais velhos sofrem maiores complicações. Um termo muito usado nos hospitais é evento adverso. Um evento adverso é algo que acontece com a pessoa e que não está relacionada à sua condição de saúde. Uma infecção urinária adquirida dentro de um hospital é um evento adverso, por exemplo. Quase 50% dos eventos adversos que acontecem nos hospitais, recaem sobre os 23% de idosos internados. 

Uma parcela considerável dos idosos saem do hospital pior do que entraram. É comum haver piora da mobilidade e da cognição, isso é, às vezes voltam para casa sem conseguir andar como faziam e mais confusos. 

Outros problemas, não menos importantes e nem menos frequentes, que acontecem com os mais velhos durante sua experiência hospitalar, são dependentes da cultura daquele hospital. Na maioria das instituições, os idosos se sentem pouco envolvidos no seu processo de cuidado e pouco participam das decisões sobre o seu tratamento. Muitos se queixam de que os médicos e enfermeiros não se dirigem a eles, conversam e discutem seu próprio tratamento apenas com o acompanhante. Eles também costumam ser infantilizados e dizem se sentir perdidos nos processos administrativos. 

Infelizmente, a estrutura de muitos hospitais também não é preparada para receber os idosos com conforto e segurança. As camas costumam ser altas, dificultando que a pessoa possa descer e subir sem ajuda e em segurança. O ambiente costuma ter excesso de estímulo luminoso e muito ruído. O sono também não costuma ser respeitado e os procedimentos, como a aferição da glicose e da pressão, são considerados mais importantes do que ele. 

Tudo isso faz com que a grande maioria das unidades hospitalares em nosso país hoje seja hostil aos mais velhos e essa realidade precisa mudar.

Um hospital amigo do idoso prevê o preparo do ambiente, dos funcionários, o envolvimento da gestão e processos assistenciais que protejam e promovam a longevidade. É extremamente necessário que essa forma de cuidar bem dos mais velhos, durante sua trajetória hospitalar, se torne uma prioridade na nossa sociedade. E você? Como se sente quando vai a um hospital, como paciente ou cuidador de alguém?

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: julianacicluz@gmail.com