Deficiência de ferro e anemia na vida da mulher

As mulheres tendem a apresentar menores reservas de ferro do que os homens, como consequência do fluxo menstrual, com risco maior para desenvolver anemia

Arek Socha/Pixabay
(foto: Arek Socha/Pixabay)

A deficiência de ferro, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é considerada uma desordem de origem nutricional de maior prevalência, acometendo 20% a 30 % da população mundial adulta, sendo que as mulheres, gestantes e crianças são os grupos mais vulneráveis.

As causas da deficiência de ferro, basicamente, são devidas à baixa ingestão, à absorção deficiente deste mineral, além das perdas sanguíneas menstruais.

A prevalência da deficiência de ferro em mulheres entre 20 e 49 anos é de 11%, entre 50 a 69 anos é de 5% e, em faixa etária acima de 70 anos, é de 2%, sendo mais evidente no período associado às menstruações (menacme).

Aproximadamente 30% da população do planeta sofre de algum tipo de anemia.

A anemia é definida como uma deficiência nos níveis de hemoglobina (níveis menores que 12 g/dL em mulheres e menor que 13 g/dL em homens), sendo uma importante proteína das hemácias (glóbulos vermelhos do sangue) que são responsáveis pelo transporte do oxigênio no organismo, cuja deficiência se deve a inúmeras causas que, por sua vez, devem ser afastadas.

1. Anemias causadas pela falta de nutrientes

Esse é o tipo de anemia mais comum. Alguns nutrientes são essenciais para a produção de glóbulos vermelhos, como o ferro, a vitamina B12 e o ácido fólico que, na deficiência de um deles, é comum apresentar um quadro de anemia.

Anemia Ferropriva - é aquela causada pela falta de ferro no organismo de uma pessoa, sendo prevalente em 90% dos casos.

Anemia Megaloblástica - geralmente é causada pela deficiência de vitamina B12, podendo ser resultado de alimentação inadequada, problemas na absorção de nutrientes durante a digestão ou uso de medicamentos, como alguns usados em tratamentos de câncer.

2. Anemias hereditárias


Nesses casos, a doença é causada por mutações genéticas que comprometem tanto a produção, quanto a vida útil dos glóbulos vermelhos, cujas mutações são herdadas e detectadas precocemente - precocemente logo após o nascimento ou durante os seis primeiros anos de vida.

Anemia Falciforme - nesta manifestação da doença, os glóbulos vermelhos têm um formato semelhante a uma foice. Estas células têm sua membrana alterada e se rompem facilmente, sendo um dos tipos mais comuns de anemias hereditárias.

Talassemia - neste caso, a mutação genética interfere na produção de hemoglobina, o que gera glóbulos vermelhos menores e com menos quantidade da proteína que transporta oxigênio.

3. Anemias causadas por doenças autoimunes


Pessoas com doença autoimune produzem anticorpos que atacam os glóbulos vermelhos, provocando uma anemia hemolítica que pode ser desencadeada por algum quadro viral ou câncer.

4. Anemias causadas por doenças crônicas


Por interferência de alguma doença crônica, o organismo, ao perceber alguma inflamação, pode retardar a produção de hemácias, o que reduz também a sobrevivência das células. Também é possível desenvolver este tipo de anemia quando o corpo metaboliza o ferro anormalmente, como resultado da doença crônica.

5. Anemia causada por doenças da medula óssea

Embora raros, os casos de anemia aplástica se caracterizam pela redução na produção de glóbulos vermelhos e outros componentes do sangue. Tal condição pode ser adquirida ao longo da vida, depois de radiaterapia, quimioterapia, exposição a substâncias químicas tóxicas (agrotóxicos e inseticidas) ou, até mesmo, após uso de alguns medicamentos.

Entre as possíveis causas da anemia por deficiência de ferro, as perdas sanguíneas menstruais constituem o principal fator da anemia ferropriva na mulher adulta.

A anemia se desenvolve lentamente, depois de esgotadas as reservas de ferro no corpo e na medula óssea.

Inicialmente, ocorre depleção dos depósitos de ferro no organismo, o que se constata com a diminuição da ferritina.

A ferritina é uma proteína produzida pelo fígado, responsável pelo armazenamento do ferro no organismo. Assim, o exame de ferritina sérica é feito com o objetivo de verificar a falta ou excesso de ferro no organismo.

A ferritina baixa comumente indica que os níveis de ferro estão baixos e, por isso, o fígado não produz a ferritina, já que não há ferro disponível para ser armazenado.

Nos dias atuais é muito frequente, em diversos consultórios médicos, a discussão sobre a ferritina, pois sempre existe uma referência a familiares, amigos, vizinhos e conhecidos que apresentam níveis alterados em exame de sangue.

O exame é solicitado, algumas vezes, junto com uma dosagem de ferro e da capacidade total de transporte de ferro, visando detectar e avaliar a gravidade da deficiência ou excesso de ferro.

A contagem de reticulócitos evidencia a capacidade regenerativa da medula, sendo que valores inferiores a 2% ou contagem absoluta de menos de 50.000/mm³ indicam incapacidade da medula para responder ao estímulo anêmico.

No início, a deficiência de ferro inicial não causa nenhum efeito físico.

Se a pessoa não apresentar outros problemas, os sintomas são raros, mesmo antes que a hemoglobina caia abaixo de certo nível (cerca de 10,0 g/dL).

Entretanto, com o progresso da carência de ferro, começam a surgir os sintomas comuns de deficiência de ferro, que incluem fadiga crônica, fraqueza, tontura e cefaléias (dores de cabeça), palidez na pele e mucosas ou falta de apetite.

Ao continuar a depleção (redução) das reservas, pode haver falta de ar, sonolência e irritabilidade.

Se a anemia aumentar, pode ocorrer dor torácica, cefaléias, dores nas pernas, choque e insuficiência cardíaca.

Na decorrência da redução das reservas ocorre comprometimento da eritropoese (produção de hemácias), como observado em valores inferiores da Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) e no Volume Corpuscular Médio (VCM).

Sequencialmente, observa-se uma diminuição nos valores da hemoglobina e do hematócrito, o que compromete a oxigenação tecidual, instalando-se, então, o quadro de anemia.

Para que ocorra adequada eritropoese, a quantidade de ferro necessária é de 5 mg a 10 mg/dia.

Se o fornecimento for inferior a 70% deste valor, ocorre a depleção dos estoques, e, em aproximadamente quatro meses, a eritropoese passa a ser deficitária, o que acarreta queda de 1.0 g/dL nos valores de hemoglobina.

Estudos têm mostrado valores médios de perdas sanguíneas entre 25 a 30 mL/mês no fluxo menstrual, o que representa uma perda mensal entre 12,5 e 15 mg de ferro, ou ainda, de 0,4 a 0,5 mg/dia, nos 28 dias de um ciclo menstrual.

Quando se agregam as perdas basais, a perda total de ferro devido à menstruação é cerca de 1,25 mg/dia.

Isso significa que a necessidade de ferro, em aproximadamente 50% de todas as mulheres, é superior a este valor.

As causas de anemia na mulher diferem de acordo com as suas diferentes fases da vida: infância, menacme, gravidez e climatério.

Em mulheres em idade fértil, a principal causa de deficiência de ferro é o hiperfluxo menstrual.

No que se refere à avaliação das perdas menstruais, uma boa avaliação pelo ginecologista é feita através de uma anamnese dirigida, no sentido de se caracterizar os ciclos menstruais com relação à duração do fluxo, regularidade, volume excessivo (acima de 80ml) e presença de coágulos.

Uma forma prática e fácil consiste em avaliar o número de absorventes utilizados diariamente e o intervalo de troca entre eles.

Estima-se que 50% das pacientes com sangramento uterino disfuncional tenham idade em torno de 45 anos e que, aproximadamente, 20% sejam adolescentes, estando associado com função ovariana anormal e anovulação, sem existência de outras causas ginecológicas que possam contribuir para as perdas vaginais irregulares e abundantes, como pólipos, miomas uterinos e tumores pélvicos.

Outros fatores relacionados que devem ser avaliados é a concomitância com outros estados mórbidos, como: epilepsia, galactorréia, hirsutismo, tireopatia, doenças crônicas (diabetes melitus, doenças hepáticas e renais), discrasias sanguíneas, estado nutricional e hábitos de vida, como os alimentares, excesso de atividade física, etilismo, tabagismo, entre outros, ou o uso de medicamentos, como hormônios exógenos, ácido acetilsalicílico (AAS-Aspirina), anticoagulantes, anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos e digitálicos.

Quando a intensidade da anemia for desproporcional à perda mestrual, outra causa deve ser investigada.

Em aproximadamente 20% das mulheres ocorre sangramento do trato gastrointestinal conjuntamente, cuja investigação deve ser considerada na presença de dor abdominal, dispepsia, refluxo, perda de peso, história familiar de câncer digestivo, presença de anemia refratária ou recorrente e história prévia de doença peptic (gastrica).

Alimentação rica em frutas, verduras, cereais, legumonosas, leite, ovos e carnes são indicados para a prevenção, mas suplementos com ferro são indicados eventualmente para suprir a deficiência deste mineral, assim como suplementos com vitamina B, sempre sob supervisão médica.

O aleitamento materno é importante para evitar a anemia em bebês nos primeiros meses de vida.

Em caso de perda de sangue, transfusões podem ser necessárias, ou ainda o uso de medicamentos para indução de formação de células sanguíneas.

*Gustavo Safe é diretor do grupo formado pelo Centro Avançado em Endometriose e Preservação da Fertilidade, Ovular, Fertilidade, Menopausa e Instituto Safe. Estudioso dos assuntos relacionados à Saúde da Mulher com enfoque na Dor pélvica, Infertilidade, Preservação da Fertilidade, Endometriose, Endoscopia Ginecológica e Cirurgias Minimamente Invasivas.

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