Novas perspectivas no tratamento da doença aterosclerótica cardiovascular

Temos à disposição um verdadeiro arsenal terapêutico para o manuseio da doença aterosclerótica e nunca deveremos negligenciar o uso dessas drogas

 
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(foto: Pixabay)
O estudo COMPASS foi publicado na íntegra no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em 2017, na cidade de Barcelona. Até então do nosso conhecimento, os pacientes chamados de prevenção secundária (aqueles que já possuem um diagnóstico de doença aterosclerótica) apresentavam uma taxa de eventos isquêmicos de até 10% ao ano, mesmo utilizando o melhor tratamento otimizado, como aspirina, estatinas de alta potência, bloqueio do sistema renina-angiotensina-aldosterona etc.
  
O racional do estudo COMPASS foi investigar se a droga rivaroxabana 2,5mg dado 2 vezes ao dia. associado à aspirina 100mg 1 vez ao dia OU rivaroxabana 5,0mg 2 vezes ao dia, OU AAS 100 mg 1 vez ao dia, isoladamente, poderiam reduzir eventos.

Esse estudo foi um estudo duplo cego, randomizado, com uma amostragem de 27.395 pacientes portadores de conhecida doença aterosclerótica importante, seja ela cerebral, carotídea, coronária ou periférica.

O desfecho primário, ou seja, os desfechos clínicos eram caracterizados por um composto de morte cardiovascular, derrame cerebral ou infarto do miocárdio.

Como resposta ao questionamento principal desse excelente estudo, houve uma redução de 24% na incidência dederrame cerebral, infarto do miocárdio ou óbito cardiovascular  com o uso combinado de rivaroxabana 2,5mg e aspirina, quando comparado  à aspirina isoladamente.

Ademais, uma análise de extrema importância, dos 7.470 pacientes portadores de doença vascular arterial das pernas do estudo COMPASS, a associação de rivaroxabana e aspirina reduziu nada mais que 46% na taxa de eventos graves dos membros (isquemia crítica, revascularização periférica ou amputação).


Houve uma tendência à redução de mortalidade geral com a terapia combinada em relação à aspirina isoladamente. Houve um aumento de sangramentos maiores com o uso da terapia combinada em relação ao AAS isolado. Não houve aumento de hemorragia cerebral ou de sangramento fatal. 

Esse estudo foi interrompido precocemente após 23 meses de seguimento médio por superioridade de eficácia do grupo rivaroxabana  junto da aspirina.

Concluindo, o uso da rivaroxabana 2,5mg associado à aspirina reduz significativamente a morbimortalidade cardiovascular em pacientes com alto risco residual e sempre deverá ser lembrada naqueles que precisam da  chamada prevenção secundária.

Hoje, nós cardiologistas temos à disposição um verdadeiro arsenal terapêutico para o manuseio da doença aterosclerótica e nunca deveremos negligenciar o uso dessas drogas, como a rivaroxabana que no COMPASS mostrou ser eficiente na redução de eventos.

Importante ressaltar que só vamos ter experiência com uma medicação, como essa, se aprendermos a manuseá-la, já que os estudos clínicos cada vez mais robustos nos trazem conhecimento e segurança cada vez maior.

Já existe a rivaroxabana no Brasil e seu nome é XARELTO 2,5mg, chamada de dose vascular.

Referência: Eikelboom J et al.COMPASS investigators Rivaroxaban with or without Aspirin in Stable Cardiovascular Disease. N.Eng.J.Med 2017. August 27 
 
 
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