Bem-estar dos profissionais da saúde: autocuidado durante a pandemia de COVID-19

Orientações preciosas mostram como evitar desgaste dessa força de trabalho essencial no dia-dia da epidemia

Ina FASSBENDER / AFP
Médicos e enfermeiros em momento de descanso em área de isolamento de hospital na Alemanha (foto: Ina FASSBENDER / AFP)

Esta semana o colega Hemmerson Magioni, Médico Obstetra e Diretor Técnico do Instituto Nascer me apresentou um precioso texto publicado no The BMJ Opinion“Doctors’ wellbeing: self care during the covid-19 pandemic”. O Dr. Hemmerson fez uma cuidadosa tradução do texto, o qual reproduzo aqui.

Trata-se de um conjunto de orientações preciosas para evitar o desgaste de uma força de trabalho essencial, não apenas no momento atual, mas, também no dia-dia fora de epidemias.

O nosso prazer em ajudar o próximo costuma ser tão grande que, frequentemente, nos esquecemos de nós mesmos e daqueles que mais amamos. Nos entregamos ao trabalho de corpo e alma e colocamos em risco nossas próprias vidas. A atual epidemia trouxe a tona e evidenciou este risco. Somos humanos e temos medo.

"Durante um período de crescente estresse e incerteza, é mais importante do que nunca que profissionais de saúde cuidem de si mesmos.

Quem cuida das pessoas que cuidam da saúde da nação?

Precisamos melhorar a maneira como cuidamos de nós mesmos e de nossos colegas, para que estejam melhores preparados para atender às necessidades dos pacientes.

Isso reflete um consenso crescente da importância de que devemos proteger o bem-estar dos profissionais de saúde.
No entanto, temos um sistema de saúde já sob tensão crônica, e agora estamos prestes a ser submetido a pressões adicionais quase inimagináveis, à medida que respondemos a um desafio global de saúde pública de magnitude não vista por gerações.

O aparente paradoxo que surge rapidamente é que, quanto mais pressionadas as coisas se tornam, mais importante, e não menos, e prestar atenção ao bem-estar dos profissionais de saúde é fundamental.

A pandemia de coronavírus quase certamente será uma maratona, não um sprint. Para continuar a prestar o melhor atendimento possível por sua duração, precisamos apoiar nossos profissionais de saúde. Cuidar de nós mesmos e de nossos colegas nunca foi tão importante; devemos nos dar permissão para mudar a narrativa 'o paciente é sempre o primeiro' para “o paciente sempre … mas nem sempre primeiro'.

Quando a pressão e a demanda são altas, quando os profissionais de saúde sentem que precisam se estender a níveis extremos para lidar com isso, pode parecer impossível parar e fazer uma pausa. Mas eles não são super-humanos.

Levados ao limite, profissionais de saúde, como todos, ficam cansadas e o desempenho diminui. Se as pausas não forem realizadas de maneira consistente, corremos o risco de que a equipe seja interrompida. Profissionais de saúde são incrivelmente resistentes, porém correm o risco de acreditar que 'resiliência' significa nunca mostrar que você está cansado ou estressado.

Devemos enfatizar que descansos e pausas regulares são 'recargas' – essa recarga é essencial para nos permitir continuar a funcionar da melhor maneira possível – e devem ser claramente planejadas e apoiadas pelos líderes e gestores. A maioria de nós começa a se sentir ansioso assim que nossos telefones mergulham a carga da bateria no vermelho e começam a procurar tomadas para recarregar, mas nem sempre aplicamos os mesmos princípios a nós mesmos.

Se nos esgotarmos correndo no primeiro quilômetro da maratona, os quilômetros restantes serão ainda mais difíceis. O estresse é uma experiência humana normal que indica quando algo precisa mudar. Uma estratégia melhor para o bem-estar psicológico a longo prazo é poder se permitir parar.

Prestar atenção aos sinais de hiper-excitação fisiológica é um bom ponto de partida, pois nosso corpo geralmente indica que precisamos parar muito antes de admitir que estamos lutando. 

Quando estressado, o sono se torna mais difícil. A tentação é ver o sono como um luxo, não como essencial. Apoiar os profissionais de saúde para conseguir o melhor sono possível enquanto responde à pandemia é fundamental, porque o sono é essencial para a saúde física e mental. Fundamentalmente, quando estamos privados de sono, nosso sistema imunológico pode funcionar pior, aumentando nossas chances de nos tornarmos sintomáticos com a exposição viral.

Também podemos cuidar um do outro testemunhando e reconhecendo com compaixão a experiência diária de lidar com uma crise de saúde global. Esta é uma situação em constante evolução, e muitas pessoas têm um senso de 'irrealidade' no momento. Fazer com que outras pessoas correspondam à nossa experiência é fundamental e nos ajuda a entender o que está acontecendo, o que é importante para o processamento emocional a longo prazo.

Ser gentil conosco e com aqueles que nos rodeiam é essencial.

As instituições devem oferecer acompanhamento com terapeutas e psicólogos para ajudar a equipe da linha de frente durante esse período. Os profissionais de saúde devem verificar com seus gestores a disponibilidade de apoio psicológico e de saúde ocupacional.

Nossa capacidade de lidar com demandas extraordinárias, como uma pandemia viral, depende de nossa equipe ter recursos e reservas para recorrer.

Cuidando dos profissionais de saúde, cuidamos dos pacientes! Não podemos simplesmente continuar como estamos, carregando mais responsabilidade para os profissionais. Onde as cargas de trabalho são excessivas, o atendimento ao paciente sofre."

*Fonte: The BMJ Opinion – “Doctors’ wellbeing: self care during the covid-19 pandemic” – March 16, 2020 – Michael Farquhar and Shr