Ensaio sobre a cegueira: Estamos vivendo um filme de terror mas vai passar

Seria razoável que todos fizessem um esforço de filtrar informações de qualidade, que possam ajudar no esclarecimento das medidas a serem adotadas

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(foto: Divulgação)

Tenho usado esse espaço na coluna para falar de assuntos médicos especialmente ligados à minha área de atuação na endocrinologia.

Mas diante da situação da saúde pública mundial não tenho como não comentar sobre a pandemia. Não quero aqui fazer mais explicações sobre  as medidas de isolamento sociallavagem das mãos, ou da etiqueta respiratória ao tossir ou espirrar

 

Percebo uma avalanche de informações circulando nos grupos de WhatsApp e nunca vi os grupos tão ativos. A incerteza e o desconhecido coloca todos em estado de alerta. Portanto, não vou me ater a essa questão das orientações, que já está chegando a exaustão, mesmo sendo necessária a repetição para que possamos internalizá-las cada vez de forma mais automática.

Mesmo com intuito de ajudar, entendo que seria razoável que todos fizessem um esforço de filtrar informações de qualidade, fontes confiáveis que possam ajudar efetivamente no esclarecimento das medidas e atitudes a serem adotadas e não com informações falsas, improdutivas e que apenas vão desgastando a nossa paciência em querer acompanhar tudo o que chega incessantemente. 

 

Acho que uma boa parcela das pessoas nascidas após a segunda guerra mundial nunca vivenciou dias tão difíceis como os das últimas semanas. Nossos avós e bisavós e mesmo ancestrais ainda mais antigos certamente passaram por períodos de guerra, ameaça nuclear, escassez, crises econômicas graves, falta de conforto dos recursos que hoje temos na vida moderna. O cenário é de “guerra” como alguns líderes mundiais tem falado contra um inimigo invisível. Cada um de nós precisa fazer a sua parte. Seremos impactados de alguma maneira e talvez o mundo não seja mais o mesmo após tudo o que vem acontecendo.

 

Hoje atendi uma paciente que me revelou uma situação estarrecedora. O patrão dela, pertencente a um grupo de risco pela faixa de idade, dono de uma pequena fábrica de balas e doces e que mora atrás da fábrica com a família, proíbe que as funcionárias lavem as mãos e usem álcool em gel durante o trabalho.

Multiplicam nas redes sociais mensagens enviadas nos celulares com vídeos de “profissionais da saúde” de forma irresponsável divulgando terapias inócuas e vendendo ilusão para as pessoas desesperadas para lucrar com o desespero alheio. Alguns já foram denunciados nos conselhos regionais de suas profissões e correm risco de perder suas habilitações para trabalhar na área da saúde. Cheguei a ver um desses vídeos com uma atriz global respaldando a conduta de um profissional divulgando um soro para melhorar imunidade. Áudios fatalistas e inverídicos disseminando mais terror e que não ajudam em nada. 

 

Precisamos estar conscientes que o momento é preocupante mas não podemos perder o bom senso e a razão pois precisaremos de mínima serenidade para a ignorância, a má fé de algumas pessoas não pode eclipsar as atitudes altruístas de quem, de forma séria e comprometido está e estará na linha de frente, como caixa de farmácias, padarias e supermercados, faxineiras dos hospitais, auxiliares e atendentes de enfermagem, enfermeiras, fisioterapeutas, farmacêuticos, médicos intensivistas, médicos plantonistas em pronto atendimento e ambulatórios criados especificamente para atender suspeitos de coronavírus.

Deve haver muitas outras não mencionadas que também estarão na mesma condição e me desculpem se não os citei nominalmente.


Todos esse profissionais merecem ser louvados e lembrados por várias gerações e servir de inspiração e exemplo. A esses valorosos trabalhadores já me adianto e envio meu muito obrigado.
Eles contrapõem aqueles maus profissionais que vendem ilusões, merecem ser punidos e cair no ostracismo da história. 

 

Nossas crianças e jovens devem se espelhar naquelas pessoas que estão ajudando e vão ajudar a construir um mundo mais justo, fraternal e de solidariedade.

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Entre tantas mensagens que recebi, há uma que achei interessante e apropriada para o momento, atribuída a Ibn Sina (nome latinizado era Avicena) médico e filósofo persa, pai da medicina moderna, que diz: "A imaginação é  a metade da doença; A tranquilidade é  a metade do remédio; E  a paciência  é  o primeiro passo para a cura”.

 

Para não fazer este texto longo e enfadonho nesse momento em que estamos todos ansiosos, temerosos pelo que está por vir. peço a todos que façam sua parte, protejam os idosos e os  portadores de doença crônica e outros grupos de risco, já que as consequências positivas ou negativas dependem de todos.

 

Espero que esse filme de terror passe logo e que todos fiquem bem.  

 

Se você tem dúvidas e sugestão de temas, envie para arnaldoschainberg@terra.com.br