Sepsis e a burocracia letal: o trágico cenário da infecção generalizada

A cada hora que o paciente fica sem receber cuidados corretos, risco de morrer pode aumentar em até 10%; mortalidade no Brasil é de 55%

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(foto: Wikimedia Commons)

Sepsis ou Septicemia é um termo que utilizamos no meio médico para caracterizar uma infecção grave e disseminada, que pode comprometer a função de vários órgãos e levar à morte em
pouco tempo.

Um quadro séptico pode ser causado por vários tipos de agentes, tais como bactérias, fungos, vírus ou parasitas, geralmente a partir de um foco inicial onde esses microrganismos estão alojados.

Por exemplo, uma infecção urinária pode, eventualmente, se transformar em infecção generalizada num curto espaço de tempo, assim como uma infecção na pele, nos pulmões etc.

O que ocorre geralmente é a passagem de microrganismos de um determinado local para a corrente
sanguínea
, acarretando uma série de respostas do nosso sistema imunológico, que tem por objetivo eliminar o agente invasor. Porém, o “fogo amigo” dessa resposta lesa também estruturas
nobres
e acaba por comprometer ainda mais a função de estruturas fundamentais para o funcionamento do nosso corpo.

Os principais sinais e sintomas de que uma infecção está se transformando numa infecção generalizada podem ser identificados a partir de três variáveis que um leigo pode facilmente detectar:

- O aumento da frequência dos movimentos respiratórios acima de 22 respirações por minuto;
- Alteração no estado de consciência (sonolência, confusão mental);
- E queda da pressão arterial, com o valor máximo da pressão abaixo de 100 milímetros de mercúrio.

Esses são marcadores importantes de que algo potencialmente muito grave pode estar ocorrendo. A
presença de duas destas três variáveis num paciente com infecção em tratamento ou não exige no mínimo um contato imediato com um profissional de saúde, ou o encaminhamento do paciente a um serviço de urgência para uma avaliação mais criteriosa.

Nesses casos, tempo é vida. A cada hora que o paciente fica sem receber os cuidados corretos o risco de morrer pode aumentar em até 10%, conforme demonstram alguns estudos. Pacientes nessas condições devem ser submetidos a exames laboratoriais para verificar a gravidade do processo
infeccioso, identificar o microrganismo causal e receber tratamento antimicrobiano imediato. O ideal é que essas medidas sejam tomadas em até 1 hora.

Para isso, os prontos atendimentos de praticamente todos os hospitais têm criado rotinas para identificar os pacientes mais graves e atende-los prioritária e rapidamente. Qualquer burocracia que atente contra esse princípio básico assistencial da Sepsis estará também atentando contra a vida das pessoas.

 

Dimensão

Mas vamos entender a dimensão desse problema no mundo e no Brasil. Uma série de 27 estudos realizados em 7 países desenvolvidos estima uma incidência de Sepsis de 437 casos para cada 100.000 habitantes/ano, gerando cerca de 5,3 milhões de óbitos a cada ano no mundo.

Para se ter uma ideia da importância do problema, é como se uma cidade do tamanho da região metropolitana de Belo Horizonte desaparecesse do planeta a cada ano. Ou, se transformarmos em acidente aéreo, que é algo que geralmente causa grande impacto nas pessoas, é como se ocorressem 26.500 acidentes aéreos por ano, com 200 passageiros em cada avião. Se isso ocorresse, certamente ninguém viajaria de avião.

Os estudos nacionais apontam para uma mortalidade de 55%, com aproximadamente 230 mil mortes por ano. Usando o exemplo do avião, é como se tivéssemos 1150 acidentes a cada ano. A noticia aqui é que todos nós estamos nesse avião, queiramos ou não!


Nas próximas semanas daremos sequência a esse assunto, abordando estudos comparativos com outros países, as causas do problema e formas de minimizarmos esse trágico cenário.


Apertem os cintos e bem-vindos a esse voo...

 

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