Infecção urinária de repetição na primeira infância pode significar refluxo do xixi

Refluxo vesicoureteral (RVU) é um problema que, se não tratado, é capaz de causar sérios danos aos rins

Marília Padovan 14/11/2017 13:00
Reprodução/Internet/Blog da Elian
(foto: Reprodução/Internet/Blog da Elian)

Falar sobre xixi é coisa séria. Ainda mais quando o assunto envolve crianças. A urina é produzida pelos rins, vai para a pelve (logo na saída do rim) e segue para a bexiga por meio de um tubo chamado ureter. Ela fica armazenada na bexiga e, em seguida, na micção, passa pela uretra, atingindo o meio externo. No entanto, em 1% a 2% das crianças, a urina retorna para o ureter, podendo chegar até os rins. É o que se chama de refluxo (retorno da urina) vesico (da bexiga) ureteral (para o ureter) ou RVU.

Normalmente, a suspeita da doença existe quando há infecção urinária de repetição - problema que, de acordo com dados da Campbell Urology, acomete de 10% a 15% de crianças na primeira infância.

Luísa Lemos, nefrologista pediatra da Clínica de Doenças Renais de Brasília, explica que as causas do problema podem ser primárias (congênito) ou secundárias. “No segundo caso, existem fatores que aumentam os riscos de a criança desenvolver a patologia. Segurar demais o xixi, por exemplo, ou ter obstruções na uretra ou bexiga, que fazem com que a pressão do trato urinário fique maior do que é capaz de suportar.”

Quando a disfunção é congênita, ainda na gravidez é possível suspeitar do quadro - na ultrassonografia, os médicos ficam atentos ao tamanho do rim do bebê. O refluxo vesicoureteral favorece o transporte de bactérias. É aí que o problema se agrava. Essas bactérias podem causar infecção urinária, resultando em febre, dor, náuseas e vômitos por reação inflamatória nos rins, por exemplo.

As infecções urinárias de repetição possibilitam o desencadeamento de alterações cicatriciais (escaras) nos rins, o que pode comprometer irreversivelmente a anatomia e a função do órgão.

A seriedade do RVU varia entre os graus I e IV, e o tratamento está diretamente relacionado com a idade da criança, o nível de refluxo, a evolução das infecções e as particularidades de cada caso. Em crianças de até 5 anos, com graus do refluxo vesicoureteral entre os níveis I e III, as chances de o problema se resolver espontaneamente são grandes.

Tratamento

Existem três tipos de tratamento: com antibióticos, endoscópico e cirúrgico

Quando o caso de refluxo vesicoureteral está nos graus I e II, ele pode se curar sozinho em 80% dos casos num período de cinco anos. Após essa fase, recomenda-se tratar com antibióticos, em pequenas doses e períodos prolongados – o que previne a infecção, porém não corrige nem cura o RVU.

A terapia endoscópica apresenta bons resultados no tratamento nos graus II, III e IV. Consiste na injeção de substâncias que reforçam a junção entre o ureter e a bexiga, corrigindo o refluxo vesicoureteral de baixo grau.

A cirurgia é indicada nos graus mais avançados e consiste em reimplante de ureter. Nesses casos, há internação da criança, que varia de 48 a 72 horas, além do pós-operatório, que dura de 30 a 60 dias.

Três perguntas para... Ubirajara Barroso Jr.
Urologista pediátrico

O que é refluxo familiar?

Ainda não se sabe a causa do refluxo familiar, mas acontece quando irmãos ou irmãs de crianças com refluxo também apresentam o distúrbio. Isso ocorre em cerca de 30% dos irmãos e recomenda-se a investigação do quadro nas crianças.

É possível detectar o problema ainda na gravidez?

Durante a gestação é possível sugerir que o problema existe. Caso na ultrassonografia pré-natal o bebê apresente dilatação renal, as chances de o quadro estar presentes são grandes. Em bebês com dilatação maior que 98 milímetros, pelo menos de 15% a 25% deles sofre com refluxo vesicoureteral. Esse é um dos motivos de o acompanhamento pré-natal ser essencial.

O que é injeção endoscópica para o refluxo?

Um implante formado por material biocompatível (feito de copolímero de poliacrilato poliálcool), envolvido em hidrogel, é utilizado como condutor da substância qye age para impedir que o refluxo aconteça. Ele é injetado na união do ureter com a bexiga, mediante um procedimento endoscópico simples e minimamente invasivo.