Música faz bem ao coração, à mente e à saúde

Arte é considerada uma das maiores expressões artísticas do homem

por Lilian Monteiro 29/04/2018 13:55

Marcos Vieira/EM/DA Press
Jornalista e bloqueiro, Marcelo Seabra neves da Rocha conta que o estilo do rock dos anos 1960 é p que o influencia (foto: Marcos Vieira/EM/DA Press)

Música e cinema são seus universos preferidos. Jornalista, editor do blog O Pipoqueiro e coordenador pedagógico na Yázigi, unidade Castelo, Marcelo Seabra Neves da Rocha não precisou de um segundo para afirmar que “os Beatles me levaram à música. O estilo do rock dos anos 1960 é o que me inspira, é o que eu gosto. Não escuto de tudo, sou criterioso e faço minha seleção. Em casa, tive influência dos meus pais, rock, jazz, Frank Sinatra, lembro que de carro com minha mãe sempre ouvia Elvis Presley em fita cassete, virei fã. Por outro lado, eles gostam de MPB, mas o som não me bateu, não busco, não escuto. Mas dentro do que fui exposto, escolhi meu caminho. Tenho dois irmãos mais velhos, nasceram na década de 1970 e eu cresci nos anos 1980 curtindo o que eles ouviam, como Duran Duran, Depeche Mode, Information Society”.


Hoje, com CD, MP3 e Spotify, a vida de quem não só curte, mas é um pesquisador de música, ficou bem mais fácil. Para Marcelo, não basta só gostar daquele som, mas ele vai querer saber tudo sobre a composição, o cantor, a banda, a época em que foi feita, o contexto... “Gosto de saber da história, circunstância em que a letra foi escrita... Quando falo que seleciono, seleciono mesmo. Posso ouvir toda a discografia do David Bowie, mas só escuto as preferidas, portanto, em minha playlist conheço tudo.”


Para Marcelo, música é indispensável. No ônibus, no carro, praticando exercícios... “e se vou para um bar, a primeira pergunta é: ‘que música toca lá?’ Escuto muitas coisas, agora, o que não gosto, não gosto e não quero ouvir. Não é questão de preconceito, é um direito. Dentro do limite aceitável da boa música, sou eclético. Desconfio de quem diz que gosta de tudo e de quem não gosta de música. Os extremos são perigosos. Se me agrada, ouço novidades, tenho abertura, mas confesso que a sonoridade dos anos 1960 é a que me atinge. Gosto muito de Queen, Led Zeppelin, The Door, Elvis Presley, The Kinks, bandas do Sul dos EUA, B. J. Thomas, Roy Orbison e Neil Young”.


Marcelo lembra que música “é momento de vida e não é coincidência porque ela fala com você, é um sinal. Preste atenção na letra que fará sentido. A música bate. Sempre que escuto Roy Orbison choro, não tem jeito, há algo em sua voz, no timbre, que me faz sair do ar”.

HERANÇA DO PAI Já a relação de Renata Mares, coordenadora-geral do Centro de Dança, escola que faz parte da família do grupo Primeiro Ato, com a música tem a ver com herança que recebeu do pai. A raiz é dele, sua primeira referência, ainda que ao longo da vida tenha sofrido outras influências e hoje se considere eclética. Gosta de tudo um pouco: “As músicas de minha memória vêm muito das viagens que fazíamos. Meu pai adorava boleros e sertanejos antigos e íamos viajando e cantando músicas como Chuá, chuá, de Tonico e Tinoco, Fio de cabelo, de Chitãozinho e Chororó, Boemia, de Nelson Gonçalves, e por aí vai. Mas uma música que hoje me toca é Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt, homenagem ele que fez ao seu pai, Jacob do Bandolin. A canção tem muita ligação com o meu pai também, ele é falecido e era ele quem gostava de sentar em casa (tínhamos um bar em casa), tomar sua cerveja e ouvir suas músicas”.


No caldeirão musical que Renata Mares se alimenta, além do gosto por sambas de raiz, ela adora Aquarela brasileira, Retalhos de cetim, O mundo é um moinho e por aí vai. “Sem faltar um bom rock como Queen, Stones, Beatles, Capital inicial... São muitas, não que tenham um significado, mas são as que gosto de colocar e cantar.” Por isso, ao pensar em sua trilha sonora, ela diz que o ideal é que seja um mix de MPB, samba e rock: “Acho que cada momento tem sua música. Amo festa dos anos 1970 e 1980, são músicas que lembram a minha infância e adolescência, amo sentar em uma roda de samba e curtir um bom rock”. Só não a faça ouvir “os funks de hoje não me pegam, nem letras como muita apelação”.

Arquivo Pessoal
Renata Mares, coordenadora-geral do Centro de Dança, escola do Grupo Primeiro Ato, diz que a música tem a ver com herança que recebeu do pai (foto: Arquivo Pessoal)

CRIANÇAS Com música presente na sua rotina, Renata revela como ela a afeta, transforma e lhe faz bem. “A música está no meu dia a dia, tenho o prazer de trabalhar escutando música o dia todo. Aqui, os professores são incentivados a trazer sempre novidades para os alunos. Como a mídia, na grande maioria, acaba apresentando somente os ‘hits de sucesso’, que escutamos também, os professores têm o estímulo de nossa diretora, Suely Machado, para que pesquisem composições nacionais de boa qualidade, não desmerecendo as internacionais. A ideia é conhecer o que a música brasileira tem a oferecer, já que somos um país tão grande e com uma diversidade que podemos achar belíssimas obras. Então, é prazeroso ter no ambiente de trabalho músicas que nos permitam conhecer mais de nossa cultura.”


Como coordenadora da escola de dança, Renata destaca o quanto a música agrega na formação das crianças: “Ela é essencial na infância. Na chamada primeira infância, a criança é só sensação e emoção e a música é uma grande ferramenta que auxilia o desenvolvimento infantil. Por meio da música, é possível despertar sensações, a percepção de ritmos variados, ativar a escuta seletiva de pequenos sons, ativar as emoções e, com o ouvido ativo, a criança consegue perceber que instrumento tem naquela música, o que aquele ritmo lhe passa como sensação etc. Tem vários estudos que falam dessa importância e como ela ajuda no desenvolvimento motor e intelectual e contribui para uma maior socialização e para o estimulo da inteligência”.

Um outro escutar
 

Leandro Couri/EM/D.A Press
O tecladista Christiano Caldas é filho de músico e foi criado dentro desse universo (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Músicos ouvem, curtem e sentem a música de maneira diferente. Com sensibilidade à flor da pele, seguramente ela os afetam de forma particular porque de um liquidificador musical eles não perceberão apenas o som, mas também cada instrumento, o arranjo, vocais, a forma de execução, tudo junto e misturado à emoção. Dois grandes nomes da cena musical mineira, Eduardo Toledo e Christiano Caldas, revelam como a música os influenciam e o que ela diz sobre os profissionais que se tornaram.


 Depois de 14 anos de pausa, Eduardo Toledo lança no segundo semestre um novo disco solo, com participações especiais, composições próprias e releituras. Há 53 anos a música faz parte da vida desse compositor, cantor, produtor musical, guitarrista, instrumentista, um dos fundadores da banda de pop rock Nepal, dos anos 1990, e do Navegador Studio. Ou seja, ele tem música na veia 24 horas por dia: “Acredito que ser músico é vocação porque desde criança ela me tocou, me chamou a atenção. Bastava ouvir um instrumento para correr e me aproximar. Tinha um violão de plástico que brincava de dar shows com o som da radiola ao fundo. Cresci com essa intuição, que sempre me levou ao encontro da música”.


The Beatles sempre acompanhou Eduardo Toledo. A sensibilidade da sua mãe, fã de Caetano, Gil e Chico, o levou aos 9 anos para estudar música na Universidade Mineira de Arte (hoje, UEMG), mas ele confessa que queria mesmo era tocar guitarra, o que começou aos 16. Nunca mais parou. Quem também o influenciou foi o pai, Emerson Guimarães, ex-jogador do Cruzeiro de 1958 a 1964, com mais de 200 jogos com a camisa celeste, e apaixonado por Ataulfo Alves, Trini Lopez e sambas de qualidade. Mas foi mesmo arrebatado pela turma de Liverpool, culpa dos tios adolescentes, que também curtiam a Jovem Guarda. A identificação com os Beatles foi imediata, assim como Jimmy Hendrix e Jeff Beck.


A percepção da música pelo músico é diferente da que arrebata o leigo. Mas todos têm em comum a sensibilidade, que é nata aos que curtem sons e sonoridades. Eduardo Toledo diz que “a música tem um poder tão grande que assume até o papel de remédio para algumas doenças, relaxa, excita, o deixa triste, feliz, é usada tanto para o bem quanto para o mal. É uma força especial que, como já passei por tanto coisa nesta vida, quanto mais maduro, mais fico com a sensibilidade aguçada, melhor, mais apurada e uso tudo isso a meu favor”.


Eduardo Toledo acredita que a música tem a propriedade de carregar energia, tocar a alma e os nossos sentimentos. Definir o que ela diz sobre ele, é missão difícil e complexa. Mas depois de segundos de introspecção, o guitarrista revela que “a música é como se fosse um imã, me atrai, entro na música e, como profissional, escuto e a percebo de forma diferente. A música me levou para o mundo afora, morei no Rio de Janeiro, EUA, toquei no Egito, na Europa, e devo tudo a ela”.

Para um músico, nada mais complicado do que escolher a sua música. No caso de Eduardo Toledo, foi uma surpresa: “No baú da minha história, a música que mais me marcou é uma de minha autoria. O Nepal gravava um disco para a BMG, um trabalho mais cabeça, introspectivo, letras elaboradas, mas a gravadora queria uma música comercial. Sempre tive facilidade para compor e, num momento de deboche, escrevi E eu, que se tornou o sucesso da banda, um hit e até hoje tenho de cantar, é obrigatória no meu repertório. Marcou a minha vida”.

DE MENESCAL A JONI MITCHELL

O profissional da música nunca é uma coisa só. Ou seja, só cantor, só baixista. A maioria, como Christiano Caldas, desfila um currículo de respeito. Ele é tecladista, produtor musical, arranjador e engenheiro de som com mais de 15 anos de experiência se apresentando com nomes do calibre de Flávio Venturini e Celso Moreira. “Sou filho de músico (o tecladista Adilson Caldas), fui criado dentro da música, escutando, cantando, com instrumentos disponíveis, ficava curioso e ia brincar com eles, descobria uma nota, o tempo todo, dentro de casa. Sempre um contato rico, com variedade, qualidade e bom gosto. Seguir a carreira foi uma escolha natural. Com 11, 12 anos já me apresentava. Uma formação sem ser acadêmica, formal, tudo com a base familiar.”


Além da influência técnica, Christiano bebeu no repertório do pai, também cantor de bandas de baile e formatura, ou seja, os sons da big bands e orquestras: “Mas também tenho como referências a música brasileira, a bossa nova, Roberto Menescal e muitos pianistas”. Mas a música e a voz que acompanham Christiano Caldas, definitivamente, é “Joni Mitchell e Both sides now. Para mim, é o disco mais bonito do mundo. De tempos em tempos eu preciso revisitá-lo e sempre me emociono muito”.


Formado nesse universo, é fácil para Chistiano Caldas definir o que é a música: “Ela é, de fato, a minha vida. Eu a vivo o tempo todo. Estudo, trabalho, toco, ouço, pesquiso, discuto, compartilho. É tudo. A música é o fundo da nossa vida, dos dias mais sombrios aos mais alegres e especial. É uma linguagem universal, fala por si só, aproxima as pessoas, faz amigos. Ela é tão forte que tem para tudo e todos os gostos”.