Contraceptivo sem estrogênio surge como alternativa para mulheres que têm intolerância ao hormônio

Implante subcutâneo, cujos efeitos duram três anos, é feito de forma simples, com anestesia local

por Augusto Pio 09/12/2016 13:30
Com a evolução da medicina, novos métodos contraceptivos também vão aparecendo no mercado mundial. Ultimamente, um dos mais usados é o Implanon, anticoncepcional em forma de bastão que é colocado logo abaixo da pele do braço da mulher, liberando uma pequena quantidade do hormônio etonogestrel (um tipo de progestagênio), que será responsável por protegê-la de uma gravidez.


O bastão se parece com um palito de fósforo, mede quatro centímetros e é feito de material plástico. Uma das vantagens desse anticoncepcional, na visão do médico José Oscar Alvarenga Macedo, mestre em ginecologia e obstetrícia pela Universidade Federal de Minas Gerais, é que o Implanon não tem estrogênio em sua composição, podendo ser usado por mulheres que têm intolerância a esse hormônio e efeitos colaterais como náuseas, vômitos e dor de cabeça. É um método reversível de longa duração, com alta eficácia e taxa de continuidade”, garante o especialista. “Com o implante, o hormônio é liberado gradualmente na corrente sanguínea em quantidades suficientes para impedir a gravidez. O principal mecanismo é impedir a ovulação. Ele também espessa o muco cervical, o que dificulta a subida dos espermatozoides para o útero da mulher. Dessa forma, funciona antes que ocorra a fertilização”, diz José Oscar.


O Implanon foi aprovado para uso na Indonésia em 1998, e, em 2006, nos Estados Unidos. Os implantes contraceptivos subcutâneos agora são usados por 11 milhões de mulheres em todo o mundo e aprovado para uso em mais de 60 países desde 2003.


Como todo medicamento, ele também tem contraindicações. O médico esclarece que os principais efeitos adversos reportados pelas mulheres em uso do implante liberador de etonogestrel, excluindo-se sangramento irregular, são: cefaleia (15,3%), mastalgia (10,2%), acne (11,4%), ganho de peso (11,8%), instabilidade emocional (5,7%) e diminuição da libido (2,3%). “A acne, costuma ser de grau leve e bem tolerado.”

“É importante ressaltar que, na maioria das pacientes, a pele não se altera ou até melhora. Nos casos em que a acne incomodar a paciente, podem-se administrar drogas antiandrogênicas. As cefaleias são transitórias e costumam desaparecer em torno de oito semanas. Hipersensibilidade aos componentes do implante, câncer de mama atual e gravidez são as únicas contraindicações absolutas do implante”, garante o médico. “O implante dura três anos. Após esse período, pode ser substituído por outro ou por outro método. Não há limite do número de implantes que a mulher pode usar na sua vida. Em caso de desejo de gravidez, o médico pode retirá-lo quando a mulher quiser e, imediatamente, ela já estará pronta para uma gestação. O hormônio não se acumula no corpo, assim, ao retirá-lo, a pessoa não estará mais protegida contra a gravidez.”

Ramon Lisboa/EM/D.A Press
O médico José Oscar Macedo enumera os benefícios do implante, dizendo que ele não aumenta o risco de trombose (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

VOLUME MENSTRUAL
José Oscar salienta que a maioria das mulheres pode usar o método. “Pode ser usado em adolescentes, em mulheres que nunca tiveram filhos. Pode ser usado durante a amamentação que não prejudica o crescimento do bebê, nem a quantidade de leite. Esse hormônio reduz o volume menstrual (como a pílula), a cólica menstrual e pode ajudar a reduzir a tensão pré-menstrual (TPM). O preço é acessível e, seguramente, mais barato do que se gastaria com uso mensal de anticoncepcionais por três anos seguidos.”


O especialista garante que este é método contraceptivo é um dos mais eficazes. “Apenas cinco falhas em cada 10 mil mulheres que o utilizam, com eficácia superior a ligaduras das trompas (cinco falhas em cada mil mulheres). Após sete dias da retirada do implante, a ovulação poderá ocorrer. Os mecanismos contraceptivos do implante são principalmente a anovulação e a alteração do muco cervical, há também atrofia do endométrio e alteração da motilidade tubária, sendo o método mais eficaz disponível no mundo atualmente.”


O médico ressalta ainda que o método não aumenta o risco de trombose, não altera a pressão arterial nem interfere na maioria das doenças. “Não dá náuseas e nem vômitos. Também não interfere no ganho de peso. O principal efeito colateral deste método é a mudança da menstruação, por afinar o revestimento do útero (endométrio), a quantidade de sangramento reduz (e por isto muda de cor, pode ficar amarronzado). Além disto, muda o intervalo. A maioria das mulheres que utiliza este método fica satisfeita com a forma de sangramento (ou não menstrua ou menstrua a cada dois a três meses ou menstrua uma vez por mês).”

 

 

Rivia Lamaita, ginecologista da Associação de Ginecologistas e Obstetras de MINAS GERAIS e coordenadora do Serviço de Reprodução Humana do Hospital Mater Dei 

 

O que a senhora destacaria de mais inovador na família de contraceptivos disponíveis no mercado hoje?
Nos últimos anos, um dos maiores avanços em relação aos contraceptivos envolve suas fórmulas. Os laboratórios têm usado hormônios mais próximos dos naturais justamente para diminuir riscos e efeitos colaterais. Eles têm substituído o estrogênio sintético por um estrogênio mais próximo do natural. Além disso, há formulações que acrescentaram hormônios com antidiurético para diminuir o efeito de retenção de líquido. Há ainda pílulas com algum tipo de suplemento, por exemplo, com uso de ácido fólico, pensado para mulheres que ainda desejam engravidar e precisam dessa reposição garantida para diminuir efeitos de malformação no feto. Outro destaque é a ampliação das pesquisas para uso da pílula em regime contínuo, justamente para aumentar sua eficácia – diminuindo o esquecimento e o índice de falha, que depende do usuário.

Na sua visão e experiência, quais as vantagens entre o anticoncepcional em pílula, de injeção e o implante? E as desvantagens?
As vantagens do implante, assim como o DIU, é que ele é considerado método de longa ação e reversível. Todo método que depende menos da atitude do usuário, tende a ser mais eficaz. Além disso, o hormônio do implante é à base de progestagênio, que gera menos efeitos colaterais associados, como trombose e enxaqueca. É mais indicado para pacientes que tenham algum risco de embolismo e que precisam de um método contínuo pensando em diminuir o fluxo menstrual ou até torná-lo ausente. O implante pode ser usado por qualquer tipo de paciente, sempre com avaliação médica, principalmente pacientes mais velhas e todas aquelas em que buscamos retirar os riscos do hormônio estrogênio – geralmente idosas, obesas, tabagistas ou com alguma doença imunológica. Já a injeção pode ser mensal ou trimestral. Ela é mais difícil da paciente esquecer, mas, ainda assim, você depende que ela lembre de usar o método de forma adequada. E por fim, a pílula, que a pessoa precisa lembrar de tomar todos os dias. Em relação à eficácia, se a paciente esquecer de tomar o remédio de forma adequada, é muito mais difícil de controlar sua eficácia. Se as três opções forem usadas da forma indicada pelo médico, sua eficácia é igual.

Na sua opinião, porque os contraceptivos ainda causam tantos efeitos colaterais? E porque isso não é resolvido pela indústria farmacêutica, já que dispomos de tantos avanços na medicina?
Não acredito na inexistência de uma revolução pela indústria farmacêutica nesse sentido. Acredito que as pesquisas caminham para tentar resolver esse tipo de problema relacionado aos efeitos colaterais. Muito já se avançou, diminuindo a dosagem das pílulas, alterando as formulações para tentar controlar esses sintomas, e a tentativa de evoluir com métodos que são mais adequados ao tipo de perfil do paciente. Na verdade, hoje em dia, temos uma gama muito grande de métodos contraceptivos e são poucas as pacientes que não se adequam a algum deles. O que precisamos da indústria farmacêutica é que melhorem as informações e o acesso a todos os métodos contraceptivos que existem e as suas indicações. É fundamental a educação do profissional de saúde e que ele seja capacitado para educar também a população para que ela tenha acesso a esses diferentes tipos de métodos. Além disso, a indústria farmacêutica deveria tornar os diferentes métodos mais acessíveis, pois, muitos não estão disponíveis na rede pública de saúde e possuem um custo elevado para a paciente. 

(Colaborou Cristiana Andrade)