Entenda por que as 'expedições' são importantes para os gatos

Prateleira, estante, pia do banheiro ou lustre. Nenhum local está a salvo da curiosidade dos gatos. De quebra, rendem imagens inusitadas

por Revista do CB 31/10/2015 10:00
Arquivo Pessoal
Libertos que são, gatos gostam de explorar a área em que vivem (foto: Arquivo Pessoal )
Na música História de uma gata, Chico Buarque anunciava um fato que os tutores de gatos não demoram a descobrir: os bichanos nascem livres. Como seres libertos que são, gostam de explorar a área em que vivem. Por isso, quem convive com os felinos já não se espanta de encontrá-los em qualquer lugar da casa, menos na cama. Gavetas, caixas, prateleiras e os locais menos óbvios possíveis são os cantos preferidos deles. “Eles procuram esses locais porque se sentem confortáveis e protegidos”, explica Daniela Maciel, especialista em medicina felina e veterinária do Mundo dos Gatos. Além da chance de ter um espaço sossegado para uma soneca, gatos são alheios ao ditado popular que garante que eles morrem pela curiosidade. Ao contrário, esses animais gostam de desbravar e uma caixa velha, por exemplo, significa uma novidade que precisa ser cheirada, explorada e, claro, aproveitada ao máximo.

O comportamento, segundo Daniela Maciel, é um dos resquícios do histórico caçador dos felinos. Para sobreviver no mato, os gatos selvagens precisavam de todos os recursos possíveis para permanecerem ocultos e, ao mesmo tempo, manter a visão panorâmica de sua presa e do ambiente hostil em que viviam. “Quando estão no alto, eles tanto estão livres dos ‘perigos’ que poderiam haver no chão, quanto podem analisar melhor o ambiente e suas ‘presas’”, reforça a veterinária. É claro que os séculos de domesticação e o ambiente aconchegante de casa fizeram com que os bichanos pudessem se dar ao luxo de relaxar, mas velhos hábitos são difíceis de abandonar.

Arquivo Pessoal
Gato Mustafá, da fisioterapeuta Simone Lattarulo Campos (foto: Arquivo Pessoal )
Elaine Gomes, veterinária da Casa do Gato, explica que a herança genética dos felinos os divide em dois grupos principais. Um gosta de esconderijos baixos, como arbustos. Os outros são predadores e preferem a vista “de cima”, motivo pelo qual são chamados de “árvores”. Naturalmente, reproduzir o habitat selvagem dentro de casa ou de um apartamento é inviável. Mas há alternativas extremamente úteis para mimetizar o ambiente desafiador de que gatos precisam. Prateleiras, por exemplo, são, ou deveriam ser, as melhores amigas de tutores dos felinos. “Elas aumentam a atividade deles e a área de observação e exploração”, completa a veterinária.

Mas não adianta sair pendurando prateleiras, nichos ou estantes sem tomar as devidas precauções. “É interessante que eles tenham condições de subir e de descer sem correr nenhum risco”, frisa a veterinária. Revestir as prateleiras com material antiderrapante, como emborrachados, é uma das formas de evitar que o gato se desequilibre, caia e se machuque. “Alguns tutores usam até tapete de yoga”, sugere Elaine Gomes. Caso as expedições dos bichinhos incomode, uma má notícia: até existe adestramento para gato, mas, além de os felinos não serem tão receptíveis quanto os cachorros, não há como reprimir completamente um comportamento tão natural para o bicho. “O ideal é dificultar a subida dele. É importante que o gato tenha prazer em voltar. Então, toda vez que ele fizer o comportamento que o tutor deseja, deve ser recompensado com petiscos e reforço positivo”, aconselha Elaine.

Gatos são exploradores por natureza e precisam de estímulos. Saiba como não os deixar entediados:

* Bole atrativos: o enriquecimento ambiental é extremamente importante para os gatos. Prateleiras e arranhadores altos e verticais; brinquedos; caixas e o que mais o bichano se interessar estão valendo.

* Gatos são mais difíceis de treinar do que cães, mas adestrá-los pode amenizar o problema e evitar que eles vão parar na mesa do jantar, por exemplo. Contudo, comportamentos como subir e arranhar os móveis são normais e naturais dos felinos, logo, não é recomendável reprimir.

* Dificulte o acesso do bichano a locais proibidos e coloque alguns obstáculos pelo caminho.

* Sempre que o gato iniciar o comportamento indesejado, distraia-o com petiscos, brincadeiras, carinhos ou qualquer coisa que mude o foco dele, desde que seja um reforço positivo. Jogar água ou assustá-lo de qualquer forma não fará com que ele te obedeça. Ao contrário, pode traumatizá-lo ou até fazer com que tenha medo de você.

Fontes: Daniela Maciel, veterinária do Mundo dos Gatos e Elaine Gomes, veterinária da Casa do Gato.