Técnicas podem diminuir sofrimento da sudorese excessiva ou hiperhidrose

Uso de antitranspirantes requer cuidados

por Augusto Pio 19/11/2014 14:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Suar é um processo fisiológico vital para o bom funcionamento dos órgãos e das reações metabólicas. Porém, quando a função excede os limites, causando odores ruins e manchando as roupas, o que é uma função natural do corpo passa a ser fonte de constrangimento. A hiperhidrose, como é chamado o excesso de suor, incomodou a aposentada JMS, de 50 anos, por bastante tempo. “Independentemente do clima, se estava calor ou frio, suava muito nas axilas. Recorria a desodorantes e antitranspirantes, mas estes não solucionavam o problema. Aquilo me incomodava muito, porque queria usar uma camiseta ou algo assim e me sentia constrangida por causa do suor em excesso”, lembra. “Resolvi procurar uma dermatologista, que me sugeriu aplicações de botox. Por enquanto, fiz somente uma, há cerca de 40 dias, mas já sinto o ótimo resultado. Tenho que voltar ao consultório daqui a quatro meses para fazer outra aplicação. Sei que melhorou bastante e estou me sentindo muito feliz e segura com o tratamento.”

BETO MAGALHAES/EM/D.A PRESS
A dermatologista Maria de Fátima Melo Borges diz que a aplicação de toxina botulínica é bem aceita como um dos tratamentos eficazes contra o suor patológico (foto: BETO MAGALHAES/EM/D.A PRESS)
Não só nas axilas, mas o suor excessivo pode brotar nos pés e das mãos. O dermatologista Antônio Júlio de Araújo Barreto, com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), esclarece que a sudorese é o ato de produzir e libertar suor, que tem a importante função de controle de temperatura: suamos para equilibrar a temperatura do nosso corpo com o ambiente. “Existe a hidrose (transpiração), a hiperhidrose (transpiração abundante, excessiva), a bromidrose (suor com cheiro ruim) e a cromidrose (suor com cor).”

“A hiperhidrose pode ocorrer de forma fisiológica. Um exemplo: quando se fazem exercícios físicos, o suor tem função de controlar e equilibrar a temperatura do corpo com a do local. Já a primária é uma disfunção rara e permanente do cérebro que, por motivos desconhecidos, estimula, de forma exagerada, as glândulas sudoríparas de determinadas regiões do corpo. A secundária é a sudorese excessiva, resultante de uma doença de base como hipertireoidismo, terapia hormonal, tumores malignos, obesidade, menopausa. A hiperhidrose pode ser, também, uma característica genética – há famílias ‘calorentas’. Não se passa hiperhidrose e esta não é uma doença contagiosa.”

O médico ressalta que a cura depende da causa. “Sabemos que uma das funções da gordura é ser isolante témico. Por isso, os obesos têm uma chance maior de ter hiperhidrose. Se ele retomarem ao percentual de gordura ideal para seu tamanho, o suor tende a voltar ao normal. Outro exemplo: se uma mulher começou a ter hiperhidrose porque entrou na menopausa, a reposição hormonal resolverá o problema. Ajuda muito o uso de roupas leves, banhos frios e ar-condicionado. Quanto à bromidrose e à cromidrose (que são causadas por bactéria, já que o suor do ser humano não tem cheiro nem cor), estas podem ser tratadas com medicações, avaliadas em cada caso por um dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), lembrando que é fundamental uma boa higiene pessoal.”

Várias causas Paulo Augusto Miranda, presidente do Departamento de Endocrinologia e Metabologia da Associação Médica de Minas Gerais, explica que a sudorese é controlada de forma involuntária pelo sistema nervoso autônomo. “A hiperatividade simpática é a causa mais comum da hiperidrose. Seja relacionada ao estresse ou mesmo em repouso. Algumas doenças endocrinometabólicas estão associadas à sudorese excessiva, como obesidade – pacientes obesos apresentam maior sudorese; hipertireoidismo – o excesso de hormônios tireoidianos causa um estado de aumento da atividade simpática gerando tremores, ansiedade e aumento da sudorese.”

A sudorese exagerada também é associada ao excesso do hormônio de crescimento (GH – Growth Hormone, na sigla em inglês), uma patologia rara que leva ao aumento das extremidades no adulto, ou ao gigantismo, quando acomete crianças e adolescentes. “Uma das queixas mais frequentes nesse grupo de pacientes é a hiperidrose. No caso destas patologias com causa da hiperidrose, o tratamento específico de cada uma delas é o indicado para a reversão ou melhora dos sintomas.”

Tratamento De acordo com Maria de Fátima Melo Borges, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional MG, o tratamento pode ser feito pelo uso de medicamentos locais (sais de alumínio, glicopirrolato) ou iontoforese , que controlam a produção do suor pela glândula sudorípara. Medicamentos orais também são receitados, mas somente em casos muito específicos, devido aos efeitos colaterais. A aplicação de toxina botulínica, principalmente nas axilas, é bastante eficiente e já está bem estabelecida como solução para bloquear a produção do suor. Em casos especiais é feita uma cirurgia para remover as glândulas sudoríparas ou os gânglios que participam da inervação das glândulas (simpatectomia).

JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS
Relação do uso de antitranspirantes com câncer de mama ou Alzheimer não passa de lenda, segundo especialistas (foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)
A polêmica dos sais de alumínio e o câncer
Existe uma tese de que o uso diário de antitranspirante está relacionado ao aparecimento do câncer de mama, o que seria comprovado pela detecção de alumínio, que entra na composição do produto, em células humanas. O alumínio teria sido medido no tecido mamário humano com níveis superiores aos encontrados no sangue. Alguns estudos teriam demonstrado a absorção da substância em aplicação tópica por meio dos sais de alumínio (cloridrato de alumínio, cloreto de alumínio ou complexos de alumínio-zircônio) contidos nos antitranspirantes, os quais, comprovadamente, apresentariam efeitos tóxicos ao organismo humano, em determinadas quantidades, de forma cumulativa.

Para Renata Magalhães, dermatologista da Universidade Federal de Campinas (Unicamp) e docente da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), tais informações não passam de lenda. Os dados não foram tirados de nenhuma pesquisa, mas, sim, de boatos que circulam na internet ou pelo boca a boca. “Fizemos uma releitura da literatura médica mundial e não conseguimos encontrar nada que pudesse justificar que o uso de desodorantes e antitranspirantes causam câncer de mama, ou mesmo o Mal de Alzheimer , afirma ela. “Tudo não passa de popular”, garante.

Mesmo assim, é preciso certo cuidado com o uso. A dermatologista Maria de Fátima Melo explica que os desodorantes, como são feitos com perfumes, podem ocasionar reações alérgicas nas pessoas sensíveis ao princípio utilizado. “Como o próprio nome sugere, são substâncias para reduzir ou mascarar o odor. Já os antitranspirantes agem no funcionamento da glândula sudorípara, regulando a produção do suor. Muitas vezes há a associação dos dois princípios nos produtos comercializados”, explica.

De acordo com a dermatologista, os antitranspirantes mais eficientes são realmente feitos à base de sais de alumínio e considerados substâncias seguras para uso local. Ela também afirma que não existem estudos científicos sérios, bem conduzidos, relacionando seu uso ao câncer de mama. “O que se vê são publicações alarmistas, sem nenhum fundamento científico, principalmente nas redes sociais, às vezes até com imagens de doenças cutâneas sem relação com câncer, causando medo e desinformação.”

A médica ressalta que esses produtos não precisam ser evitados. “Os produtos industrializados ou formulados pelos dermatologistas são feitos com substâncias seguras, em doses adequadas, e podem ser usados sem receio. Eles não apresentam nenhum efeito tóxico ao organismo. Isto, desde que sejam obedecidos os princípios de se utilizar substâncias seguras, bem estabelecidas e em dosagens adequadas. O calomelano, que já foi usado no passado e vendido livremente para manuseio em casa e como desodorante, hoje está proibido por ser um composto de mercúrio (cloreto mercuroso).”

Maria de Fátima lembra que há outras medidas capazes de reduzir a presença de bactérias locais e otimizar o uso de desodorantes e antitranspirantes: usar roupas de algodão, que absorvem melhor a umidade e reduzem este contato com a pele, a depilação, sabonetes antissépticos no banho e os cuidados com as roupas, como lavagem e troca frequente.