Genética interfere se café será benéfico ou maléfico ao organismo de quem bebe

Estudo poderá trazer avanços relacionados a abordagens e exames personalizados envolvendo a cafeína

por Bruna Sensêve 18/11/2014 13:30

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André Violatti/Esp. CB/D.A Press
Resultados podem ajudar a identificar subgrupos de pessoas com maior probabilidade de se beneficiar do aumento ou da diminuição do consumo da cafeína para a saúde (foto: André Violatti/Esp. CB/D.A Press)
Tomar um café pela manhã, outro após o almoço e não esquecer o do fim da tarde. É disseminado o costume de saborear a bebida ao longo do dia. Por isso, os efeitos da cafeína sobre o corpo são alvo recorrente de cientistas. Um grupo dos EUA acaba de engrossar o componente genético desse tipo de análise. Em um grande trabalho de sequenciamento de genes de consumidores regulares de café, os investigadores mostram que os benefícios e os malefícios dele dependem de algumas variações no DNA.

“Esse grande estudo segue uma série de trabalhos menores conduzidos por volta de 2011, quando identificamos apenas duas variantes genéticas associadas ao consumo da cafeína. Sabemos, há algum tempo, que a genética desempenha um papel em quem tem o hábito de tomar café, mas identificar as variantes genéticas exatas tem sido um desafio”, explica ao Correio Marilyn Cornelis, pesquisadora associada do Departamento de Nutrição na Escola de Medicina da Universidade de Harvard e principal autora do estudo.

Para a cientista, os avanços tecnológicos são o principal aliado do estudo. Foram examinadas 2,5 milhões de variantes genéticas em todos os genes de mais de 120 mil homens e mulheres. Os participantes forneceram previamente informações sobre a frequência com que ingeriam café. Os cientistas liderados por Cornelis identificaram seis alterações genéticas ligadas ao metabolismo e aos efeitos neurológicos provocados pela bebida. “Ela tem sido associada a efeitos adversos. Nossos resultados podem nos permitir identificar subgrupos de pessoas com maior probabilidade de se beneficiar do aumento ou da diminuição do consumo da cafeína para a saúde”, destaca Cornelis.

Segundo a pesquisadora, no curto prazo, cientistas poderão analisar essas variantes recém-identificadas levando em consideração as diferenças individuais no metabolismo e as respostas particulares a essa substância. “Estudos típicos sobre café geralmente se baseiam no fato de que uma xícara teria o mesmo efeito para todos. Sabemos que não é verdade e, agora, temos os fatores genéticos, as ferramentas específicas para melhorar os estudos”, ressalta.

Ingestão otimizada
Professora do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB), Silviene de Oliveira avalia que o estudo dos pesquisadores da instituição norte-americana poderá trazer avanços relacionados a abordagens e exames personalizados envolvendo a cafeína. “Trata-se de uma tendência na medicina. No Brasil, isso ainda está andando mais devagar, mas, em outros países, já vemos exames que mostram, conforme as características genéticas do paciente, se ele deve tomar determinado remédio levando em conta, por exemplo, o que causará no organismo dele e os efeitos colaterais.”

Os autores da pesquisa acreditam que o levantamento relacionado à cafeína pode crescer e mudar hábitos. “Da mesma forma que as análises de genes anteriores do tabagismo e de consumo de álcool, a pesquisa serve como um exemplo de como a genética pode influenciar alguns tipos de comportamento habitual”, destaca Daniel Chasman, professor associado do Brigham and Women’s Hospital, nos Estados Unidos, e também autor do estudo.

Geneticista do Laboratório Exame, Gustavo Guida ressalta que, por se tratarem de condições do DNA, essas discussões todas passam por análises individuais. “São variantes que existem nas populações e podem refletir de forma diferente na ação de substâncias. Isso acontece em algumas pessoas e em outras não. Há aqueles que bebem muito café e, ainda assim, sentem sono. O organismo deles se autorregula ao que acredita ser adequado”, ilustra.

"Nossos resultados podem nos permitir identificar subgrupos de pessoas com maior probabilidade de se beneficiar do aumento ou da diminuição do consumo da cafeína para a saúde”
Marilyn Cornelis, pesquisadora associada do Departamento de Nutrição na Escola de Medicina da Universidade de Harvard