Na contramão da especialidade médica, medicina antroposófica trata a pessoa de forma integral

Profissionais levam em conta os aspectos físico, etéreo, astral e espiritual do paciente

por Zulmira Furbino 28/10/2014 10:20

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Leandro Couri/EM/D.A Press
"Na medicina acadêmica, tratam-se todos os hipertensos da mesma forma, todos os diabéticos do mesmo jeito. Na antroposofia, a gente vê que uma doença atinge de forma distinta cada ser humano" - Danielli Ferraz, médica (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Num mundo onde a especialização é uma tendência cada vez maior, nada como fugir do fluxo, voltando a atenção para o todo e para um encontro com a realidade essencial do ser humano. Essa é a proposta da medicina antroposófica, que desde 2006 integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares já oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Criada pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner no fim do século 19, a antroposofia ganhou o campo da medicina com o pioneirismo da médica Ita Wegman, que desenvolveu as bases de uma nova medicina, indicando medicamentos e terapias para diversas doenças. Hoje, está presente em mais de 60 países. No Brasil, é praticada em pelo menos sete estados da Federação.

A médica Danielli Ferraz se formou em medicina e se especializou em cardiologia, mas há nove anos resolveu trabalhar com clínica médica e antroposofia, que trata o ser humano de forma integral, levando em conta o corpo físico, o etéreo, o astral e o espiritual e cuidando de cada pessoa de acordo com suas peculiaridades. “Na medicina acadêmica, tratam-se todos os hipertensos da mesma forma, todos os diabéticos do mesmo jeito. Na antroposofia, a gente vê que uma doença atinge de forma distinta cada ser humano. Como a resposta a cada doença é individual, cuidamos de cada paciente como um ser humano individual”, explica a médica, que, além do consultório, atende os alunos dentro do Instituto Ouro Verde, orientado pela pedagogia Waldorf, que nasce do desenvolvimento das teorias baseadas na antroposofia.

A pensionista Raimunda Alves Monteiro, de 79 anos, estava com pressão alta e foi orientada a fazer caminhadas, mas sentia dor nas pernas e no pé. Para seguir a orientação médica buscou um ortopedista, um angiologista e, finalmente, um reumatologista, que detectou nela artrite no joelho e uma baixa na densitometria óssea, o que indicava que ela estava muito próxima da osteoporose. Chegou a tomar medicamentos alopáticos para resolver a questão, mas como também tinha de usar remédios alopáticos para a pressão, começou a ter problemas no estômago. Foi aí que, orientada por Danielli, passou a fazer um tratamento antroposófico para o problema, já que não poderia deixar de tomar o medicamento alopático para a hipertensão. “Tinha essas dores na perna há muito tempo. Depois do medicamento antroposófico melhorou e meu exame de densitometria óssea voltou ao normal”, comemora.

DIAGNÓSTICO GLOBAL
Para a clínica geral Maria Regina Reis Cançado, formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que fez especialização em antroposofia em São Paulo numa época em que ainda não existia oferta em Belo Horizonte, as pessoas que buscam a medicina antroposófica – que apesar de ser oferecida pelo SUS ainda não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina –, querem tratamentos livres de efeitos colaterais, que sejam holísticos e abrangentes. “Se uma pessoa tem dor no estômago, a medicina convencional trata apenas do estômago. Na antroposofia, a dor de estômago é um sintoma e o médico faz um diagnóstico global da pessoa olhando para aspectos da vida como situação emocional e familiar. Ela tenta abordar tudo isso para avaliar o caso”, explica.

“A medicina antroposófica é como todo médico gostaria de tratar seu paciente. Usando os medicamentos alopáticos quando necessário, porque um médico antroposófico é um médico formado nas escolas tradicionais, mas abordando sintomas que usualmente não conseguem ser tratados com medicamentos convencionais, a não ser com remédios que causam efeitos colaterais muito adversos. É o caso de uma dor de cabeça ou de cólicas menstruais e TPM (tensão pré-menstrual)”, observa Ana Maria Araújo, clínica geral e especialista em saúde da mulher. De acordo com ela, a medicina antroposófica investiga o que ocorre no ritmo orgânico dessa mulher e usa medicamentos que vêm da natureza e são tratados com todo o respeito desde o cultivo até a colheita e o preparo. “Só um pensamento ampliado da medicina, que tem uma capacidade de entender o paciente de maneira mais ampla, pode ser eficaz para abordar certos sintomas”, sustenta.