Plantas comercializadas para uso medicinal muitas vezes não têm efeito comprovado

Em outros casos, podem apresentar substâncias diferentes das indicações

por Luciane Evans 17/06/2013 14:00

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Especialistas dizem que no Mercado Central, em BH, as informações repassadas ao consumidor nem sempre estão corretas e as plantas vendidas nem sempre são de qualidade (foto: Stock)
Apesar de o mais recomendado por especialista é ter uma horta em casa, como forma de assegurar a qualidade e identificação real das plantas que serão consumidas, nem sempre é esse o caminho mais percorrido por quem, ou por vontade própria ou recomendação médica, fará uso das plantas medicinais em determinado tratamento terapêutico. Em Belo Horizonte, por exemplo, o Mercado Central, no Centro da cidade, é o destino obrigatório para aqueles que procuram as mais diversas ervas. Há especialistas que dizem que ali as informações repassadas ao consumidor nem sempre estão corretas e as plantas vendidas nem sempre são de qualidade. Já outros defendem o local, mas reforçam o pedido de atenção na hora da compra.

A convite do caderno Bem Viver, do jornal Estado de Minas, o nutricionista clínico Wagner Alessandro dos Reis, professor de gastronomia e nutrição para alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), percorreu algumas lojas do Mercado Central para explicar a indicação e efeitos colaterais das plantas mais tradicionais procuradas ali. Além dele, o Bem Viver também convidou duas estudantes de nutrição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alunas da disciplina de fitoterápicos, Rosimeire Moreira e Dayanne Ramos de Oliveira, para o mesmo desafio. Ambas contaram que na infância seus pais e avôs usaram as plantas medicinais para tratar de muitos de seus males. “Fui criada na roça, no interior de Minas. Lá, a sabedoria popular trata as doenças com a natureza. Hoje, faço isso com os meus filhos, mas tenho aprendido que é preciso cautela”, diz Rosimeire.
Exemplos desse aprendizado são os chás de erva-doce e funcho que, segundo Rosimeire, eram feitos por seus familiares com as folhas das plantas. “Mas o certo são as sementes.” Dayanne lembra que no curso de nutrição os chás são vistos como alimentos e, por isso, muitos nutricionistas receitam a bebida para acompanhar uma dieta balanceada. Mas a professora de fitoterápicos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maria das Graças Lins Brandão avisa que nenhuma planta emagrece. “As plantas são complementares.”

Maria Thereza Correia/EM/D.A Press
Alunas do curso de nutrição, Rosimeire Moreira e Dayanne de Oliveira aprenderam muito sobre chás e ervas com pais e avós (foto: Maria Thereza Correia/EM/D.A Press)
No Mercado Central, de acordo com os vendedores, é muito comum as pessoas procurarem ervas milagrosas que prometem, entre muitas coisas, o emagrecimento rápido. De acordo com o vendedor Wesley Irving, de uma loja de plantas medicinais do mercado, a procura é sempre intensa. Com a ajuda dele e do nutricionista Wagner, conhecemos as mais famosas. Uma delas, por exemplo, é a planta de pau-magro, sobre a qual o nutricionista diz não ter estudos comprovados. O chá verde, por exemplo, conhecido como aliado no emagrecimento, por ter alto poder diurético, não faz parte da listagem de plantas naturais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, segundo o nutricionista, aumenta a pressão de quem o consome. Por isso, não pode ser tomado como água, como muitos fazem. “Deve ser muito bem recomendado.”

“O hibisco, que tem sido bastante usado, tem também um poder diurético, inibe a ansiedade e não aumenta tanto a pressão. Tem ações antioxidantes”, comenta Wagner, dizendo que para o bom uso dessa planta o indicado são as folhas desidratadas e o processo de infusão. O profissional lembra que um chá, em hipótese alguma, pode ser reaquecido. “O ideal é que se tomem de três a quatro xícaras por dia”, indica. Uma planta usada também para o emagrecimento é a cavalinha, da qual não se sabe os riscos de efeitos colaterais. “É uma planta diurética, que pode causar cálculo renal. Na composição dos vegetais, há uma porcentagem de sal e, no caso da cavalinha, esse percentual é de 30%, um valor alto”, alerta Maria das Graças.

Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Vendedor Wesley Irving diz que procura é grande por plantas para emagrecer. Nutricionista Wagner Reis explica que não há erva milagrosa (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
INDIVIDUALIDADE
A melhor receita de chá de uma planta medicinal, de acordo com o nutricionista, é aquela recomendada por especialistas. “Cada pessoa pode reagir de uma forma diferente aos efeitos dos vegetais. Por isso, é importante, para um tratamento, o acompanhamento de um profissional. No caso de uma mulher gestante, por exemplo, não se recomenda nada”, defende. Wagner alerta que não existem milagres e, que, para o emagrecimento, o esporte e a alimentação ainda são os grandes aliados. Para os resfriados, as folhas de guaco são as mais indicadas e, segundo Wagner, não há contraindicação.

APRENDA

Os principais processos para fazer chás com plantas medicinais
  • Infusão – Consiste em jogar água fervente sobre a parte da planta a ser usada e, em seguida, tampar o recipiente que as contém. Enquanto esfria, a água vai extraindo da planta seus princípios ativos.
  • Decocção – Nesse processo, é preciso ferver a parte da planta a ser utilizada junto com a água por até cinco minutos.
  • Maceração – É feita deixando por alguns dias a planta em contato com algum líquido (geralmente álcool ou óleo frio).
É importante saber identificar e conhecer as diferentes espécies, já que cada uma delas deve ser preparada de acordo com sua química e seus princípios ativos. A utilização também deve ser feita com cuidado. Por serem naturais, é comum a ideia de que elas não fazem mal e de que, por isso, podem ser usadas sem moderação. É importante saber que as plantas medicinais são remédios e agem quimicamente no corpo. Conhecer as plantas, não misturá-las e consultar um especialista a respeito dos estudos científicos na área são algumas atitudes que garantem um uso responsável das plantas.

Fonte: Museu de História Natural e Jardim Botânico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)