Novo surto de ebola assombra a África

OMS confirma 78 mortes decorrentes da doença na Guiné e quatro na Libéria. Há ainda pacientes sob suspeita em Serra Leoa. Diante da situação, o governo do Senegal fechou a fronteira

por Gabriela Walker 01/04/2014 09:16

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MÉDICOS SEM FRONTEIRAS/AFP
Equipe da organização Médicos Sem Fronteiras examina paciente em Gueckedou, na Guiné: última epidemia na África ocorreu em 2012 (foto: MÉDICOS SEM FRONTEIRAS/AFP)
A confirmação de novos casos de infecção pelo vírus ebola aumentou a preocupação de que o surto se alastre pelo continente africano. Depois de 78 mortes decorrentes da doença na Guiné, principal foco do vírus nos últimos meses, quatro óbitos foram reconhecidos na Libéria e casos suspeitos são monitorados em Serra Leoa, ambos na fronteira sul do país. Ontem, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) classificou a situação no oeste africano como uma “epidemia de amplitude jamais vista”. Ao mesmo tempo, representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) tentavam evitar o pânico, alertando que “não há necessidade de aumentar algo que já é ruim o suficiente”, conforme defendeu pelo Twitter um representante da agência das Nações Unidas.

“Estamos enfrentando uma epidemia de magnitude jamais vista em termos de distribuição de casos no país: Gueckedou, Macenta, Kissidougou, Nzerekore e, agora, Conacri (a capital)”, alertou Mariano Lugli, coordenador do MSF. Por sua vez, o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, que está no país desde a semana passada, assinalou que a preferência pelo termo surto, em vez de epidemia, se justifica pelo estágio inicial dos registros. “Em francês, língua que falamos aqui, diz-se ‘épidémie’ porque não há outro termo equivalente, mas preferirmos nos referir à situação como surto por ainda estar no começo”, explicou ao Estado de Minas.

Desde janeiro, a Guiné enfrenta uma proliferação da febre hemorrágica causada pelo ebola. Em seu último balanço, o Ministério da Saúde do país atesta que 22 óbitos em decorrência do vírus estão confirmados em laboratórios. Há 44 pessoas sob monitoramento. Na Libéria, além das quatro mortes, há três casos de infecção pelo vírus confirmados e outros sob investigação, segundo a OMS. Nenhuma vítima teve a doença diagnosticada em Serra Leoa – aguarda-se o resultado de exames em cinco pacientes.

Diante da situação, o governo do Senegal, ao norte da Guiné, fechou as fronteiras com o vizinho. A Mauritânia decidiu restringir o comércio com os países afetados. A empresa aérea Gambia Bird, que deveria começar a atuar na Guiné no último fim de semana, adiou o início das operações por causa do surto. Em comunicado, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental destacou que a doença é uma séria ameaça à segurança na região.

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Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: CB/D.A Press)
Agressivo e letal Especialistas que atuam na região identificaram o vírus responsável pelo surto atual como “do tipo Zaire”, uma das cinco espécies da família dos filoviruses que causam o ebola. “Esse é o (vírus) mais agressivo e letal”, alertou o epidemiologista Michel Van Herp, ligado à MSF, em um comunicado da organização. Tem um índice de mortalidade de mais de 90%, assinala Van Herp. Segundo a ONG, mais de 40 toneladas de equipamentos foram enviadas à Guiné para tentar conter o avanço da doença.

Acredita-se que o ebola, descoberto em 1976, seja transmitido por morcegos. O vírus se espalha quando pessoas saudáveis entram em contato com fluidos corporais de indivíduos infectados, como sangue, suor ou leite materno. Depois de um período de incubação entre dois e 21 dias, os pacientes passam a ter febre alta, dor muscular, conjuntivite, vômitos e fraqueza. Sangramentos pela urina e pelas narinas também são comuns. Além da facilidade de transmissão, o vírus provoca uma alta taxa de mortalidade – entre 25% e 90% dos infectados. Desde o primeiro registro, cerca de 2,2 mil casos foram confirmados. Desses, 1,5 mil não resistiram às complicações da infeção.

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Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais (foto: CB/D.A Press)
Apesar disso, os surtos são considerados raros. A última epidemia foi registrada em 2012, quando centenas adoeceram em Uganda e na República Democrática do Congo (RDC). Segundo a MSF, outras “certamente passaram despercebidas por ocorrerem em áreas onde as pessoas não têm acesso a tratamentos de saúde”, o que impossibilita a confirmação de todos os casos. O ebola é classificado como um dos vírus mais contagiosos e mortais entre os humanos, segundo a OMS, e não existe nenhum tipo de tratamento ou de vacina específicos para a doença.

A partir da confirmação de um primeiro caso, todas as pessoas que tiveram contato com a vítima precisam ser isoladas e monitoradas. Médicos, enfermeiros e auxiliares que atendem pessoas infectadas devem usar roupas isolantes, luvas, máscaras e óculos de proteção, o que, muitas vezes, não ocorre em comunidades pobres e afastadas. Segundo organizações de saúde, a orientação da população é uma peça-chave para evitar novas vítimas.

O presidente da Guiné, Alpha Condé, fez um pronunciamento à nação anteontem, para tranquilizar a população e orientá-la a seguir medidas de precaução, como manutenção da higiene pessoal e distanciamento dos infectados. “Meu governo e eu estamos muito preocupados com essa epidemia”, disse Condé, acrescentando: “Peço às pessoas para que não entrem em pânico nem acreditem nos rumores que estão alimentando o medo”. Segundo Tarik Jasarevic, da OMS, apesar do clima de apreensão, os guineanos estão tranquilos e recebem informações diárias sobre como proceder.