Terapia consegue reduzir as marcas do vitiligo

Descoberta proteína que, ao ser neutralizada, impede a destruição das células de pigmentação da pele. Submetidos à intervenção, ratos tiveram 50% da coloração epitelial recuperada

por Correio Braziliense 13/02/2014 10:45

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Anderson Araujo / CB / DA Press
Clique para ampliar e entender a pesquisa que propõe nova terapia para o vitiligo (foto: Anderson Araujo / CB / DA Press)
Cientistas da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, descobriram um possível tratamento para o vitiligo. Levando em consideração que essa é uma doença autoimune — ocorre em razão do ataque das células de defesa do próprio organismo a células sadias —, os estudiosos conseguiram definir a proteína que coordena essa autodestruição. Neutralizando-a, impediram tanto a evolução da doença, quanto fizeram com que a melanina voltasse a ser produzida na região despigmentada, amenizando as manchas brancas.

Alvo do ataque dos linfócitos, os melanócitos são uma espécie de fábrica de proteínas que são transformadas em melanina, que dá a pigmentação da pele. Quando destruídos pelo sistema imunológico, eles deixam a mancha branca característica do vitiligo. Desse processo, sobra uma espécie de resíduo, em sua grande maioria composto por proteínas. Lá, de acordo com o coordenador da pesquisa, o professor assistente de medicina e dermatologia da Universidade de Massachusetts, John E. Harris, foi identificada uma molécula, a CXCL10, que exerce papel preponderante no desencadeamento da doença.

A CXCL10 funciona como uma espécie de sensor, indicando às células de defesa os melanócitos que deverão ser destruídos. “Imagine uma formiga (os linfócitos) que encontrou um novo pedaço de comida no chão. Ela deixa uma trilha química para as outras sentirem pelas antenas e também chegarem até a comida. O CXCL10 age como esse rastro químico, indicando onde estão e o que deve ser feito com os melanócitos”, compara.

Se essa proteína for neutralizada e o sistema imunológico não detectar a presença dela, segundo o estudo, as células de defesa não mais atacarão os melanócitos. “É como se as formigas perdessem as antenas e não conseguissem mais detectar o caminho até a comida. Quando bloqueamos a CXCL10, é como se apagássemos a trilha da formiga com alvejante”, complementa o autor da pesquisa. O experimento foi feito em ratos. Em quatro semanas de tratamento, os camundongos começaram a apresentar repigmentação. Oito semanas depois, 10% das cobaias tinham 50% ou mais das manchas repigmentadas.

Segundo o professor de dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade do ABC Jef-ferson Alfredo de Barros, existem outros medicamentos direcionados a proteínas que induzem as células a atacarem outras, mesmo sadias, do próprio corpo. “Mas esse parece o caso em que o agente específico foi mais bem identificado”, analisa. A instituição tem um centro de referência para o tratamento da doença.

Na grande maioria dos casos de doenças autoimunes, o tratamento é justamente diminuir a capacidade imunológica de todo o organismo para que ele pare de atacar as estruturas sadias. “Aqui, eles têm uma possibilidade de atuação mais específica e, por conta disso, provavelmente haverá menos efeitos colaterais.”

Antioxidantes
Atualmente, as soluções para o vitiligo dependem de como e onde estão as manchas. De maneira geral, a grande maioria dos tratamentos ainda é feita por meio de antioxidantes, vitaminas e compostos que ajudam a combater os radicais livres. “Ao transformar a proteína em pigmento, o melanócito libera radicais livres. Esses vão alterando a célula e deixando ela mais fraca, o que atrai o sistema imunológico. Por isso, associa-se muito o vitiligo ao estresse e a fatores emocionais”, explica Barros.

Professor substituto de dermatologia da Universidade de Brasília, Gilvan Alves lembra que o vitiligo é uma doença que não deixa sintomas. A mancha não coça, não arde nem dói, podendo aparecer, inclusive, do dia para noite. Além disso, do mesmo modo que o sistema imunológico seleciona os melanócitos de determinada área como células doentes, ele pode ter reação igual com qualquer outra célula do corpo.

Os tratamentos desenvolvidos a partir do estudo feito pela equipe liderada por Harris são destinados ao cuidado de todo o organismo. “No caso da neutralização da CXCL10, a ideia é que possa ser feito por via oral ou injeção, o que tratará o corpo inteiro como um organismo só. Esse será, definitivamente, um jeito mais fácil de se medicar e, a partir do momento em que haja uma resposta diferente à do tratamento atual, poderá ser combinada com as técnicas existentes para torná-las cada vez mais efetivas”, esclarece.

O tratamento sugerido serviria para estabilizar e reverter as manchas brancas. Harris alerta que não há uma aplicação preventiva. “Teríamos que achar um modo de prever quem vai pegar a doença e, para isso, seria preciso saber o que claramente atrai o sistema imunológico”, explica. Os testes com humanos serão realizados em dois anos e a expectativa é de que o tratamento possa ser usado clinicamente em 10. Os resultados já alcançados foram divulgados na edição desta semana da Science Translational Medcine.