Grande parte dos homens nunca fez exame do toque

Pesquisa indica que quase metade dos homens nunca fez o exame de toque retal, essencial para identificar o câncer de próstata, que deve acometer 50 mil pessoas em 2013

por Márcia Maria Cruz 15/09/2013 10:00

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Arte EM/DA Press
(foto: Arte EM/DA Press)

Por desconhecimento ou por tabu, os homens temem ir ao urologista, segundo demonstra pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia de 2012. Dos cinco mil homens entrevistados, quase a metade deles (47%) revelou nunca ter realizado exames para detectar o câncer de próstata, 44% jamais se consultaram com um urologista e 51% nunca fizeram exames para aferir os níveis de testosterona (hormônio masculino) no sangue. É o caso do agrimensor Ênnio Alberto, de 86 anos, que somente depois dos primeiros desconfortos ao urinar procurou um especialista.

Embora o ideal seja que os homens façam anualmente o exame depois dos 40 anos, Ênnio fez o primeiro exame de toque depois dos 70. “Não fiz antes, porque não fui instruído. Tenho médico cuidando de minha pressão desde os 50 anos.” Com dificuldade de urinar, procurou um urologista e foi surpreendido com 12 tumores na próstata. Diante do diagnóstico, a solução foi a cirurgia realizada em 2002. “Fizemos a operação e os tumores estavam tão desenvolvidos que tiveram que cortar a bexiga. Os médicos disseram ao meu sobrinho, que também é médico, que eu havia escapado por um milagre”. Onze anos depois da cirurgia, Ênnio está completamente recuperado, faz mensalmente o controle e alerta a outros homens quanto à necessidade do exame de toque. “Tem que ter coragem. Não dá para deixar para depois”, alerta.

No entanto, o medo faz com que o câncer de próstata avance e seja o segundo tipo de câncer que mais acomete os homens. Em 2012, foram diagnosticados 60.180 novos casos dessa neoplasia, segundo o último levantamento realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). Para 2013, a estimativa é de que sejam diagnosticados 52 mil casos. “Muitos portadores de câncer de próstata não chegam a tomar conhecimento da doença, convivem com ela sem que haja prejuízos perceptíveis, chegando à morte por outros motivos”, conta o oncologista Amândio Soares, diretor da clínica Oncomed BH.

Na avaliação do presidente da Sociedade Brasileira de Urologia – Regional Minas Gerais, José Eduardo Fernandes Távora, embora ainda seja alto o número de homens que nunca fizeram o exame de toque esse percentual tem se reduzido devido à influência das mulheres sobre os maridos. “Esse número tem diminuído, porque a mulher cobra do homem que ele vá ao médico. Por conta própria, o homem só procura um médico quando tem algum problema”, diz.

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Clique para ampliar (foto: EM/DA Press)
SINTOMAS

O exame de toque possibilita o diagnóstico precoce da doença, que na fase inicial não apresenta sintomas. Os tumores na próstata podem levar até 15 anos para atingir um centímetro. Para apresentar os primeiros sintomas, levam entre oito e 10 anos. “A história natural do câncer é muito longa”, pontua Amândio. Os sinais aparecem quando a doença está em um estágio mais avançado, o que dificulta o tratamento. Os homens podem ter dificuldade para urinar, o jato pode ficar fraco e também pode ocorrer um aumento no número de micções. Glândula do aparelho reprodutor masculino, a próstata fica localizada na parte baixa do abdômen – abaixo da bexiga e na frente do reto. Envolve também a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina armazenada na bexiga é eliminada. Nesse órgão bem pequeno, em formato de maçã, é produzida parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozoides, liberado durante o ato sexual.

O tratamento do câncer de próstata é multidisciplinar, podendo envolver cirurgia, radioterapia, uso de hormônios ou quimioterapia. A escolha do tratamento ideal é feita dependendo do estágio da doença e das características de cada paciente. Se a neoplasia de próstata é diagnosticada em estágios iniciais, a cirurgia é uma das opções terapêuticas, assim como a radioterapia. Nos Estados Unidos, os tumores são classificados como de risco baixo, intermediário e alto. De acordo com José Eduardo, a classificação é importante, pois em alguns casos de baixo risco o tratamento pode trazer mais complicações do que o acompanhamento. No Brasil, essa gradação não vigora.

HISTÓRICO FAMILIAR

Todos os homens a partir dos 40 anos de idade devem fazer o exame de toque retal e o PSA (antígeno específico da próstata). “Se o pai ou avô tiveram câncer de próstata, o ideal é que o homem faça o primeiro exame depois dos 40. Para quem não tem histórico familiar pode ser depois dos 45”, diz José Eduardo Távora. Os homens devem ficar atentos ao histórico familiar. Pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos pode aumentar de três a 10 vezes o risco de o indivíduo ter a doença, em comparação com quem não tem casos na família.

Durante o exame clínico, o urologista avalia o formato e consistência da próstata. Já o exame laboratorial determina o nível de PSA no sangue. Trata-se de um marcador de doenças da próstata. Em caso de câncer, aumenta a quantidade de PSA. “Isoladamente, o exame de PSA não é capaz de determinar se o indivíduo é portador da neoplasia. O nível dessa proteína cresce também em caso de algumas infecções ou crescimento benigno da próstata. Daí a importância de fazer os dois exames”, explica Amândio Soares.

De acordo com José Eduardo, cerca de 80% dos casos podem ser descobertos a partir do exame de toque retal devido à localização dos tumores em zonas periféricas da glândula. Em cerca de 20% dos casos, o problema só pode ser detectado com o exame do PSA com biopsia.