Homens recorrem a cirurgias, mas tamanho de pênis não é preponderante no prazer da mulher

Técnicas informais de aumento do pênis oferecem riscos à saúde, mas medicina tem opções seguras para casos de real necessidade

por Valéria Mendes 24/05/2013 08:30

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Ilustração Soraia Piva
O tamanho do pênis não muda o prazer do homem, nem o da mulher (foto: Ilustração Soraia Piva)

Mais relacionado à autoestima do homem que ao prazer da mulher, o tamanho do pênis permanece em destaque no debate sobre sexualidade. O fato é que apenas 2% dos homens têm o pênis pequeno: menos de 10 cm de comprimento quando ereto. Mesmo assim, o número de pacientes que procuram médicos para abordar o problema é significativo. “Quando falamos em tamanho de pênis, para muitos parece um assunto fútil e supérfluo. Isso se deve ao fato de que, estatisticamente, a grande maioria dos homens tem um membro de tamanho normal e, para estes, tamanho não é problema. Entretanto, para aquele que tem um falo de pequenas dimensões, seguramente não existirá problema maior”. A afirmação é do médico-urologista, membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Sociedade Americana de Urologia (SAL), Marcelo Salim.

A exceção vai de um extremo a outro: um a cada 500 homens tem o órgão sexual superior a 23 cm de comprimento quando ereto. Apesar de os números usados por pesquisadores, especialistas e profissionais apontarem para uma regra que comprova a predominância da “normalidade”, o mito do pênis grande é um assunto que acompanha o universo masculino. “Sabe-se que a maior parte dos homens tem o pênis de tamanho normal e que alguma referência ou comparação na infância trouxeram-lhe a uma visão equivocada que dificilmente será apagada”, explica Salim.

Para quem realmente precisa lidar com dimensões consideradas inadequadas para um bom intercurso sexual, a cirurgia para aumentar o tamanho do pênis pode ser uma opção, mas é recomendada para menos de 1% dos pacientes. “Não existe cirurgia consagrada. A maioria das técnicas utilizadas não tem bons resultados e não são recomendadas pela SBU e SAL”, observa o especialista que há 25 anos trabalha com a saúde do homem. No entanto, segundo ele, em casos específicos podem apresentar resultados eficientes.

Arte: Soraia Piva
Fonte: The Journal of Urology - Volume 181 (foto: Arte: Soraia Piva)


Para o diâmetro
Marcelo Salim explica que em 1990 surgiram alternativas inspiradas nas técnicas de cirurgias plásticas como, por exemplo, o enxerto de lábios. “O silicone líquido era injetado no pênis e o resultado foi catastrófico. O produto migra e forma nódulos ao longo do pênis que fica com um aspecto visual feio e irregular”. O urologista conta que outras técnicas com outras substâncias também foram testadas até se chegar à gordura do organismo do próprio indivíduo. “Os resultados foram melhores, mas, com o tempo, a gordura era absorvida, o pênis voltava ao diâmetro original e ainda aconteciam retrações nos pontos de injeção da gordura”.

Para o comprimento
Mais comuns nos Estados Unidos e Europa, as técnicas que hoje são bem aceitas pela comunidade médica não vão aumentar o tamanho do pênis em si, mas vão liberá-lo de dentro do corpo cavernoso, ou seja, da porção que fica dentro da pelve. “No corpo cavernoso tem um ligamento - que faz a comunicação do pênis com o púbis - que pode ser liberado sem prejudicar a ereção”, detalha Salim. Ele explica que o homem ganha um desenvolvimento maior na ereção, em torno de 2 a 3 cm, e, em repouso, o ganho é em torno de 1 cm. “A queixa nos consultórios é sempre de comprimento, nunca de diâmetro”, diz.

Outra prática bem aceita é a aspiração da gordura pubiana. “O homem acumula gordura no sub-púbis. Visualmente, esse acúmulo diminui o tamanho do pênis, flácido ou ereto”, afirma. Marcelo Salim explica que a associação das duas técnicas proporciona resultados visuais muito bons.

Recomendações
Foto: Valéria Mendes
"Quando falamos em tamanho de pênis, para muitos parece um assunto fútil e supérfluo. Isso se deve ao fato de que, estatisticamente, a grande maioria dos homens tem um membro de tamanho normal" - Marcelo Salim, médico-urologista (foto: Foto: Valéria Mendes)
No Brasil, esse tipo de cirurgia é pouco comum porque a SBU não aceita bem essas técnicas. “Elas são um meio para se ganhar muito dinheiro. A autoestima está intimamente ligada à satisfação e as pessoas gastam muitas vezes o que não têm”, alerta Salim.

Em situações excepcionais, no entanto, as técnicas são recomendadas. “Casos de pênis embutido ou bolsa escrotal mal implantada podem sofrer cirurgias corretivas que vão aumentar o tamanho”, pondera o médico.

Nessas situações, o paciente fica 45 dias de abstinência sexual e pode sentir dor em caso de ereção durante esse período. “Não é forte. É importante lembrar que o pênis e a vagina têm pouca sensibilidade dolorosa e muita sensibilidade tátil”, salienta. A cicatriz é pouco visível porque fica localizada na base do pênis, uma região com pêlo.

A prostatectomia radical ou retirada total da próstata pode levar à retração do pênis. “O cirurgião deve estar atento para evitar complicação no pós-operatório para que o homem possa retomar a atividade sexual precocemente”, observa Salim. Ele diz que o uso da bomba de vácuo também pode evitar essa retração.

Atenção

Produtos criados para provocar a expansão do tecido foram desenvolvidos em observação a técnicas de algumas tribos que expandem os lábios e as orelhas, como os Botocudos, e na expansão do pescoço das mulheres-girafas que vivem ao Norte da Tailândia e pertencem ao subgrupo Padaung da tribo Karen.

Baseado nessas observações, de acordo com Salim, foram desenvolvidos produtos e aparelhos para provocar essa expansão, mas além de os resultados não terem convencido a classe médica a lançar mão dessas técnicas, não são aconselhados e podem trazer riscos.

Sexo
O tamanho do pênis não muda o prazer do homem, nem o da mulher. Salim observa que a relevância da dimensão está mais relacionada a autoestima do homem, de ele se enxergar viril e com a capacidade de levar a parceira ao orgasmo. “A vagina tem de 12 a 16 cm de profundidade, mas comporta um pênis maior por causa da característica da elasticidade”, observa.

Ponto de vista feminino

Arquivo Pessoal
Membro do comitê de sexologia da Sociedade Mineira Ginecologia e Obstetrícia, Stany Rodrigues Campos de Paula explica que a ejaculação precoce influencia mais o orgasmo feminino do que a disfunção erétil ou o pênis pequeno (foto: Arquivo Pessoal )
O pênis pequeno, por si só, não vai interferir no prazer da mulher na relação sexual. A sexóloga e membro do comitê de sexologia da Sociedade Mineira Ginecologia e Obstetrícia (SOGIMIG), Stany Rodrigues Campos de Paula explica que a concentração de fibras nervosas que levam à sensação de prazer está localizada no intróito vaginal, ou seja, no primeiro 1/3 da vagina e contempla também a região do clitóris. “O orgasmo não se dá simplesmente pela penetração, mas também pela fricção do clitóris. Nesse sentindo, o diâmetro do pênis influencia mais que o comprimento”, afirma.

Nos 2/3 posteriores a sensação tátil praticamente não existe e, apesar de a vagina ser muito elástica e acomodar pênis maiores que 20 cm, o movimento de fricção vai estimular as fibras dolorosas. “O pênis grande mais incomoda do que leva ao prazer. O pequeno carrega um estigma de menos sex appeal, menos poder. Só que isso está muito mais relacionado com o cultural do que com o biológico. Pensar que os homens com pênis grande têm maior poder na relação sexual é muito mais animal do que relacional”, pontua.

A especialista explica que a ejaculação precoce influencia mais o orgasmo feminino do que a disfunção erétil ou o pênis pequeno porque diminui o tempo da relação sexual. “A queixa da mulher está mais relacionada a isso do que à penetração ou o tamanho do pênis”, diz.

A excitação é o grande facilitador do orgasmo feminino e isso é propiciada pelas preliminares, lubrificação e outros estímulos. “O clitóris é o principal responsável pela excitação da mulher e não a penetração vaginal. Tocá-lo provoca alto índice de excitação e orgasmo”.

Stany ressalta que prazer e orgasmo são coisas diferentes. “Orgasmo é uma sensação elétrica produzida por espamo muscular, que tem uma duração de poucos segundos e provoca uma onda de bem-estar. O prazer está mais ligado à relação sexual em si, ao contato com o corpo do outro”, salienta.

Para ela, é importante desmitificar o poder do tamanho do pênis, já que a média do brasileiro é entre 12 e 14 cm. “Tamanho e potência são coisas bem diferentes”, finaliza.