Especialistas falam da relação entre perfume e personalidade

Entenda como uma escolha expressa gostos pessoais e como frascos tão desejados carregam até valor cultural

por Lilian Monteiro 12/09/2013 13:03

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Qual é o seu cheiro? Não é fácil defini-lo. Encontrá-lo então, pode se tornar missão complicada. A variedade de fragrâncias distribuídas em milhares de frascos nos leva a um universo de opções. E a escolha deve ser criteriosa, porque ela vai falar sobre você. O farmacêutico e bioquímico Cesar Antonio Veiga, coordenador do Núcleo de Avaliação de Fragrâncias de O Boticário, assegura que o perfume serve como um meio de comunicação invisível e silencioso entre os indivíduos. “Quando escolhemos uma fragrância, buscamos um meio para transmitir nossa personalidade, sentimentos e intenções. As fragrâncias são assim, formas que utilizamos para ser percebidos e notados por meio de sensações que causam.” Ele explica que pessoas de personalidade mais retraída tendem a procurar fragrâncias menos invasivas para não chamar a atenção, com predominância das notas musks, bem como os florais frescos. “Já aquelas com personalidade forte apostam nas notas marcantes dos orientais e gourmands. Por isso o mercado disponibiliza grande variedade de opções divididas em famílias olfativas (veja quadro) para facilitar a escolha baseada na predominância das notas de sua composição.”

Natura/Divulgação
A perfumista Verônica Kato diz que o perfume tem um histórico olfativo da memória desde o nascimento (foto: Natura/Divulgação)
Se o olfato é um dos sentidos mais aguçados, o cheiro que exalamos pode ser uma das marcas mais reveladoras de nossa identidade. No entanto, a perfumista da Natura Verônica Kato desmistifica a ideia de que o perfume revela a personalidade. “O cheiro, desde os primórdios, não tinha sexo. O homem usava flores e a mulher madeira. Não tinha perfume masculino e feminino. Essa diferenciação surgiu no fim do século 19, como ação de marketing. Até então, todos usavam o cheiro que gostavam.” Por outro lado, Verônica destaca que o cheiro se processa em telas olfativas que o captam e transferem ao hipotálamo, onde se encontra a memória e a emoção. “Por isso o perfume tem referência emocional, boa ou ruim. E não existe o gosto ou não gosto, mas sim um histórico olfativo da memória desde o nascimento.”

A perfumista ensina ainda que, quando o mercado deu atributos para o cheiro, ele passou a ser associado a determinadas cenas da vida e estilos pessoais. “Cheiros cítricos foram relacionados ao ar livre e esportistas, por exemplo. Para a menina na balada que quer conquistar, a perfumaria vende o conceito adocicado, quente, cheiro de chocolate e açúcar queimado, com notas quentes e sensuais para a noite e por aí vai. O romance lembra flor, então o bouquet floral, notas de gardênia, rosa e jasmim, vão remeter a pessoas românticas.”

CABELO
Além do cheiro, é importante aplicar o perfume de forma correta. Verônica dá dicas preciosas. “Não tem certo ou errado, mas questão de bom senso e bom gosto. Usar o Angie, superdoce, logo pela manhã e entrar num elevador lotado é agressão ao outro. A regra é passar perfume que não invada o espaço do outro.” Outra orientação bacana, é que “quanto maior a área onde usar o perfume e em maior quantidade, com certeza a expansão da fragrância será maior.” A perfumista assegura que não há lugar certo para aplicá-lo. Fala-se em pulso, atrás da orelha, regiões com corrente sanguínea intensa, que proporcionarão a liberação mais rápida porque são mais quentes. No entanto, ela explica que a durabilidade tem a ver com a nota olfativa e a qualidade. Se a nota é cítrica evapora mais rápido, por exemplo. Para encerrar, Verônica ensina que para durar mais o segredo está no último toque. “Faça um spray e vai para debaixo, como num chuveiro. As gotas vão fixar e durar mais. No cabelo porque os fios têm queratina, proteína e o toque de oleosidade. E a roupa porque é uma superfície seca.”

O Boticário/Divulgação
Para o farmacêutico e bioquímico Cesar Antonio Veiga, o perfume é um meio de comunicação invisível (foto: O Boticário/Divulgação)
História milenar
Em São Paulo, foi inaugurado em setembro de 2010 o Espaço Perfume Arte + História, que tem curadoria de Renata Ashcar, numa iniciativa do Grupo Boticário, em parceria com a Faculdade Santa Marcelina (FASM), e é dedicado à história da perfumaria nacional e internacional.

A mostra, permanente, registra 5 mil anos da história do perfume, sua relação com a moda e curiosidades sobre a produção. Aberto ao público, tem acervo com mais de 500 peças históricas, entre objetos originais e réplicas. Dividido em sete núcleos no térreo e três no mezanino, são 20 vitrines, além de equipamentos interativos e multimídias, que proporcionam resgate da memória olfativa e estimulam audição, visão e olfato.

Há ainda ambiente para exposições temporárias. “Escolhemos grandes clássicos da perfumaria, como Chanel 5, Azzaro e Opium, e baseados neles criamos famílias olfativas e categorias para o público entender. Traçamos ainda um paralelo do século 20 entre o perfume e a moda, já que é preciso associar o cheiro de cada época, que é uma expressão cultural. Enfim, é um lugar que leva conhecimento para a comunidade e, asseguro, não existe nada igual no mundo. Há o Museu Internacional do Perfume, em Grasse, na França, mas é fora de mão”, lembra a curadora.

Vale ressaltar que o Espaço Perfume Arte + História também tem um ambiente para exposições temporárias. “Acredito que o perfume é questão de personalidade. Assim como a roupa e a moda, ele expressa a maneira de ser de quem usa. Há, sim, relação entre a pessoa e o perfume, já que ele expressa gostos pessoais.”

O Boticário/Divulgação
O Espaço Perfume Arte História, em São Paulo, é dedicado aos cinco mil anos de história do perfume (foto: O Boticário/Divulgação)


Famílias olfativas
  • Cítricos e fougères – pessoas de personalidade descontraída e cheias de energia
  • Lavandas – discretas e de espírito jovem, podemos dizer que são o curinga da perfumaria, sempre vão bem e em qualquer ocasião
  • Florais – uma grande variedade, desde as de personalidades sensíveis e românticas, com os florais frescos levemente frutais, até as clássicas com os florais marcantes, como a rosa e o jasmim
  • Chypre – personalidade marcante, ousada e única. Demonstra poder e sofisticação com um toque de sensualidade
  • Orientais – personalidade forte, gostam de atrair a atenção por onde passam, deixando uma aura de sedução e poder inconfundível
  • Amadeirados – pessoas de personalidade forte, refinadas e de bom gosto, demonstram sofisticação nos mínimos detalhes